Localizada em solo amazônico, a Universidade Federal do Pará possui a missão de produzir, socializar e transformar o conhecimento para a formação de cidadãos capazes de promover a construção de uma sociedade inclusiva, sustentável e com consciência ambiental. Exemplo disso é o Projeto de Pátios de Compostagem utilizado nos Bosques Camillo Vianna, Benito Calzavara e Paulo Cavalcante, frutos dos trotes ecológicos dos anos 90, criados com o objetivo de transformar o ambiente dos bosques em locais mais sustentáveis, auxiliar no enfrentamento de mudanças climáticas e possibilitar o acesso a uma educação ambiental participativa para a comunidade universitária.
O projeto que intensificou a utilização da compostagem na UFPA surgiu do “Laboratório de Urbanismo, Paisagismo e Percepção Sensorial: Suporte à criação de espaços de convivência e de soluções baseadas na natureza para o Campus da Saúde”, idealizado pela professora Ana Claudia Cardoso, da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da UFPA, que pretendia melhorar a fertilidade do solo da Cidade Universitária, para a realização de plantações no Campus da Saúde. Desde janeiro de 2021, esta área do Campus Guamá tem recebido árvores e bougainvilles, que, além de homenagearem as vítimas da covid-19, também ampliaram a cobertura vegetal do local e passaram a proporcionar um ambiente mais agradável aos estudantes que circulam pelo local.
“A grande contradição que nos incomodava e que foi essencial para desenvolvermos este projeto foi que a maioria dos materiais orgânicos produzidos aqui, no campus (Guamá), foi levada em containers para o aterro do Aurá, enquanto nós necessitávamos de terra preta e de nutrientes para as nossas plantas. Por isso nós nos dedicamos a desenvolver os pátios de compostagem, a fim de alimentar o solo dos próprios bosques e da Cidade Universitária como um todo, com os nossos próprios resíduos, sejam eles plantas, frutos ou demais materiais orgânicos, por exemplo”, detalha Gina Calzavara, administradora dos bosques da UFPA e coordenadora das ações de Compostagem.
Com essa nova realidade, em junho de 2023, foi iniciado um processo de compostagem em alta escala no campus, com a criação do primeiro pátio de compostagem, intitulado “Reino Plantae”. O pátio fica localizado no Bosque Benito Calzavara, ao lado do Laboratório de Motores, no Setorial Profissional, e conta com sete baias de compostagem que utilizam, principalmente, materiais orgânicos dispostos na localidade, como: jambo, taperebá, manga, jenipapo, ingá e caju, além de flores de ipês, cascas das árvores pau-mulato, bambu, cachos de açaí e folhas secas.
Para a obtenção de melhores resultados, o projeto conta com uma consultoria técnica e parceria oferecida pela Universidade Federal Rural da Amazônia, que potencializa o sistema de desenvolvimento dos pátios e dos compostos, especialmente por meio da doação de esterco de búfalo para inserir no material orgânico final, colaborando com a diversificação nutricional dos adubos gerados. Hoje, o projeto também conta com mais um pátio, denominado “Pau-Mulato”, localizado no Bosque Camillo Vianna, e a expectativa é que outro seja desenvolvido, ainda este ano, no Bosque Paulo Cavalcante, situado nas proximidades da Faculdade de Artes Visuais, concretizando o que Gina Calzavara afirma ser uma “revolução ambiental muito positiva para a cidade universitária”.
“Esta é uma oportunidade de, enfim, aplicar e materializar, na área ambiental, tantos anos de pesquisas e estudos produzidos dentro da UFPA, através de um trabalho interdisciplinar, que reúne várias áreas do conhecimento, como a arquitetura, a agronomia e as engenharias, e várias instituições de ensino da Região Metropolitana de Belém, ultrapassando os muros da Universidade. É uma iniciativa participativa, que colabora para a educação ambiental dos nossos estudantes. Além de ser viável economicamente, é também uma forma de retribuirmos à natureza tudo o que ela nos proporciona, diariamente”, detalha a administradora dos bosques da UFPA em Belém.
Como funciona a compostagem – Muito utilizada na agricultura domiciliar, em jardins e hortas, essa técnica natural contribui para um melhor aproveitamento do lixo orgânico produzido diariamente na sociedade, transformando esses resíduos em adubo natural e em produtos com valor econômico. Entre alguns de seus benefícios, estão a diminuição do uso de fertilizantes químicos e a agregação de valor a um produto que seria, originalmente, descartado. Além disso, o processo também contribui para a redução do aquecimento global, pois auxilia na diminuição da produção de gás metano, um dos principais causadores do efeito estufa.
De acordo com o professor Sérgio Elarrat, da Faculdade de Engenharia Mecânica da UFPA, a compostagem, muitas vezes, pode ser vista e utilizada no próprio cotidiano das cidades, em cenas bem comuns. “Em Belém, por exemplo, a compostagem pode diminuir a quantidade de mangas em valas e esgotos da cidade, mantendo a cidade limpa e dando uma nova funcionalidade ao lixo. E, de um modo geral, a compostagem gera novos empregos, melhora a agricultura, faz a economia circular, retira lixos da cidade, que atraem bichos e doenças, por exemplo. Por isso é tão viável, sustentável e necessário”, explica o professor que também já atuou nos bosques da UFPA, em uma aula de campo sobre a busca da sustentabilidade por meio da compostagem de resíduos vegetais.
Texto: Isabelly Risuenho – Assessoria de Comunicação Institucional da UFPA
Fotos: Jéssica Souza, Alexandre de Moraes e Nayana Batista – Arquivo Ascom/UFPA