Os professores da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da UFPA Cybelle Salvador Miranda e Ronaldo Marques de Carvalho divulgaram um catálogo com sua produção artística feita durante o período de pandemia da covid-19 . O objetivo dos professores é que o trabalho deles possa incentivar e inspirar outras pessoas a continuarem produzindo, inclusive fazendo uso de materiais que normalmente já se têm em casa. As obras podem ser conferidas aqui.
O acervo consta de trabalhos manuais, como tapeçarias e pintura em aquarela, além de objetos ressignificados de peças que seriam descartadas, visando ao reaproveitamento. A exposição foi intitulada "O tempo q parou", uma vez que a maioria das peças foi criada durante o período de quarentena.
"Nós somos um casal que tem a felicidade de trabalhar em conjunto, uma vez que ambos somos professores da FAU UFPA e pesquisadores do Laboratório de Memória e Patrimônio Cultural (Lamemo). Nossa formação como arquitetos abrange o componente criativo, sendo que temos ainda especialidades complementares, como as manualidades", afirmam os professores.
A necessidade de manter-se protegido em casa conduziu ao interesse de ocupar o tempo, fazendo com que eles revalorizassem os ambientes domésticos, destacando formas geométricas e peças que estavam estocadas para adquirir novas finalidades. "Então, nesses quatro meses, o tempo correu ligeiro, pois foi ocupado com a produção das peças, que foram tomando forma e função", conta a professora.
Algumas obras que integram a exposição, no entanto, foram concebidas antes do isolamento, a exemplo do banquinho Raio que o parta, produto da Oficina do Caqueado promovida pelo Lamemo em parceria com a empresa júnior Tekoá. As demais peças incluíram a documentação fotográfica da mudança de atmosfera do momento do pôr do sol que pode ser contemplado da janela do casal, seguindo para a concepção e execução de peças de arte e design.
Na visão de Cybelle, como pesquisadora, a dimensão da memória e do patrimônio cultural precisa apelar à sensibilidade e à afetividade das pessoas: "Nossa casa como uma arquitetura em vila dos anos 40 do século XX é, em si, um exemplo de arquitetura do passado que guarda em seus detalhes arquitetônicos as referências às famílias que as construíram e habitaram. Tais detalhes serviram de motivos para os desenhos das tapeçarias, bem como o ambiente da casa ganhou ares renovados com a inserção dos novos objetos produzidos, como quadros e luminárias.
Um caso muito peculiar foi o das fôrmas de madeira elaboradas pelo professor Ronaldo para a pesquisa "Forros na arquitetura hospitalar em Belém e Portugal: O estuque decorativo eclético, desenvolvida com apoio do edital Prodoutor de 2015. Após o término dos experimentos, as formas piramidais ficaram estocadas na edícula que serve de oficina da casa. Foi durante o isolamento que decidimos transformá-las em quadros, que deram origem à série das estações do ano e ao painel com referência à casa dos bicos de Lisboa".
Cybelle Miranda afirma, ainda, que "a divulgação dessas obras demonstra o potencial que cada ser humano possui para ultrapassar os momentos difíceis e reconectar-se aos seus talentos ocultos. E provar que os professores universitários não vivem apenas de produções no currículo Lattes, existem muitas motivações que podem ligar a produção acadêmica à sociedade, e esta é apenas um exemplo".
"A nossa intenção foi dar vazão aos nossos pensamentos e sensações, sem a intenção expressa de produzir obras de arte no sentido convencional. A carga emocional de medo e incerteza trazidos pela pandemia foi sublimado por esta produção. Deste modo, não nos sentimos ociosos, e este período passou a ter um sentido extremamente positivo nas nossas vidas", complementa Cybelle Miranda.
A elaboração do catálogo associou as peças a uma narrativa informal, como forma de divulgar o que foi feito e servir de inspiração ao público em geral. A edição do catálogo contou com a concepção da bolsista de iniciação científica do Lamemo, Ana Maria Cruz.
Serviço
Fotos: Reprodução Catálogo