No período de 27 a 29 de junho de 2025, a Aldeia São Pedro, localizada no município de Capitão Poço (PA), foi palco de uma grande celebração com a realização do III Ciclo de Saberes da Aldeia, encontro que reuniu formadores que atuam como docentes da Universidade Federal do Pará (UFPA), professores indígenas e mestres de notório saber em um diálogo sobre práticas de ensino e aprendizagem. A realização do Ciclo de Saberes da Aldeia busca possibilitar a vivência de profissionais nas aldeias, para uma compreensão das perspectivas de educação para os povos indígenas e debate sobre as principais demandas, sobretudo a respeito do que se entende por educação territorializada.
Para tanto, o evento contou com a presença de discentes do curso Licenciatura Intercultural Indígena, ofertado pela Faculdade de História do Campus Bragança por meio do Parfor Equidade da UFPA, com turmas do povo Tembé (Capitão Poço) e do povo Amanayé (Aldeia Barreirinha, Goianésia do Pará), além de gestores da UFPA, representantes do Ministério dos Povos Indígenas, da Secretaria de Educação de Capitão Poço e da URE/Seduc Capitão Poço, e de docentes indígenas e mestras(es) de notório saber.

Entres os temas de debate, estiveram: a alternância pedagógica, ressaltando a importância da natureza, da roça, das marés e da lua para a organização do cotidiano dos povos indígenas; uma educação territorializada, com uma forma de ensino pensada com base nos territórios e modos de vida indígenas, valorizando os saberes locais; a promoção de um diálogo intercultural, para possibilitar um novo lugar para o professor no ensino superior, considerando a produção de conhecimento dos povos indígenas para o ensino; a valorização das línguas indígenas, compreendidas como dispositivo identitário fundamental, indo além de uma simples homogeneização linguística ocidental; a dupla docência, partilhada entre professores da Universidade e professores indígenas e mestres de notório saber; e a transformação da Universidade, com a modificação da lógica tradicional de disciplinas, as aulas e a compreensão do tripé ensino, pesquisa e extensão.
“A Universidade se transforma com essa experiência, repensa suas metodologias, transforma suas práticas didáticas e aprende com os indígenas novas epistemologias, mais próximas da realidade amazônica”, lembra o professor Marcio Douglas Brito Amaral, coordenador-adjunto do Parfor/UFPA. A expectativa é que a experiência resulte em um novo planejamento linguístico, com o aprimoramento do aprendizado da língua indígena por meio do curso ofertado pela UFPA, além da ampliação e institucionalização dessa experiência por meio de um calendário do tempo aldeia/comunidade, capaz de articular debates sobre temas como as vivências e percepções das(os) estudantes nas aldeias.
O Parfor Equidade é uma ação da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) que pretende formar professores em licenciaturas específicas para atendimento das redes públicas de educação básica ou das redes comunitárias de formação por alternância, com oferta da educação escolar indígena, quilombola, do campo, especial inclusiva e bilíngue de surdos.


Ciclo de Saberes – A realização do Ciclo de Saberes surgiu já na construção do Projeto Pedagógico do Curso de Licenciatura Intercultural Indígena, ofertado por meio do Parfor Equidade, para a promoção de um diálogo intercultural entre docentes indígenas e não indígenas, com a troca de experiências entre diferentes ambientes acadêmicos e territórios indígenas.
A primeira edição do evento foi realizada na Aldeia Frasqueira, com a imersão docente da UFPA, docentes e estudantes indígenas, mestres de notório saber e lideranças Tembé e Amanayé. O evento contou com a participação da especialista indígena Chiquinha Paresi, da professora Júlia Otero e do professor Poró Borari, que, em diferentes momentos, proporcionaram a troca de conhecimentos sobre cosmologia indígena para um melhor entendimento acerca da dimensão da educação intercultural para os povos indígenas.
Já a segunda edição do Ciclo de Saberes ocorreu no formato virtual, com a participação de três professores indígenas – Eliel Benites, Almires Guarani e Honésio Mundurucus -, que, com a professora Roseane Fernandes, abordaram metodologias ativas para o estabelecimento de um diálogo entre os Saberes Indígenas e os Saberes Científicos, considerando a importância da educação indígena para a formação de futuros líderes dos povos Tembé e Amanayé.
Por sua vez, a edição da Aldeia São Pedro contou com a presença de gestores da UFPA, como Doriedson Rodrigues, secretário-geral da Reitoria; Fátima Pessôa, da Pró-Reitoria de Ensino de Graduação (Proeg); Adolfo Oliveira Neto, da Pró-Reitoria de Extensão (Proex); Isabel Cabral, da Superintendência de Políticas Afirmativas e Diversidade (Diverse); Julieta Jatahy, do Centro de Indicadores Acadêmicos (Ciac); Márcio Douglas Amaral, do Parfor Equidade; Auriene Arapium, da Associação de Estudantes Indígenas (Apye); e dos representantes do Ministério dos Povos Indígenas, Edilson Baniwa; da Secretaria de Educação de Capitão Poço, Francisco Amadeu Torres; e da URE/Seduc Capitão Poço, Jeane Aquino, que puderam trocar experiências com os professores e notórios saberes indígenas Francisca Tembé, Lourdes Tapajós, Seu Kelé, Félix Tembé, Ronaldo Amanayé e Kamiran Tembé. No III Ciclo de Saberes da Aldeia, o debate se voltou para o planejamento linguístico, os desafios para a pedagogia da alternância e a inserção dos alunos e professores do curso nas discussões sobre a Cop 30 e as mudanças climáticas.