Você já parou para pensar de que forma os nossos genes podem influenciar no resultado de tratamentos médicos? Em razão de uma pesquisa que busca esclarecer como pequenas moléculas que regulam os genes podem interferir na resistência a fármacos utilizados no tratamento de vitiligo, a estudante da Universidade Federal do Pará (UFPA) Camila Vitória Ferreira Mendes recebeu menção honrosa na 4ª edição do Prêmio “Carolina Bori Ciência & Mulher”. O projeto de título “Análise funcional de microRNAs na doença dermatológica Vitiligo” teve como orientador o professor Adenilson Leão Pereira.
O vitiligo é uma doença dermatológica caracterizada por perda de coloração da pele ocasionada pela diminuição ou ausência das células responsáveis pela formação da melanina (pigmento que dá cor à pele). Embora a doença não tenha cura, existem diversas opções terapêuticas capazes de auxiliar no seu tratamento. Com base na análise de dados genéticos de pessoas que passam por esses tratamentos, foi desenvolvido o Projeto “Análise funcional de microRNAs na fisiopatologia do vitiligo”, cujo objetivo é avaliar como os microRNAs (pequenos RNAs não codificantes presentes em todas as células humanas) podem influenciar na fisiopatologia dessa doença.
"Esta é uma doença que causa manchas evidentes na pele e possui um estigma social elevado. A nossa pesquisa foi capaz de identificar determinados microRNAs que estão desregulados no vitiligo, em que alguns deles regulam genes associados à resistência a fármacos à base de corticosteroides tópicos utilizados no tratamento da doença. Portanto os microRNAs identificados em nosso estudo podem estar atuando diretamente na resposta ao tratamento por esses fármacos. Esses achados são importantes, pois sinalizam novas vias para desenvolvimento de novos potenciais alvos terapêuticos para a doença, nesse caso, os microRNAs”, afirma Camila Mendes, estudante do 6° semestre do curso de Medicina do Campus Altamira.
Após os primeiros resultados obtidos, a equipe do projeto, que também conta com outros dois discentes da Famed Altamira, vai expandir as análises para outras doenças dermatológicas para avaliar também a influência dos microRNAs no tratamento de outras patologias, como o melanoma (câncer de pele). A pesquisa está sendo desenvolvida por meio de um Projeto de Iniciação Científica da UFPA (Pibic), coordenado pelo professor Adenilson Leão Pereira, da Faculdade de Medicina do Campus Altamira.
Prêmio Carolina Bori Ciência & Mulher – Criado em 2019, a premiação é uma homenagem da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) às meninas e mulheres cientistas brasileiras que se destacam pelo talento para uma carreira científica promissora. Com 446 candidatas inscritas, a escolha das contempladas na 4ª edição do Prêmio Carolina Bori Ciência & Mulher foi realizada por meio da análise de aspectos como: criatividade e boa aplicação do método científico em projetos de Iniciação Científica e potencial individual de contribuição com a ciência no futuro. No total, foram premiadas três estudantes de ensino médio e seis de graduação, além de terem sido concedidas nove menções honrosas, sendo três para o ensino médio e seis para a graduação.
“Em um país em que a ciência sempre foi desenvolvida predominantemente por homens, ser reconhecida como mulher cientista representa uma quebra de paradigmas, pois evidencia a importância do papel feminino nas ciências. Além do reconhecimento por todo o esforço empregado durante os nossos estudos, também incentiva a continuar a produzir mais conhecimento. Tenho certeza que esse reconhecimento contribui para que outras meninas e mulheres sejam estimuladas a acreditarem em seus sonhos, especialmente dentro da ciência e da academia, que certamente é um ambiente de transformação científica e social”, ressalta a estudante da UFPA, que recebeu a menção honrosa na área de Biológicas e Saúde.
Para a estudante, ter esse reconhecimento do trabalho desenvolvido é primordial para que cada vez mais mulheres e meninas se vejam estimuladas a produzir uma ciência de qualidade, mesmo com os diferentes desafios impostos aos pesquisadores do Brasil, como a escassez de investimento, principalmente para quem vive e produz longe dos grandes centros urbanos do país.
“A importância desse prêmio está no reconhecimento por todo esforço, dedicação e entusiasmo empregados no nosso projeto de pesquisa. A dificuldade em desenvolver pesquisas científicas na nossa região, especificamente no interior do estado, ainda é um fator limitante para que meninas e mulheres assumam o protagonismo na ciência. Apesar da jornada diária intensa da vida acadêmica, a dedicação e o entusiasmo ao nosso estudo foram capazes de sobrepor todas as dificuldades e revelar que é possível meninas e mulheres cientistas paraenses fazerem pesquisa de qualidade. O sentimento é de dever cumprido e a expectativa é de muito trabalho pela frente, sempre almejando o progresso do conhecimento científico e o retorno para a sociedade”, finaliza Camila Mendes.
Texto: Maissa Trajano – Assessoria de Comunicação Institucional da UFPA
Imagens: Freepik e Arquivo pessoal