A Universidade Federal do Pará (UFPA) realizou, nos dias 2 e 3 de julho, o evento “As Contribuições da Amazônia para a COP 30”, que reuniu lideranças acadêmicas, políticas e da sociedade civil em um esforço coletivo para colocar a região no centro do debate climático global. A iniciativa faz parte da programação oficial do Movimento “Ciência e Vozes da Amazônia na COP 30”, lançado pela UFPA, em fevereiro, com o objetivo de fortalecer o protagonismo dos povos amazônicos, dos cientistas e das instituições locais nas negociações que ocorrerão em novembro, durante a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, em Belém (PA).
Com apoio de universidades, redes de pesquisa e movimentos sociais, o evento propôs reflexões sobre o papel estratégico da Amazônia no enfrentamento da crise climática, abordando temas como justiça ambiental, conhecimento tradicional, políticas públicas e desenvolvimento sustentável. Durante a abertura do evento, o reitor da Universidade Federal do Pará (UFPA), Gilmar Pereira da Silva, destacou que a realização da COP30 em Belém é uma conquista estratégica não apenas para a Amazônia, mas para todo o Brasil.
Em sua fala, o reitor reafirmou o compromisso da UFPA com a promoção de um debate climático amplo, democrático e enraizado nos territórios, defendendo o protagonismo dos povos tradicionais, das universidades amazônicas e da ciência produzida na região. Ao mesmo tempo, enfatizou a importância de integrar os esforços das instituições de todo o país, promovendo uma resposta coletiva e articulada à emergência climática global. Para ele, a realização da Conferência na Amazônia é uma chance única de colocar a região no centro das soluções, e não apenas dos problemas, com base na justiça climática e no diálogo entre diferentes saberes.

“A realização da COP30 na Amazônia representa uma oportunidade histórica para que o mundo escute, com atenção e respeito, as vozes dos povos da floresta, das comunidades tradicionais e das instituições científicas que há décadas constroem conhecimento a partir deste território. Mas esse protagonismo regional não se contrapõe à colaboração nacional — ao contrário, reforça o compromisso coletivo com um futuro sustentável. A UFPA acredita que o enfrentamento da crise climática deve ser construído em rede, de forma plural, integrando os saberes da Amazônia com os esforços de todas as regiões do Brasil e com as experiências internacionais que compartilham da mesma urgência: proteger a vida no planeta”, enfatizou Gilmar Pereira da Silva.
O reitor reforçou, ainda, que não faz sentido realizar uma COP na Amazônia sem o envolvimento direto dos povos tradicionais e das instituições locais. “Fazer uma COP na Amazônia, no Pará, sem discutir com os povos, com as universidades e com os indígenas não faz sentido. É fundamental que essas vozes estejam no centro”.




Pavilhão de Ciência na Conferência Mundial do Clima – Para a diretora-executiva da COP 30, da Presidência da República, Ana Toni, a realização da Conferência do Clima em Belém deve marcar uma mudança significativa na forma como o debate climático é conduzido: das grandes negociações internacionais para ações concretas lideradas pela sociedade civil. “A COP é um processo. E esse processo começou lá atrás, em 1992, no Rio de Janeiro, com a Convenção do Clima. Durante muito tempo, esse foi um movimento de cima para baixo, com decisões tomadas nos grandes fóruns internacionais. Mas acho que aqui, em Belém, isso vai mudar. Agora o movimento está vindo de baixo para cima”, afirmou Ana Toni, que participou da mesa “Contribuições da Amazônia para a Transição Justa”.
A diretora destacou, ainda, que, embora as convenções oficiais e as negociações diplomáticas continuem sendo essenciais, a mobilização popular e territorial tem ganhado protagonismo nas transformações práticas. “A gente está vendo isso acontecer no Brasil inteiro e também em outros países: é um movimento baseado em ações concretas, baseado no povo. É a ciência dialogando com a sociedade. É uma parceria real”, disse.

Como exemplo desse novo formato, Toni anunciou a criação de um Pavilhão de Ciência durante a COP 30, um espaço inédito no evento que vai dar mais visibilidade à produção científica brasileira e amazônica. “Sempre existe o Pavilhão do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas), mas nunca houve um Pavilhão de Ciência como esse que está sendo pensado agora. E, além dele, teremos também o Pavilhão Brasil, que será mais uma oportunidade de mostrar nossas iniciativas. Estamos nos organizando em um grande mutirão, e o trabalho que as universidades estão fazendo é parte essencial disso. Cada um de nós tem um papel no combate à mudança do clima. Todo mundo pode fazer parte do mutirão”, afirmou.
Para ela, é preciso romper com a ideia de que o tema climático se resume a duas semanas de negociações por ano. “A mudança do clima não é algo que acontece só por duas semanas, uma vez por ano ou em uma conferência distante. Esse tipo de Pré-COP, como foi dito pelo reitor, a própria COP e, principalmente, a Pós-COP é que vão fazer a diferença. Precisamos mostrar às pessoas que elas fazem parte da solução. Esta, acredito, será a marca da COP 30”, concluiu Ana Toni.


