A conta de luz, o peixe mais caro e escasso, o período de chuvas que começa mais cedo, mais pobreza e desemprego. Todos esses fenômenos estão ligados a grandes empreendimentos nacionais implantados na Amazônia. E se eles parecem distantes de parte da população, há os que são diretamente afetados por eles: os atingidos por barragens. Gente que se reuniu esta semana na Universidade Federal do Pará, em Belém, para refletir sobre o que está acontecendo e debater como lidar com os impactos dos grandes projetos, principalmente hidrelétricos, instalados na área que abrange a maior floresta tropical do mundo, a maior reserva de água doce do globo e uma infinidade de povos e culturas específicas que aprenderam a se desenvolver em equilíbrio com o meio ambiente.
Para pessoas como o Raimundo Ferreira, agricultor em Tracuateua, no nordeste do Pará, todos precisam participar desse tipo de debate. “Aqui temos já dois grandes empreendimentos, duas grandes hidrelétricas e ainda pagamos muito caro pela energia. Projetos que desmatam, poluem rios, afetam a vida das pessoas e afetam minha vida também, por isso eu vim aqui saber mais sobre tudo isso e o que podemos fazer a respeito”.
A sede do encontro entre os povos e as comunidades tradicionais, como pescadores, quilombolas, indígenas, assentados, agricultores e pesquisadores, foi na UFPA, um lugar que é tradicionalmente palco de reflexões sobre os impactos que as barragens trazem para a Amazônia e o amazônida.
“É importante que este debate aconteça na UFPA para colocar juntos os acadêmicos que refletem e pesquisam esta realidade e as pessoas que vivem e também que são atingidas por projetos que, com frequência, não geram desenvolvimento social e econômico para a região e para os povos da Amazônia, como também têm comprometido as condições para a vida e para o desenvolvimento desses povos e da região como um todo”, pontuou o reitor da universidade, Emmanuel Tourinho.
Se o Encontro Nacional dos Atingidos por Barragens foi sediado na região emblemática para o tema, a coordenação do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) lembra que os impactos que elas trazem afetam todos os brasileiros. "Todos somos atingidos pela agressão que determinados setores fazem sobre a Amazônia, gerando um cenário de destruição. E há mais projetos previstos para todas as bacias amazônicas. O que acontece aqui afeta a todos. Após o chamado ‘dia do fogo’, quando a floresta foi queimada em proporções de forma orquestrada, São Paulo enfrentou uma chuva com fuligem”, conta Gilberto Cervinski.
De acordo com ele, a dimensão dos impactos é tamanha que discutir esses projetos é essencial e reunir propostas que dão certo, de experiências e modos de vida de quem sabe como viver da e na Amazônia, sem devastá-la, também é.
“É preciso discutir esses projetos que assassinam lideranças, criminalizam organizações civis, poluem solo e água e ainda expulsam populações. Essas populações – algumas representadas no encontro sediado na UFPA – têm experiências adequadas no trato com a Amazônia. Têm muito a nos ensinar”, concluiu Gilberto Cervinski.
Texto: Glauce Monteiro – Assessoria de Comunicação da UFPA
Fotos: ASCOM