A programação científica da 76ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência teve início na última segunda-feira, 8 de julho. Sediado na Universidade Federal do Pará (UFPA), o evento contou com a participação da ministra Luciana Barbosa de Oliveira Santos, da pasta de Ciência, Tecnologia e Inovação (MCT&I), que, acompanhada do presidente da SBPC, Renato Janine Ribeiro, e do reitor da UFPA, Emmanuel Zagury Tourinho, inaugurou a ExpoT&C, a Mostra de Ciências da SBPC. O descerramento da faixa é uma tradição do evento e marca a abertura oficial da programação ao público.
“A SBPC é uma entidade conhecida não só no Brasil, como também no mundo, exatamente porque se pauta na divulgação, na popularização e na formulação de políticas públicas para a ciência”, elogiou. Luciana Santos pontuou, ainda, que o evento traduz a possibilidade de congregar a academia e a comunidade científica no país, a fim de discutir os investimentos e os desafios do setor.
Em coletiva de imprensa, a ministra disse que a reunião anual é sempre uma oportunidade de reafirmar o óbvio: “a ciência existe, ela está em todo lugar”. O que falta, segundo Luciana Santos, é garantir ainda mais infraestrutura e investimentos para que cientistas e instituições possam fazer valer a ciência brasileira.
ExpoT&C – Após a inauguração oficial do espaço, as autoridades percorreram a tenda que abriga aproximadamente 45 estandes de universidades e institutos de pesquisa públicos e privados, empresas, órgãos governamentais, sociedades científicas, agências de fomento, entre outras instituições.
No espaço da anfitriã, a ministra foi recepcionada pelo reitor, que explicou a estrutura multicampi da Universidade e apresentou o projeto do Centro Integrado da Sociobiodiversidade da Amazônia (Cisam), uma iniciativa que reúne doze universidades amazônicas sob liderança da UFPA, na defesa da valorização e do fortalecimento da pesquisa na Amazônia.
Tourinho destacou que o tema da SBPC deste ano coloca a Amazônia em debate. Para ele, ao falar de “Um novo contrato social com a natureza”, a SBPC amplia a divulgação da produção científica da UFPA sobre a Amazônia. “Uma produção científica aqui leva em conta as relações que existem entre as transformações no ambiente natural e a vida das populações da Amazônia, que se preocupa em construir o horizonte do desenvolvimento da Amazônia, que seja com sustentabilidade e inclusão, com a garantia de direitos para as pessoas que vivem na região”.
Segundo o reitor, a reunião é uma oportunidade de interação dos pesquisadores brasileiros com todas as áreas da ciência, de todas as regiões, portanto possibilidade para a criação de novos laços acadêmico-científicos. “Certamente um ambiente muito rico, que também vai influenciar muitos jovens paraenses para a carreira científica”. E complementou: “Todos conhecem a importância que a Amazônia tem hoje para a superação da crise climática. Mais importante ainda é que estejamos discutindo isso na Amazônia, com o protagonismo da região, com os cientistas da Amazônia e colocando em relevo essa produção científica das instituições que produzem conhecimento na região”.
A expectativa é que a SBPC na UFPA possa ainda estimular novos talentos na ciência e enriquecer as cooperações entre os vários estados brasileiros. “Além disso, nesta edição, temos a oportunidade de abordar exatamente as questões amazônicas, que são muitas, e exatamente o foco da maioria dos nossos grupos de pesquisa. Então, isso é muito importante, principalmente em um momento em que o país inteiro fala de desenvolvimento sustentável e da importância da Amazônia para o mundo, enquanto a Universidade se dedica a estudar isso no seu dia a dia. Estamos muito felizes pelo fato de a SBPC estar ocorrendo aqui”, disse Tourinho.
Conferência – A Conferência de Ciência, Tecnologia e Inovação, proferida pela ministra Luciana Santos, teve a mediação do presidente da SBPC, Renato Janine. Na ocasião, a titular da pasta apontou que o grande desafio hoje é enfrentar as consequências de anos em que o Brasil ficou sob a sombra do negacionismo e da desinformação. A ministra pontuou que o momento atual pelo qual passa o país é de união e reconstrução da democracia, bem como de investimentos nas políticas ambientais, científicas e tecnológicas, que são importantes para a garantia do futuro da nação.
Luciana Santos trouxe indicadores sobre o compromisso do atual governo com a diminuição das taxas de desmatamento, principalmente na Amazônia, sendo que a ideia é ter a região não como um santuário intocável, mas como lugar de biodiversidade, bioprospecção e biotecnologia. “Essa riqueza precisa se materializar por meio do povo brasileiro”, afirmou. Segundo a ministra, a matriz das soluções para as questões climáticas que a região enfrenta atualmente é de base renovável, situada no conhecimento científico e com pilares sólidos no conceito de sustentabilidade. “A ciência é o fio conector entre o ser humano e a floresta”, afirmou Santos. “A sociedade só será próspera e inclusiva se herdar a floresta. Por isso temos um longo caminho a ser percorrido com luta e trabalho”, complementou.
A ministra enumerou e citou cada um dos projetos, editais e fundos do atual governo para o enfrentamento de problemas como a assimetria e a desigualdade regional no Brasil, bem como políticas públicas que vêm sendo implementadas na área de desenvolvimento sustentável e na ciência, entre as quais, o fortalecimento dos espaços e centros de pesquisa e produção do conhecimento, como as universidades federais. “Em termos de negacionismo, estamos virando a página neste país”, disse.
O presidente da SBPC, Renato Janine, representando a sociedade científica, disse à ministra que as instituições querem ser escutadas e destinou perguntas ao Ministério de Ciência e Tecnologia. Luciana Santos dialogou com todos.
Programação científica – Ainda em continuidade à agenda científica, o reitor da UFPA, Emmanuel Tourinho, assistiu à Mesa Ciência, Democracia e Crises Contemporâneas, que reuniu pesquisadores da área de Sociologia, entre os quais, a professora premiada Edna Castro (UFPA), no Auditório Setorial Básico 1. Além disso, o gestor anfitrião esteve na plateia do Centro de Eventos Benedito Nunes para acompanhar o debate com instituições sobre os 18 anos do governo Lula no país.
A mesa presidida por Janine teve ainda a participação de Denise de Carvalho, presidente da Capes, e de Ricardo Galvão, presidente do CNPq. Todos avaliaram os avanços alcançados, realizaram prospectos e vislumbraram desafios para os próximos anos. Denise Carvalho ressaltou que a urgência é minimizar as assimetrias de fomentos entre as regiões brasileiras, começando pela importância de se investir mais no Norte, por exemplo. Já Galvão foi direto ao ponto e disse que mais recursos são a fonte para o aumento no fomento em ciência e tecnologia em todo o país: “Se não houver recursos, não haverá porvir”, finalizou.