No dia 26 de setembro, é comemorado o Dia Nacional dos Surdos. A data foi oficializada em 2008 e remonta ao dia em que foi inaugurada a primeira escola de surdos no Brasil, em 1857. Já a Língua Brasileira de Sinais (Libras) foi oficializada desde 2002. Vinte anos depois, sua disseminação avança em passos lentos, o que dificulta o desenvolvimento das relações afetivas e sociais de pessoas com surdez, além do acesso a empregos ou serviços, como saúde e educação, por isso pesquisas e produções acadêmicas na UFPA vêm sendo desenvolvidas com base em Libras.
Esse é o caso da Cartilha Odontológica em Libras, desenvolvida pela dentista Rafaela dos Santos, concluinte em Odontologia pela UFPA e pesquisadora da área de saúde para pacientes com deficiência. A cartilha ilustrada apresenta sinais de uso social como o alfabeto utilizado nas libras, verbos, além de sinais relacionados à saúde e à área odontológica. Rafaela realizou o curso livre de Libras por dois anos, desenvolvido pelo Centro de Atendimento aos Surdos, com sede em Belém, e é especialista em tradução e interpretação de Libras. Seu interesse pelo tema iniciou ainda na graduação, estimulada a conhecer os sinais básicos necessários para a realização do atendimento de pessoas com surdez.
“As atividades de educação em saúde bucal e o atendimento de pacientes com surdez ainda são um desafio para o acadêmico e odontólogo, sendo a comunicação um dos maiores problemas enfrentados. O surdo utiliza a Libras e faz dela seu meio de comunicação e expressão na sociedade. É por meio dela também que sua identidade e cultura surda são evidenciadas. Portanto é imprescindível que o acadêmico/profissional de saúde tenha uma visão holística de seu paciente, analisando-o como um todo e respeitando a visão socioantropológica da surdez. Quando o diálogo ocorre por meio da Libras, os entraves de comunicação são diminuídos. Esse é o primeiro passo para alcançar a dignificação do atendimento da pessoa surda. A partir disso, é possível um diagnóstico correto e consequentemente um tratamento adaptado e de qualidade para o paciente”, explica Rafaela.
É preciso mais – Segundo a pesquisadora, os estudos da Odontologia que abrangem a Libras ainda são escassos no Pará, mas alunos e professores estão dispostos a alterar essa realidade. “Na literatura científica brasileira e internacional, poucos autores produziram materiais como manuais e cartilhas com conteúdo sobre saúde bucal acessível em Libras. Este tipo de produto é crucial para levar essas informações para os indivíduos com surdez, principalmente quando divulgados pela Web”, ressalta.
Segundo o IBGE, o Brasil apresenta, aproximadamente, 10 milhões de pessoas diagnosticadas com deficiência auditiva, que inclui dificuldade de audição e surdez. Muitas associações utilizam da data do Dia Nacional dos Surdos para trazer maior visibilidade sobre as pautas das pessoas surdas, principalmente se tratando de inclusão nos ambientes sociais.
Além da Cartilha, disponível aqui, a dentista e pesquisadora também produziu outros trabalhos que buscam disseminar a Libras como fator de acessibilidade. O Manual de Saúde Bucal em Língua Brasileira de Sinais é ilustrado e foi produzido com o objetivo de divulgar para a comunidade de pessoas com surdez informações que são importantes para manter a saúde bucal. O manual é simplificado e acessível. Aborda os temas mais frequentes nos consultórios odontológicos, como higiene dos dentes, aplicação de flúor, cirurgias, próteses, implantes e mais. Outros materiais desenvolvidos em Libras podem ser acessados no site Odontologia e Libras.
Texto: Jambu Freitas – Assessoria de Comunicação Institucional da UFPA
Artes: Acervo da pesquisa