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TAMANHO DA FONTE

Pratos tradicionais do almoço do Círio são heranças de misturas culturais

"pato"

Os tradicionais pato no tucupi e a maniçoba, considerados comidas típicas regionais originárias de práticas alimentares indígenas, passaram por mudanças na forma do preparo adquiridas da cozinha portuguesa. A mistura resultou em uma culinária paraense caracterizada como uma "cozinha mestiça". É o que afirma  a tese de doutorado do Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal do Pará realizada pela professora Sidiana Macedo.

Intitulada A cozinha Mestiça: uma história da alimentação em Belém – fins do século XIX a meados do século XX, a pesquisa aponta que o pato no tucupi tem origem nos grupos indígenas, mas, aos poucos, foram sendo incorporadas técnicas do assado à moda portuguesa. Os índios consumiam o pato apenas cozido no tucupi, com farinha e pimenta. A produção em duas etapas, primeiro assar, depois cozer no molho de tucupi, a incorporação da folha do jambu, de temperos e o acréscimo de arroz são influências portuguesas.

Sobre a maniçoba, a tese afirma que já era consumida desde o século XVI.  Originariamente, misturava-se a maniva, após cozida, com peixe e temperava-se com pimenta. Com o passar do tempo, passou a ter em sua composição o toucinho português,  outros temperos e o refogado, seguindo o padrão português de fazer guisado.

A pesquisadora afirma, ainda, que não se pode pensar a maniçoba apenas como uma especialidade do Pará. A receita de maniçoba é encontrada no Recôncavo Baiano como uma prato típico da região.  A maniçoba do Recôncavo tem preparo e ingredientes semelhantes à produzida no Norte, diferindo em alguns pontos, sendo a baiana um pouco mais seca e servida apenas com farinha fina.

Círio – A pesquisa faz, também, um levantamento a respeito das receitas servidas nos restaurantes e cafés de Belém durante as festividades do Círio de Nazaré. Em 8 de outubro de 1887, dia do Círio, o "Café Chic" anunciava que, desde as seis horas da manhã, ofereceria aos romeiros chocolate, café com leite, chá com torradinha, doces e fatias de bolos.

No Arraial de Nazaré, no Círio de 1927, na Barraca da Santa, o cardápio ofertava aos fregueses o "Pato no Tucupy, Camarão ao molho Bechamel, Caruru à maranhense, Galatine de galinha, Mussuan com pimenta, Peru assado com fiambre e Gateau de banana".

Aceitação de misturas – A tese aponta que todas essas transformações percebidas nos pratos típicos do Círio de Nazaré, ao longo do tempo, revelam que a cozinha do Pará é resultado de aceitação de misturas e de permanência das tradições. "Nossa comida não é pura, é resultado de mestiçagem que enriquece a cozinha paraense", afirma a historiadora.

Texto: Divulgação
Foto: Reprodução Google

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