O poder feminino em busca de uma sociedade mais equitativa e justa diante das mudanças climáticas deu o tom das discussões durante a Cúpula das Mulheres Indígenas do Mundo, realizada na última sexta-feira, 14, em Belém. A plenária integrou a programação oficial da Aldeia COP, evento promovido na Escola de Aplicação da Universidade Federal do Pará (EAUFPA), que resulta de uma parceria entre a UFPA, o Ministério dos Povos Indígenas (MPI), a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), a Federação dos Povos Indígenas do Estado do Pará (Fepipa) e a Secretaria de Estado dos Povos Indígenas do Pará (Sepi).
Uma bênção das Mulheres Guajajaras marcou o início da cerimônia, com ênfase na espiritualidade e no respeito à cultura dos povos tradicionais. Joziléia Kaingang, diretora executiva da Articulação Nacional das Mulheres Indígenas Guerreiras da Ancestralidade (Anmiga), reforçou que o principal objetivo do evento foi colocar no centro do debate as reivindicações das mulheres indígenas, com propostas para elas e para a sociedade como um todo. “O que nós desejamos, enquanto debate e incidência, é um futuro possível para os nossos povos, mas também pra toda a humanidade”, frisou.


As participantes destacaram a importância da articulação internacional nos debates sobre as urgências climáticas realizados na capital paraense. Ceiça Pitaguary, secretária nacional de Gestão Ambiental e Territorial Indígena do Ministério dos Povos Indígenas (MPI), reforçou a importância da COP 30 como momento decisivo para a implementação de medidas de enfrentamento às mudanças climáticas, e para que isso ocorra efetivamente, é necessário que as mulheres sejam ouvidas.
Puyr Tembé, secretária estadual dos Povos Indígenas no Pará, destacou que, além de todo o processo de construção de propostas de mitigação aos danos ambientais na Amazônia, existe um outro ponto importante, que é o intercâmbio de ideias e de experiências entre os povos. Para mulheres de diferentes regiões do país e do mundo, as pautas discutidas na cúpula e as proposições apresentadas na Aldeia COP significam uma oportunidade histórica de reflexão e de união feminina e indígena.
A plenária do dia 14 deixou as participantes à vontade para a realização de questionamentos, pedidos de apoio e para que pudessem denunciar abusos, bem como pleitear ações emergentes em suas comunidades.




Aldeia COP – Povos indígenas do Brasil e de outros países estão participando da Aldeia COP. O espaço, criado especialmente para receber as delegações, que constituem cerca de três mil pessoas de várias etnias, foi aberto no último dia 12 e segue até o final da COP, nesta sexta-feira, 21.
A ministra dos Povos Indígenas do Brasil, Sônia Guajajara, afirma ser de extrema relevância a escuta das comunidades tradicionais durante os debates que decidirão o futuro da Amazônia e do planeta. “Tudo o que foi discutido e apontado como solução, até aqui, não foi suficiente para reduzir as emissões e diminuir a temperatura média global do planeta. Até agora, nada foi o suficiente. Por isso é importante escutar a ciência, mas também considerar quem realmente está protegendo. E, neste caso, todos os estudos mostram que povos indígenas são fundamentais para enfrentar a crise climática”, acentuou.
A ministra destaca também a importante parceria com a Universidade. “No decorrer do diálogo, da parceria e de toda essa abertura que a Universidade deu para nós, a gente entendeu que estamos construindo mais do que um espaço físico. É uma relação que fica para toda essa construção que a gente precisa fazer para o futuro. A UFPA está sendo muito significativa para a gente, apoiando muito em toda a construção, apoiando muito em todo esse acolhimento. E aqui também fica o nosso compromisso de deixar legado nesta escola”, enfatizou Guajajara.
Para o diretor da Escola de Aplicação da UFPA, Edilson Nery, a Aldeia COP é motivo de orgulho para a instituição. “Este é um marco na história da nossa escola. Nesses mais de 60 anos de fundação, é a primeira vez que nós recebemos um evento deste porte. E, como um espaço de formação de cidadãos e cidadãs, receber os povos originários é também uma grande ação prática daquilo que nós estudamos e desenvolvemos ao longo dos anos”, enfatiza.
O manauara Davison Silva, cientista social e produtor da Aldeia COP, que já atuou em outros projetos pelo Brasil, destaca que este, em particular, é especial, porque as populações tradicionais estão integradas em todo o processo. “Eu acho importante falar que os povos indígenas estão liderando este trabalho, desde a escala política até a de produção, para que possamos entregar um resultado com qualidade e em um tempo hábil”, frisou. “Além de querer proporcionar um espaço que aloje 3 mil pessoas, a gente quer entregar algo diferente, que as pessoas nunca viram, que seja inclusivo e acolhedor”, concluiu.

Estrutura assinada por Marcelo Rosembaum – Além de alojamento completo, a Aldeia COP inclui, entre os principais destaques do espaço, a Casa Ancestral, lugar de realização de métodos de medicina tradicional e religiosidade; e o Domo, principal centro de plenárias e debates, além de pontes de palafita e espaços abertos de convivência. Todos ficarão de legado da conferência para os estudantes e servidores da instituição.
A beleza das estruturas, que receberam toques amazônicos e grafismos indígenas, chama a atenção de quem visita o lugar. O projeto é assinado pelo arquiteto Marcelo Rosembaum, que tem experiência na criação e na intervenção arquitetônica com base no olhar de comunidades tradicionais, como a do povo Yawanawá, no estado do Acre. Ele visitou o espaço no começo de novembro e falou com a equipe de reportagem do Movimento Ciência e Vozes da Amazônia na COP 30 (confira um trecho da entrevista no vídeo compartilhado na reportagem).