Vozes da Amazônia – O evento também contou com a participação da cientista social Edna Castro, presidente da Sociedade Brasileira de Sociologia (SBS) e pesquisadora do Núcleo de Altos Estudos Amazônicos (NAEA/UFPA). Ela ressaltou a importância da ciência produzida na Amazônia para compreender e enfrentar os desafios impostos pelas mudanças climáticas, destacando o protagonismo das universidades amazônicas e a necessidade de um compromisso duradouro com a pauta ambiental.
“A nossa fala daqui, da Amazônia, sobre a ciência é fundamental. A ciência tem uma contribuição decisiva para entender esse processo. São temas muito complexos, que envolvem física, geologia e tantos outros campos”, afirmou. Segundo Edna, os estudos em curso permitem traçar diferentes cenários climáticos, alguns mais otimistas, outros mais críticos, mas todos eles realistas e urgentes. Ela também destacou o envolvimento de pesquisadores da região, em redes nacionais e internacionais, que tratam da emergência climática, o que reforça o comprometimento acadêmico com o debate.
“Temos professores e pesquisadores participando ativamente de redes científicas que discutem essas questões. Há um compromisso da Universidade com a COP 30, mas, mais do que isso: há um compromisso permanente com o debate ambiental. A COP 30 é parte desse processo, mas ele vai além”, concluiu.

União de regiões – A reitora da Universidade Federal de Goiás (UFG), Angelita Pereira Lima, que iniciou a mesa de abertura do evento, ressaltou a importância da região do Cerrado brasileiro para a Conferência do Clima, em novembro deste ano. Segundo ela, o Movimento Ciência e Vozes da Amazônia na COP 30, liderado pela UFPA, tem papel de destaque neste sentido. “Não fosse esta iniciativa, não estaríamos tendo a oportunidade de alcançar a visibilidade que tanto estamos precisando”, pontuou a reitora.
Segundo ela, é preciso compreender a grandeza do Cerrado, uma região formada por mais de dois milhões de quilômetros quadrados, além de compor 22% do território brasileiro, sendo o segundo maior bioma da América Latina, e, fundamentalmente, influente para as grandes bacias hidrográficas do país, principalmente a da Amazônia, com o Complexo Araguaia-Tocantins e o Aquífero Guaraní.
“Queremos dizer que, se estamos discutindo as mudanças climáticas, a preservação ambiental e, se precisamos de tamanho envolvimento social, inclusive das universidades, pautando a COP 30 com essas questões, o Cerrado não pode ficar de fora”, assinala Angelita. Ela assegura que o Instituto Nacional do Cerrado, que está sendo pleiteado pela UFG, será a voz do Estado brasileiro em defesa dessa região, até porque, segundo a reitora, “defender o Cerrado é defender a Amazônia”.

COP em Belém – O secretário de Educação Superior substituto, Adilson Santana de Carvalho, que representou o ministro da Educação, Camilo Santana, defendeu a escolha de Belém como sede da Conferência da ONU sobre o Clima. Para ele, isso significa o reconhecimento da importância estratégica da região para o futuro do planeta. “A COP 30 sendo realizada em Belém, no estado do Pará, no Brasil, é um reconhecimento da importância do país e da Amazônia. É uma oportunidade de visibilidade, de colocar no centro das decisões as questões amazônicas, não apenas como tema, mas também como referência real para a formulação de políticas globais”, afirmou.
Adilson Santana de Carvalho também destacou o papel das universidades no processo de transformação social e ambiental. Para ele, as Instituições de Ensino Superior devem atuar como vetores do desenvolvimento regional. “A Universidade tem um papel central, como produtora de conhecimento, cultura e integração. Ela é um motor de desenvolvimento nas dimensões econômica, social, cultural e pessoal”, apontou.

Neste sentido, o secretário executivo da COP 30 e representante da Prefeitura de Belém, André Godinho, aproveitou o encontro com reitores e pesquisadores para fazer um convite direto a todos os que estão se preparando para a Conferência do Clima, para olharem para Belém com empatia, respeito e compromisso, além de ter agradecido a presença dos representantes da comunidade acadêmica e das instituições de pesquisa, destacando a importância do diálogo entre governos e universidades no processo de organização da COP.
“Me sinto extremamente lisonjeado por dividir esse espaço com tantos reitores e representantes da ciência. Até novembro, teremos muitos outros encontros como este”, disse. E completou: “Todas as pessoas que têm vindo até Belém — embaixadas, organismos internacionais — saem daqui encantadas, não só pela infraestrutura que está sendo construída, mas também pelo calor humano do nosso povo. A simpatia, a hospitalidade, a riqueza cultural e a gastronomia de Belém são um ativo que poucos lugares do mundo têm”, afirmou.
A programação é realizada no Instituto de Ciências Jurídicas (ICJ) – Auditório José Vicente Miranda, na UFPA, em Belém. Outros detalhes, você confere em: https://amazonianacop.ufpa.br