A última reportagem do UFPA em Série – Dia do Tradutor trás como tema um trabalho da poeta, pesquisadora e professora de Literatura Portuguesa da UFPA, Izabela Leal, que produziu, em 2012, o artigo “O canto das Sereias e a embriaguez do tradutor”. Até o próximo UFPA em Série!
Para os românticos alemães, a tradução tem um caráter fundador, estando associada ao próprio conceito de Bildung, como já assinalava o teórico Antoine Berman. A Bildung remete necessariamente à dimensão da experiência, processo de desdobramento e alargamento que encontra uma metáfora perfeita na noção de viagem, tão cara aos românticos.
Tal movimento de travessia que constitui a inquietante "tarefa do tradutor" pode ser entendido como uma navegação por essa região nebulosa onde se ouve o canto das Sereias e, como pensava Maurice Blanchot, corre-se o risco do desaparecimento.
Segundo a pesquisadora Izabela Leal, a tradução assume uma função diferente dependendo do autor em questão. Há uma ideia para a qual os pensamentos dos autores alemães, em geral, convergem: a ideia de abertura. Traduzir é, necessariamente, um ato de abertura em direção ao outro, uma outra língua, outra cultura.
“A cultura alemã tem uma particularidade interessante. Ao contrário da maioria das outras culturas, como a italiana e a portuguesa, por exemplo, em que a língua é fixada a partir de um autor nacional, no caso Dante e Camões, a língua alemã foi fixada por uma obra traduzida, a Bíblia de Lutero”, explica Izabela.
Esse fato, de alguma forma, fundou uma espécie de consciência a respeito da necessidade de abertura em direção ao estrangeiro, e provavelmente determinou a centralidade desse tema para importantes escritores e filósofos, como Humboldt, Goethe, Schleiermacher, Novalis e Hölderlin.
Bildung significa, ao mesmo tempo, formação e cultura. “É um termo interessante para pensarmos o ato de tradução, sobretudo pela relação com a viagem, outro tema importante para o romantismo alemão, a viagem como princípio de formação do sujeito”, completa.
A tradução implica na efetivação do movimento da viagem, o tradutor tem que sair da sua zona de conforto, sua língua e sua cultura, para adentrar no território estrangeiro, efetuando em seguida um movimento de retorno, mesmo sabendo que aquele que retorna não é nunca o mesmo que partiu.
Resultados – No artigo é proposta uma discussão a partir de um poema de Henri Michaux intitulado "Traduction", que evoca o tema da viagem, e no qual a pesquisadora percebe alguns "ecos" da Odisseia. É um poema instigante, cheio de neologismos, onde vemos o poeta experimentando a própria língua, expandindo-a, forçando os seus limites, ou seja, exatamente o que faz uma tradução.
Izabela Leal conta que pesquisa a relação entre poesia e tradução desde o doutorado. “Atualmente venho desenvolvendo um trabalho artístico que, por vezes, também percorre o caminho da tradução. São as videoartes Nam Sibyllam e Entre o anjo e o polichinelo, realizadas em parceria com Galvanda Galvão, que mencionam traduções realizadas pelos poetas Mário Faustino e Paulo Plínio Abreu”.
A pesquisadora tem três livros sobre tradução publicados e organizados em parceria com colegas: Tradução literária, a vertigem do próximo (com Ana Alencar e Caio Meira, 2011), No horizonte do provisório: ensaios sobre tradução (com Walter Costa e Mayara Guimarães, 2013) e Tradição e tradução: entre trânsitos e saberes (com José Guilherme Fernandes e Sylvia Trusen, 2016).
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Texto: Elizandra Ferreira – Assessoria de Comunicação da UFPA
Ilustrações: Reprodução / Google