Entre os dias 9 e 11 de abril, Belém (PA) sediou o Workshop Conexões Científicas Brasil-China, evento que reuniu pesquisadores brasileiros e chineses no Parque de Ciência e Tecnologia Guamá (PCT-Guamá), com o objetivo de impulsionar a cooperação científica internacional voltada ao desenvolvimento sustentável da Amazônia. A iniciativa integra o programa Amazônia+10, em parceria com a Fundação Nacional de Ciências da China (NSFC), a Fundação Amazônia de Amparo a Estudos e Pesquisas (Fapespa), além de outras instituições brasileiras como o Confap e a Fapeam.
Durante os três dias de evento, foram debatidos temas estratégicos como biodiversidade, mudanças climáticas, hidrologia, sensoriamento remoto, saúde pública e segurança alimentar. A premissa central do workshop foi reforçar a ideia de que a pesquisa científica é fundamental para sustentar políticas públicas e investimentos privados baseados em evidências, especialmente em uma região ecologicamente sensível e globalmente relevante como a Amazônia.
A abertura do evento contou com a presença de representantes das principais instituições de fomento à pesquisa científica de ambos os países. Lan Yujie, vice-presidente da NSFC, ressaltou que a fundação já firmou 106 acordos com 54 países e destacou o prazer de estar na Amazônia para lançar a cooperação oficial com a iniciativa Amazônia+10. Já o presidente do Confap, Márcio Pereira, destacou a importância de unir conhecimentos e experiências para gerar avanços científicos com impacto positivo nas comunidades locais e no meio ambiente.


O professor do Centro de Valorização de Compostos Bioativos da Amazônia (CVACBA/UFPA), Hervé Rogez, destacou que a ocasião foi uma “oportunidade única” para apresentar o Centro Integrado para a Sociobiodiversidade da Amazônia (CISAM), ressaltando as semelhanças entre os desafios enfrentados na Amazônia e em regiões da China com realidades geográficas e culturais diversas.
O professor enfatizou que o CISAM atua como uma rede integradora que cobre os nove estados da Amazônia Legal, todos participantes da Iniciativa Amazônia+10, e que poderá ser um importante ator no edital bilateral que será lançado em conjunto com a NSFC. Segundo o professor Hervé, os temas abordados pelos pesquisadores chineses demonstraram grande afinidade com as áreas de competência do CISAM: Biodiversidade e conservação; Água, floresta, solo e clima; Contaminação ambiental e saúde do amazônida; Cidades, vilas e territórios amazônicos; e inovação, socioBioeconomia e desenvolvimento sustentável.
O professor citou como exemplo uma apresentação de um professor chinês que desenvolve pesquisas com antocianinas da jaboticaba do sudeste da China, utilizando tecnologias emergentes e bioprocessos — uma abordagem muito semelhante às pesquisas com antocianinas do açaí realizadas pelo grupo da UFPA. Isso mostra não apenas a convergência temática, mas também o potencial de cooperação científica efetiva e compartilhamento de metodologias entre os dois países.
Intercâmbio – Ao todo, participaram do evento 31 cientistas chineses, incluindo membros da NSFC e pesquisadores de instituições diversas, e 25 cientistas brasileiros de instituições como Universidade Federal do Pará (UFPA, Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), Universidade Federal do Amazonas (UFAM), Embrapa, Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM), Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA), Instituto Evandro Chagas (IEC), Instituto Tecnológico Vale (ITV), Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG) e Unicamp.

A programação incluiu também visitas técnicas aos laboratórios do PCT Guamá, como o Centro de Valorização de Compostos Bioativos da Amazônia (CVACBA/UFPA), o Laboratório de Tecnologia Supercrítica (Labtecs/UFPA) e o Laboratório de Óleos da Amazônia (LOA/UFPA). Durante essas visitas, os cientistas chineses puderam conhecer a infraestrutura instalada e a diversidade de pesquisas em andamento na região.
Articulação internacional – A Iniciativa Amazônia+10, liderada pelo Confap e pelo Conselho Nacional de Secretários para Assuntos de Ciência Tecnologia e Inovação (Consecti), com parceria do CNPq, já mobilizou mais de R$ 150 milhões em recursos para projetos científicos na região. A iniciativa conecta pesquisadores da Amazônia Legal com cientistas de outros estados e países, incluindo Reino Unido, França, Alemanha e Suíça. O foco da Amazônia+10 inclui a conservação da biodiversidade, a adaptação às mudanças climáticas, a proteção das populações tradicionais, o enfrentamento de desafios urbanos, o avanço da bioeconomia e o fortalecimento da ciência e tecnologia como eixos estruturantes do desenvolvimento regional.