O Campus Guamá, da Universidade Federal do Pará (UFPA), foi palco de dois dos maiores eventos internacionais dedicados à observação da Terra por satélite: o ISPRS Technical Commission: III Remote Sensing Midterm Symposium e o XXI Simpósio Internacional da Sociedade de Especialistas Latino-Americanos em Sensoriamento Remoto (Selper). O evento contou com a participação de representantes de instituições de 40 países, os quais puderam compartilhar conhecimentos sobre os últimos avanços tecnológicos na área de sensoriamento remoto, em uma programação que envolveu atividades técnico-práticas, tutoriais, reuniões especializadas, workshops e disposição de estandes expositores da área.
A programação teve como foco o compartilhamento do conhecimento científico acerca da área de sensoriamento remoto, que objetiva conhecer a superfície terrestre por meio de técnicas de aquisição de imagens por satélite, de algoritmos de processamento e da análise dos dados capazes de auxiliar no desenvolvimento de pesquisas e na gestão do meio ambiente. Esses dados, hoje, são muito utilizados, principalmente em áreas das geociências, da cartografia e do monitoramento ambiental.
“Esta reunião é importante porque celebra a troca de conhecimento entre os membros da comunidade ISPRS (International Society for Photogrammetry and Remote Sensing) e também possibilita acordos de cooperação sobre as inovações importantes para a sociedade, para o meio ambiente e para o clima. Aqui nós temos muitas mentes brilhantes, comprometidas com a promoção da educação e o desenvolvimento da região amazônica”, lembrou Fabiola Yépez Rincón, presidente da Sociedad Latinoamericana en Percepción Remota y Sistemas de Información Espacial (Selper), durante a cerimônia de abertura dos eventos.
Colaboração para a Cop-30 – Para o reitor da UFPA, Gilmar Pereira da Silva, ter recebido os eventos internacionais na Universidade, especialmente em um ano Pré-Cop-30, foi de extrema importância, por demonstrar o compromisso da comunidade científica com os desafios não só da Amazônia, mas também do mundo como um todo, no contexto atual em que já se vivem os efeitos das mudanças climáticas.
“Estamos cientes de que temos complexos fenômenos e processos que se desenvolvem na Amazônia e interferem na dinâmica global do clima e de que hoje convivemos com eventos extremos que expõem milhões de pessoas a vulnerabilidades e a riscos. Aqui, por exemplo, neste momento, convivemos com a seca de grandes rios ameaçando a segurança alimentar e hídrica de milhões de amazônidas, o que, até pouco tempo, era uma situação inimaginável”, apontou o reitor da UFPA.
E completou: “lidar com esses desafios requer conhecimento científico e tecnológico. Então, muito nos alegra receber, em nossa cidade e em nossa universidade, cientistas, pesquisadores e estudantes que se ocupam com o desenvolvimento tecnológico do sensoriamento remoto”. Esta expectativa do reitor da UFPA, de que, daqui a um ano, quando Belém sediará a Cop-30, os governantes mundiais possam levar em consideração as contribuições científicas em suas decisões políticas, também foi compartilhada pelo coordenador da III Comissão Científica Internacional da ISPRS, Laurent Polidori.
“O Brasil esteve ausente da comunidade científica internacional por muitos anos e, graças a este evento, o Brasil está de volta. Então, as decisões políticas que serão tomadas na Cop-30 devem se basear em conhecimentos científicos atualizados, e, neste sentido, o simpósio que organizamos em Belém contribuiu para essa atualização”, disse Laurent Polidori, que também atua como professor do Instituto de Geociências da UFPA.
Programação – Além de uma programação científica diversa, que iniciou com uma palestra da cientista brasileira Thelma Krug, sobre “observações espaciais para monitoramento de indicadores de mudança do clima: desafios e oportunidades”, os eventos também proporcionaram um grande espaço para que expositores de diversos países pudessem apresentar suas pesquisas e tecnologias utilizadas e tivessem a oportunidade de fechar parcerias e/ou cooperações entre diferentes instituições e pesquisadores.
Entre esses expositores, havia uma equipe da Seas Guyane, que apresentou um dispositivo de sensoriamento remoto de alta qualidade, com grande capacidade de aquisição e processamento de dados. “Vimos comunicar, de forma ampla, a existência desse novo dispositivo em Caiena, dedicado ao monitoramento do meio ambiente na Amazônia e dos impactos das mudanças ambientais. O dispositivo está à disposição para projetos de cooperação que busquem a aquisição de dados em alta resolução”, informou Patrick Lobo, da Seas Guyane.
Para Lena Halounová, presidente da International Society for Photogrammetry and Remote Sensing (ISPRS), esta foi uma oportunidade de perguntar e responder não só sobre o que tem sido feito pela comunidade científica, mas também sobre o que se pode e deve fazer para o futuro. Para ela, a reunião é não só sobre a ciência em si, “mas também sobre educação e relacionamento entre pessoas e a comunidade científica, que é a responsável por encorajar jovens que vão cuidar do futuro de seus territórios”.
Assim, com a participação de cerca de 400 pessoas, de 40 países, a programação conseguiu destacar, nos trabalhos científicos apresentados, não somente a Região Norte do Brasil, mas também a Amazônia como um todo. “Foi uma oportunidade para pesquisadores, estudantes e empresas locais promoverem suas atividades para a comunidade internacional e aprenderem os últimos avanços na observação da Terra por satélite”, sentenciou o professor Laurent Polidori.