O desafio epistemológico é uma das principais questões para a saúde indígena, afirmou, nesta quarta-feira (10), o professor Uwira Xakriabá, durante conferência para a 76ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), na Universidade Federal do Pará (UFPA), em Belém. Único professor indígena efetivo da UFPA, Uwira Xakriabá vive há mais de 30 anos entre o povo Asurini, no Médio Xingu, em Altamira. Na Conferência “Saúde Indígena: Desafio dos Povos Indígenas”, o pesquisador alertou os participantes sobre o conceito de saúde, que, para os indígenas, é mais amplo do que o conceito usado pelos povos ocidentais.
“Saúde, para nós, está relacionada com a saúde da Terra. A Terra é fundamental para nós, foi quem nos pariu. Não existe saúde indígena sem território. Nossa saúde se desenvolveu desse conceito ampliado do território”, explicou o professor.
Segundo Uwira Xakriabá, esse entendimento diferente do conceito de saúde implica interdisciplinaridade, enxergar as epistemologias indígenas como formas válidas de produzir ciência. O pesquisador avalia que negar esse entendimento contribui para a invisibilização do conhecimento indígena e a consequente desvalorização dos saberes.
“Acho que as discussões das pessoas indígenas, que são muito importantes para nós, facilitam a nossa vida e nos ajudam a compreender questões diversas. E é preciso compreender para não praticar o racismo. Isso é fundamental”, lembrou a professora emérita da UFPA e apresentadora da conferência Jane Felipe Beltrão.
Desafios principais – Além do desafio epistemológico, outras duas questões também estão inter-relacionadas à saúde indígena: os desafios educacionais e científicos e a prestação aos serviços de saúde. “Todos eles são decorrentes desse desafio epistemológico, porque ele vai influir na atenção, na organização do serviço, na formação de uma força de trabalho que possa atuar de uma forma diferenciada, humanizada”, pontuou.
Em sua fala, Uwira Xakriabá ainda afirmou que grande parte dos cursos de formação não tem uma disciplina de saúde indígena e que é preciso fazer alterações no currículo para incluir novas dimensões e formas de pensar.
Diretora de Ciência do Instituto Serrapilheira, do Rio de Janeiro, Cristina Caldas trabalha com a aproximação entre as epistemologias dentro do campo da ecologia e ficou feliz com o conhecimento compartilhado pelo professor.
“Acho que, além de ele problematizar muito bem, de contextualizar, o professor trouxe uma questão histórica, de contexto, de como o tema da saúde indígena foi se construindo. E isso torna muito mais interessante o problema. Por outro lado, o professor também terminou com um posicionamento otimista”, destacou a bióloga Cristina Caldas.