No primeiro dia de discussões técnicas da COP 30, a questão da transição energética foi discutida em painel que contou com a participação dos pesquisadores Maria Emília de Lima Tostes, Wellington Fonseca e Thiago Soares, todos pertencentes ao Ceamazon, um grande laboratório resultante da união de professores e pesquisadores da UFPA, apoiados pela Eletrobras, por meio de convênio com o objetivo de criar o primeiro Centro de Excelência em Energética da Amazônia. A pesquisadora Wuanda Moraes atuou na intermediação das discussões.
A engenheira eletricista Emília Tostes, doutora, professora titular da UFPA e diretora do Ceamazon, observou que, após a transição da tecnologia da informação, o mundo está vivendo uma nova transição, agora voltada à redução dos impactos causados à natureza, ou seja, uma transição para diminuir a injeção de carbono (CO²) na atmosfera e manter o planeta mais saudável para as futuras gerações. Atuando exatamente com esse objetivo, os pesquisadores apresentaram parte das pesquisas tecnológicas desenvolvidas no Ceamazon, entre os quais, um projeto de mobilidade elétrica, patrocinado pela Norte Energia, que trouxe, em 2019, para o estado do Pará e para a região amazônica, o primeiro Corredor Verde, formado por eletropostos de carga rápida, com capacidade para abastecer veículos movidos à eletricidade de forma acelerada, instalados nas cidades de Belém e Castanhal, município a 70 km da capital. “Trouxemos dois ônibus elétricos para a UFPA. Um faz a rota interna no Campus Belém e o outro faz o trajeto entre Belém e Castanhal”, explica a pesquisadora.
Outro projeto apresentado pelos pesquisadores do Ceamazon foi o de fabricação do primeiro catamarã totalmente elétrico da região amazônica, desenvolvido em conjunto com a Faculdade de Engenharia Naval da UFPA. Os pesquisadores desenvolveram tanto a parte do design apropriado para os rios da Amazônia, quanto o projeto elétrico para que o catamarã pudesse ser 100% elétrico. Conforme explicou Emília Tostes, “para atender ao ônibus e ao catamarã elétricos, o laboratório montou os primeiros sistemas fotovoltaicos instalados na UFPA, ou seja, mesmo que a matriz elétrica nacional seja prioritariamente por hidroeletricidade, nós colocamos sistemas fotovoltaicos para atender a esses modais elétricos de forma a não sobrecarregar o sistema hidroelétrico que abastece o campus e que, algumas vezes, precisa fazer usar de energia térmica quando os lagos que abastecem as hidrelétricas estão com baixa capacidade devido ao regime de chuvas na região”.


Durante o painel, os pesquisadores abordaram também um outro projeto, desenvolvido com apoio da Finep, para atendimento à população ribeirinha que utiliza as rabetas como meio de transporte. “Estamos desenvolvendo motores adequados para usos nessas pequenas embarcações, de modo a substituir o motor a diesel, que, além de muito poluente, é barulhento, por motores elétricos, não poluentes e mais silenciosos”, informou a diretora do Ceamazon, acrescentando que mesmo as pequenas embarcações, como os populares popopôs, também poluem os rios quando ocorre algum problema, o que não acontece com os motores elétricos, porque eles não trabalham com derivados do petróleo. Essas rabetas, dotadas de baterias, serão abastecidas por painéis fotovoltaicos.
Em outro momento, os pesquisadores do Ceamazon apresentaram dois outros projetos desenvolvidos com apoio da Norte Energia, um para atendimento de comunidades isoladas para que elas, por meio de energia fornecida por painéis fotovoltaicos e armazenamento por supercapacitores e baterias de ion-lítio, possam ter uma energia renovável e não mais energia gerada por geradores a diesel, cara e poluente. O outro projeto apresentado no painel do primeiro dia de COP trata de um desafio técnico-operacional significativo, que é a regulação da frequência com a entrada de energias intermitentes, sem o controle adequado, como a fotovoltaica e a eólica, no sistema interligado nacional.


Mais investimentos para pesquisas no Norte – Para Emília Tostes, são grandes as possibilidades das pesquisas em desenvolvimento sobre eficiência energética e sustentabilidade na Amazônia, em função, principalmente, da massa crítica que as universidades vêm formando em áreas estratégicas. Essa massa crítica é formada pela quantidade de egressos das faculdades, como as engenharias elétrica, ambiental, civil, de recursos energéticos, da arquitetura e urbanismo e de outras áreas tecnológicas, que, cada vez mais, é atraída para o desenvolvimento de pesquisas com eficiência energética na Amazônia.

De acordo com a diretora do Ceamazon, é importante que haja mais investimentos nos estudos desenvolvidos por grupos de jovens pesquisadores que estão dispostos a atuar em prol da melhoria das condições de vida da região. Ela alerta que a Amazônia é a região onde os investimentos na transição energética objetivando a descarbonização deveriam ser mais fortes, porque há a responsabilidade de manter a floresta em pé. No entanto o quadro comparativo da mobilidade elétrica no Brasil mostra que ela é mais intensa e presente nas Regiões Sudeste, Sul e Centro-Oeste do que nas Regiões Norte e Nordeste.
A professora indaga: Por que exatamente na Amazônia, onde a floresta está de pé e assim precisa ser mantida, ocorre a maior injeção de dióxido de carbono, inclusive por meio da mobilidade a diesel e gasolina, entre outras? Por que não trazer para a região amazônica um desenvolvimento mais intenso com os modais elétricos? Por que é tão difícil, nesta gigantesca região, a gente colocar uma mobilidade mais sustentável para nossos amazônidas que se transportam não só pelas vias terrestres como também pelos nossos rios? E mais: por que não temos veículos com energia solar fotovoltaica de forma pelo menos híbrida para que essa poluição dos rios seja amenizada, reduzindo, assim, a injeção de dióxido de carbono na atmosfera, logo aqui, onde a gente tem que manter a floresta com toda sua biodiversidade conservada?
Maria Emília de Lima Tostes acredita que a mobilidade elétrica, a energia renovável, como a eólica e a produzida com biocombustíveis, são caminhos totalmente viáveis para o desenvolvimento sustentável da Amazônia.







