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TAMANHO DA FONTE

Representantes de diferentes setores propõem caminhos para a construção de um futuro com segurança e soberania alimentar

Para debater “Pesquisa e Inovação em intersecção com o desenvolvimento territorial mais sustentável e a sociobiodiversidade para a produção de alimentos dos povos e comunidades tradicionais”, o espaço Paneiro, da 76ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), recebeu representantes da Embrapa, da Secretaria da Agricultura Familiar, do Instituto Amazônico de Agriculturas Familiares da Universidade Federal do Pará (INEAF/UFPA) e de agricultores familiares dos estados do Ceará, de Minas Gerais e de Pernambuco, que apontaram problemas, soluções e alternativas no uso da tecnologia na agricultura brasileira.

Logo no início do bate-papo, Zaré Soares, pesquisador da Embrapa Cerrados, chamou atenção para os impactos que o uso da tecnologia na agricultura tem causado, uma vez que o avanço tecnológico no campo pode contribuir, de forma negativa, para as mudanças climáticas e  para a circulação de substâncias no solo, como fósforo e nitrogênio. Embora o uso de inovações tecnológicas também tenham impactos positivos, como na produção da agricultura familiar, com a transição para sistemas tecnológicos modernos e mais eficientes.

Para Soares, o maior problema está no atual sistema de produção do agronegócio, que privilegia o uso de agrotóxicos e a exportação da produção, em detrimento das comunidades que possuem sistemas de agricultura familiar e, que, por outro lado, produzem segurança alimentar e nutricional para toda a comunidade brasileira. Recentemente, inclusive, a Embrapa Cerrados divulgou um mapeamento identificando 33 territórios no Brasil onde essa transição para a agroecologia já começa a influenciar o desenvolvimento regional.

Neste sentido,  o diretor da Organização Produtiva e Comunidades Tradicionais da Secretaria da Agricultura Familiar, Anderson Serra, destacou o papel das comunidades de agricultores familiares nos diversos biomas em que elas estão inseridas. “Elas estão enraizadas no ambiente, resultam de uma coevolução histórica e milenar. Essas famílias estabelecem suas estratégias de reprodução socioeconômica por meio de um amplo espectro de ‘meios de vida rural’, não apenas geram emprego ou renda, mas também produzem alimentos e bens. Elas se relacionam com esse ambiente rural, que é físico, que é ambiental, que é social, que é político e que é histórico, para poder realizar os seus meios de vida e, como fruto disso, elas são grandes produtoras de alimento’’, destacou.

Papel da pesquisa científica – Para completar, Anderson Serra aproveitou o espaço de diálogo para colocar em debate o papel das pesquisas científicas para este processo de desenvolvimento no Brasil. Para ele, a falta de financiamento em certas pesquisas científicas acontece como parte de uma estratégia de negligência com assuntos que não são interessantes para a visão dominante de desenvolvimento. “E, por fim, estão sempre atrás de uma agenda. Uma agenda desenvolvimentista, por um tempo. Uma agenda humanista e, mais recentemente, com muita força se misturando com isso tudo, uma agenda ambientalista – ‘agora a agricultura familiar vai ajudar a resolver com a bioeconomia ou sociobioeconomia, resolver o problema do impacto ambiental’-. No final, sempre vai ter como perspectiva uma agenda externa a essas famílias, homogeneizadora e simplificadora’’.

Para o debatedor, é importante que a pesquisa se instrumentalize de metodologias que consigam dar conta de identificar as variedades e as trajetórias que se apresentam na diversidade de biomas e territórios presentes no Brasil e que haja um esforço para identificar e melhorar a condição das famílias nessa pluralidade das comunidades rurais.

Já Antônio Justiniano dos Santos, da Cooperativa de Agricultura Familiar e Extrativista do Vale do Peruaçu (Cooperuaçu), do Vale do Peruaçu (MG), pediu que os acadêmicos dialoguem melhor com os conhecimentos das comunidades rurais. “Costumo dizer que a pesquisa na nossa região é muito rasa. Ela precisa aprofundar um pouco mais. Não só apontar, mas também como fazer ou qual é o propósito”, destacou.

Fortalecimento – Como primeira representante de comunidades tradicionais a falar, Darliene Santos, do Grupo de beneficiamento “Balanço do Coqueiro do Assentamento Maceió’’, do Ceará, chamou atenção para um outro fator que influencia na produção do campo: o êxodo rural. De acordo com Santos, a criação do seu grupo de beneficiamento ajudou na valorização da cultura alimentar local e fortaleceu seu território por meio do beneficiamento do coco, garantindo a permanência no campo com dignidade. 

“A partir dessa produção, tendo em vista a agroecologia como modo de viver e produzir, contamos com produtos agroecológicos produzidos com a nossa matéria-prima, que é fornecida pela própria comunidade e pelo assentamento”, contou. Finalizando o rico debate, Flávio Barros, professor do Instituto Amazônico de Agriculturas Familiares (INEAF) da UFPA, ressaltou: “Na verdade, a academia tem muito a aprender com as práticas, com o modo de vida e com o jeito como as comunidades fazem a sua agricultura, a sua pesca, o seu extrativismo e produzem o seu alimento, geralmente um alimento saudável, sem a presença de veneno. O alimento produzido é muito mais para o bem viver da família e da comunidade e, claro, geralmente o excedente é comercializado. Então a segurança alimentar e a soberania alimentar se fazem nesses sistemas sustentáveis. E nós, da academia, temos que aprender muito com essas comunidades a partir dessas práticas’’.

TEXTO: Suzany Almeida e Gabriel Pinho - Comissão Local de Comunicação da 76ª da Reunião Anual da SBPC

FOTOS: Gabriel Pinho

Relação com os ODS da ONU:

ODS 2 - Fome Zero e Agricultura SustentávelODS 4 - Educação de QualidadeODS 8 - Trabalho Decente e Crescimento EconômicoODS 9 - Indústria, Inovação e InfraestruturaODS 11 - Cidades e Comunidades SustentáveisODS 12 - Consumo e Produção Responsáveis

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