Personagens do folclore amazônico, elementos de palhaçaria e muita música animaram a chegada de mais de 200 crianças ao píer da orla da Universidade Federal do Pará (UFPA), para a 76ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC). Ao todo, 216 estudantes ribeirinhos de escolas municipais das ilhas de Belém atravessaram o rio Guamá em 37 embarcações de várias cores e tamanhos nesta segunda-feira (8), para o primeiro dia de atividades do maior evento científico da América Larina.
Os barcos se concentraram na ilha do Combu e, por volta das 9h30, começaram a chegar à UFPA. Coordenadora do anexo escolar Santo Antônio e responsável por 23 crianças do Ciclo I (do 1º ao 5º ano) e do Ciclo II (do 6º ao 9º ano), Marcele Moreira estava em uma das primeiras embarcações que chegaram à UFPA. “É a primeira vez que nós estamos participando. É um momento de uma experiência nova, de um conhecimento muito valioso e, depois, essa experiência que a gente vive aqui vai ser compartilhada na escola, com as outras crianças”, enfatizou.
A proprietária da embarcação que atravessou com os estudantes da Escola Santo Antônio, Jaqueline da Costa Miranda, de 45 anos, estava acompanhando seus três filhos. Segundo ela, viver isso ficará na memória. “Estou curtindo. É uma experiência nova para mim”, disse.
À medida que as dezenas de barcos iam chegando, as crianças eram direcionadas para a maloca (antiga Capela Universitária) para participar de uma agitada e emocionante roda de carimbó. Todas estavam identificadas e eram supervisionadas para a segurança da atividade.
Encontro com a universidade – Um dos maiores barcos trazia 80 alunos das ilhas de Cotijuba, Paquetá, Jutuba e Jamaci, do entorno de Belém. A coordenadora pedagógica Josiane Azevedo, da Fundação Escola Bosque Eidorfe Moreira (Funbosque), e uma das responsáveis pelas crianças, disse que esta experiência é um ponto positivo para a história de vida delas.
“Isso representa algo que traz valor, conceito, agregando à cultura e rotina desses alunos. Eles estão sendo vistos para o mundo. Um povo que era esquecido e agora está sendo apresentado. Daqui podem sair muitos cientistas, pode ter certeza”, destaca a docente.
Após a apresentação de carimbó, os estudantes ribeirinhos saíram em cortejo para diversos pontos da SBPC, como SBPC Jovem, espaço “Infâncias Mairi na SBPC”, SBPC Cultural e o“Paneiro: Espaço da Cultura Alimentar”.
A coordenadora de Educação Infantil Nilcilene Dias, da Secretaria Municipal de Educação (Semec) de Belém, explicou que, dos 37 barcos, 33 são das ilhas ao sul da cidade e quatro vieram da região de Cotijuba. Para avaliação dela, isso representa o fortalecimento de uma política pública de educação do campo, das águas e das florestas.
“Isso, para eles, é o reconhecimento dessa identidade que existe, que pertence a Belém, que tem as suas especificidades, os seus tempos, os seus ritmos”. Nilcilene Dias afirma também que esses estudantes, muitas vezes, não conhecem a própria universidade pública e, por isso, ações desse tipo são importantes.
Já a secretária Municipal de Educação da Semec, professora Araceli Lemos, aproveitou o momento para afirmar a importância de atividades como a de hoje fazerem parte do projeto político-pedagógico em andamento. “Estamos dando uma demonstração concreta de que é necessário e urgente a inclusão de crianças e de jovens no debate sobre a ciência”, pontuou.