Instituto de Filosofia e Ciências Humanas promove encontro sobre Mudanças Climáticas e Saúde Mental

Os efeitos da crise climática na saúde mental foram o principal tema do encontro de especialistas das áreas da saúde e demais autoridades, promovido pelo Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH), durante o primeiro dia de eventos que integram a Cúpula dos Povos na Universidade Federal do Pará (UFPA).

“É extremamente importante a gente trazer a temática das mudanças climáticas e da saúde mental. Tudo que a gente tem trabalhado aqui está pautado nas pesquisas que a gente vem desenvolvendo”, pontuou Izabela Jatene,  professora do IFCH.

De acordo com os estudos apresentados pelo especialista Alessandro Massazza, os impactos de eventos climáticos extremos na saúde mental podem afetar os indivíduos de duas maneiras: diretamente, quando expõe as pessoas a eventos potencialmente traumáticos – como aqueles que resultam em ferimentos graves e morte – e que aumentam os riscos de transtorno do estresse pós-traumático, depressão e ansiedade; e indiretamente, ao agravar determinantes sociais da saúde mental, como moradia, emprego, entre outros.

Outro aspecto apontado nas análises de Massazza é o quanto o calor extremo pode afetar o bem-estar psicológico, que, nos últimos anos, foi responsável pelo aumento das taxas de mortalidade entre pessoas com condições de saúde mental pré-existentes, bem como aumento das internações hospitalares (pelo mesmo motivo), e aumento das taxas de suícidio ou comportamento suicida. Neste cenário, surgem novos termos para denominar as respostas psicológicas e emocionais às mudanças climáticas, como: angústia climática, ecoansiedade, luto ecológico e ansiedade climática.

Sobre o último termo, a professora Cassia Vieira – assistente social do Amazonas que compôs uma das mesas de debate do evento e apresentou sua pesquisa sobre as comunidades tradicionais de Parintins – explicou que, dentro do âmbito de saúde mental, as pessoas têm apresentado muitas preocupações acerca do futuro. “Principalmente da juventude, essa preocupação está nascendo: o que vai ser do futuro? O que o futuro me reserva? Por que vou viver em uma realidade que está fadada ao sofrimento?”, refletiu a professora, que percebeu em seus estudos um aumento na taxa de suicídios entre os jovens. “Essa ansiedade climática é muito crescente e precisa ser mais debatida, por isso é importante que a gente fale dessa realidade e que consiga de fato dar um suporte para essa população”, completou.

“É importante termos trazido vozes para ecoar a partir dos seus territórios: tivemos vozes de Norte a Sul, que são parte da nossa pesquisa”, declarou a docente se referindo à presença de duas lideranças Kumaruara presentes no encontro, a professora Luana Kumaruara e a cacica Arlete Kamaruara, que abordaram os efeitos das secas no Tapajós e como isso afetou as pessoas do território.

A professora Izabela também citou a participação da professora Tatiana Camargo, docente convidada da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, que falou sobre a experiência das pessoas que viveram as enchentes do RS. “A palestra que tivemos do Alessandro mostra a importância de que esse tema esteja presente nas discussões, sobretudo nos documentos que pautam a COP”, declara a professora Izabela. 

Dia da Saúde – Conforme Massazza pontuou, no Acordo de Paris está incluído o “Objetivo Global de Adaptação”, que visa aumentar a capacidade adaptativa, fortalecer a resiliência e reduzir a vulnerabilidade às mudanças climáticas. Em contrapartida, a saúde mental não está incluída na maioria das políticas nacionais de adaptação de mais de 190 países e, quando incluída, consta de forma superficial, sem ações de adaptação correspondente. 

“O tema (saúde mental) é novo no que se refere à questão do clima. A gente precisa entender o que acontece com as pessoas considerando os eventos climáticos e o seu cotidiano, refletir sobre as questões de como nós podemos influenciar e marcar a presença da saúde mental nos documentos referentes ao clima”, enfatizou a professora Izabela Jatene.

No “Dia da Saúde” na COP 30 (13/11), devem ser apresentadas, oficialmente, metas e documentos de apoio produzidos em parceria com a sociedade civil e redes científicas. Entre eles, está o Plano de Ação de Saúde de Belém (The Belém Health Action Plan for the Adaptation of the Health Sector to Climate Change), que inclui uma seção sobre a integração da saúde mental na adaptação às alterações climáticas no setor da saúde. O plano também possui uma ação sobre saúde mental dos trabalhadores, sobre o bem-estar psicológico das crianças e sobre os cuidados psicossociais durante e após emergências climáticas. O documento deve ser endossado pelos países participantes do evento.

Historicamente, a saúde psicológica tem estado ausente das COPs. No entanto, nos eventos mais recentes, ela tem aumentado em visibilidade. Com isso, ações de mitigação e adaptação podem ter benefícios profundos para o bem-estar mental e, portanto, uma ação climática ambiciosa pode também salvaguardar a saúde mental. “Esperamos que, cada vez mais, esse tema seja incorporado nos documentos oficiais e que as políticas públicas o incorporem mais, para que tenhamos recursos que nos permitam atuar efetivamente e criar alternativas para as questões de saúde mental, que,  muitas vezes, têm um impacto climático”, concluiu a professora Jatene.

TEXTO: Tahis Cristine - Assessoria de Comunicação Institucional da UFPA

FOTOS: Tahis Cristine - Assessoria de Comunicação Institucional da UFPA

Relação com os ODS da ONU:

ODS 3 - Saúde e Bem-EstarODS 13 - Ação Contra a Mudança Global do Clima

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