Teve início nesta segunda-feira, 22 de agosto, o Colóquio Internacional “José Saramago: palavra, pensamento, ação”, uma realização da Universidade Federal do Pará (UFPA) que integra a programação oficial da Fundação José Saramago, em celebração do centenário de José Saramago, único escritor de língua portuguesa agraciado com o Prêmio Nobel de Literatura. O evento ocorre no Centro de Eventos Benedito Nunes (CEBN) até esta quarta-feira, 24. A programação tem entrada franca até a lotação do auditório.
A abertura do Colóquio contou com a apresentação da Orquestra Sinfônica Altino Pimenta, da Escola de Música da UFPA, sob a regência do maestro Miguel Campos Neto e da maestra Cibelle Donza, com a participação da solista Dayse Addario. No repertório, duas canções do compositor paraense Waldemar Henrique, Uirapuru e Boi BumbáPedra Filosofal, composição de Manuel Freire para o poema de António Gedeão, e Grândola, Vila Morena, poema e canção de José Afonso, considerada hino da Revolução dos Cravos, ocorrida em Portugal em 1974.
Em seguida, compuseram a mesa de abertura da cerimônia o reitor da UFPA, Emmanuel Zagury Tourinho; o prefeito de Belém, Edmilson Rodrigues; a vice-cônsul de Portugal em Belém, Maria Fernanda Pinheiro; a presidenta da Fundação José Saramago, escritora e jornalista, Pilar del Río; e o curador do Colóquio, professor catedrático da Universidade de Coimbra e comissário para o Centenário de José Saramago, Carlos Reis.
Carlos Reis iniciou os pronunciamentos falando do desafio que lhe foi lançado pela UFPA, no sentido de organizar a programação do Colóquio em parceria com as cocuradoras Simone Neno e Germana Sales, ambas da UFPA. Além disso, o professor catedrático mencionou que a federal paraense é uma das Universidades que tem um dos currículos mais longos em matéria saramaguiana e que este Colóquio deve ser o maior evento do Centenário no Brasil.
“José Saramago está outra vez na UFPA”, afirmou Pilar del Río, contando que há uma história entre o escritor e a instituição, sempre muito bem recebido “com extraordinária inteligência e com o coração”. Ela agradeceu a oportunidade em celebrar o centenário de seu companheiro de vida em Belém e disse esperar que todos os participantes terminem o colóquio “mais sábios e bons”, em referência a uma frase do autor que dizia: “Quanto mais velhos, mais sábios. Quanto mais sábio, mais radical”, o que, segundo ela, pode ressoar no sentido de que as pessoas que estiveram no Colóquio possam, após a programação, se sentir mais preparadas e estimuladas a colaborar com a evolução da comunidade humana.
A vice-cônsul de Portugal em Belém, Maria Fernanda Pinheiro, expressou sentir-se orgulhosa em representar o estado português em um evento como o Colóquio, desejando que “Palavra, Pensamento e Ação”, em referência ao tema geral do evento, sejam concretizadas na sociedade paraense.
Na sequência, o prefeito de Belém, Edmilson Rodrigues, ofereceu a Pilar del Río as chaves da cidade de Santa Maria de Belém do Grão Pará, em reconhecimento ao trabalho da Fundação José Saramago de divulgar a obra do autor, para ele, “um homem que nos convoca à dialogicidade”. “O pensamento de Saramago é necessário à evocação do diálogo e da dúvida, nos leva a pensar na democracia amputada pela força de instituições não-democráticas e que seguem uma lógica de dominação perversa, produtora de desigualdades e opressão”, ressaltou o prefeito.
Para o reitor Emmanuel Tourinho, José Saramago levou a literatura de língua portuguesa a todos os continentes, “um autor que nos convoca à reflexão sobre o que temos feito de nós mesmos, o que temos feito de nossas sociedades”. “Ler Saramago é adentrar um turbilhão de inquietações e ser confrontado com o que nos tira o sossego – com a realidade áspera da submissão de nossas sociedades, nossas instituições, até mesmo nossas capacidades coletivas aos interesses dos que detêm o poder econômico”. “O Brasil é certamente um país onde o pensamento crítico de Saramago faz todo sentido. Marcados que somos pela desigualdade, pela exclusão e pela miséria de largas parcelas da população – hoje são mais de 33 milhões de pessoas passando fome, somos um país de não-cidadãos e não-cidadãs”, apontou Tourinho.
A programação do primeiro dia de Colóquio seguiu com a conferência “José Saramago: a ficção como lugar de resistência”, proferida por Carlos Reis, com apresentação de Germana Sales, professora da UFPA e cocuradora do evento. Profundo conhecedor da obra de Saramago, Reis também lançou e autografou, neste primeiro dia de programação, o livro Literatura e Compromisso. Textos de doutrina literária e de intervenção social, com selo da Editora da UFPA (ed.ufpa) e da Fundação José Saramago, que compila textos de autoria de Saramago, com seleção, introdução e notas do curador do evento.
Celebração do livro – Durante os dias do evento, no hall do CEBN, o público encontrará um cenário com a réplica da biblioteca de Saramago, além do estande da Editora da UFPA (ed.ufpa). À venda estão livros do catálogo da editora, incluindo coedições com a Fundação José Saramago, como Da Estátua à Pedra e Discursos de Estocolmo, que reúne textos de José Saramago sobre a sua trajetória literária, publicado pela primeira vez no Brasil pela Editora da UFPA em 2013; e Democracia e Universidade, que traz dois textos de José Saramago sobre democracia.
Estarão disponíveis ainda Diálogos com José Saramago, de Carlos Reis, lançado em 2018 pela ed.ufpa, assim como os livros Literatura e Compromisso. Textos de doutrina literária e de intervenção social, de José Saramago, com seleção, introdução e notas de Carlos Reis, e A intuição da Ilha – os dias de José Saramago em Lanzarote, de Pilar del Río, com selo da Companhia das Letras, lançados durante o Colóquio. Também poderão ser encontradas no estante da Editora todas as obras de José Saramago publicadas pela Companhia das Letras.
Coletiva de imprensa – Na tarde do primeiro dia do Colóquio, Emmanuel Tourinho, Pilar del Río e Carlos Reis conversaram com a imprensa regional. O reitor falou da alegria da UFPA em realizar o Colóquio e ambos os convidados falaram de suas vivências com José Saramago, o conhecimento sobre sua obra e sobre os livros que lançam durante a programação.
Carlos Reis explicou que a obra do escritor português tem um grande potencial de inspirar gerações: “O que diz um escritor fica e também seus pensamentos, que se traduzem em ação social, política e literária”.
Pilar del Río disse estar feliz em participar das celebrações do centenário saramaguiano na UFPA. “Estar aqui é sempre uma responsabilidade, porque também é uma forma de colaborar, através do conhecimento e da divulgação da obra de Saramago, com tantos(as) brasileiros(as) em busca de uma vida mais digna”, afirmou Pilar.
Ela ainda apresentou o livro que tem pré-lançamento nacional durante o Colóquio, A intuição da Ilha – os dias de José Saramago em Lanzarote, escrito por Pilar durante a pandemia e publicado pela Companhia das Letras. A obra rememora, em pequenas crônicas, os momentos que tiveram juntos, pouco antes do falecimento do escritor.
Serviço
Colóquio Internacional “José Saramago: palavra, pensamento, ação”
Período: 22 a 24 de agosto de 2022
Local: Centro de Eventos Benedito Nunes – Campus UFPA Belém
Acesse a programação.
Saiba mais sobre os convidados.
Entrada franca até a lotação do auditório.
Texto: Jéssica Souza – Ascom UFPA
Fotos: Alexandre de Moraes – Ascom UFPA e Otavio Henriques/Cláudio Ferreira, a serviço da UFPA.