O Grupo de Estudos sobre a Diversidade da Agricultura Familiar (GEDAF), desde 2014, tem como lócus de pesquisa a comunidade de Aricurá, localizada no município de Cametá, no interior do Pará. No último sábado, 25, a comunidade e o GEDAF puderam dialogar sobre o conhecimento acadêmico produzido e o conhecimento tradicional da comunidade. A validação dos resultados se deu pela participação da comunidade onde os presentes puderam perceber de uma outra forma o que já fazem no seu cotidiano.
Ao longo dos anos, o GEDAF priorizou pesquisas que pudessem contribuir com o desenvolvimento da localidade. Por meio de Trabalhos de Conclusão de Curso (TCCs), dissertações e pesquisas de iniciação científica, o grupo desenvolveu estudos sobre o modo de vida e subsistência das populações que moram às margens do rio Aricurá. Desde o solo, a produção do açaí, a piscicultura e a agricultura.
Benedito Rodrigues, líder comunitário, comentou a presença do grupo na comunidade. "A pesquisa é fundamental para nós. A Universidade veio visitar nossas famílias, buscar conhecimento, nossa cultura. Fizeram uma pesquisa geral no que diz respeito à pesca, à agricultura, ao nosso jeito de manusear nossos alimentos, nosso açaí. Essa pesquisa foi muito rica porque a gente mora distante e consegue ver o trabalho sendo desenvolvido aqui."
A educadora social da Associação Paraense de Apoio às Comunidades Carentes (APAC), Maria Líria Olinda, esteve no evento e ressaltou que os resultados dos estudos apresentados são importantes para a comunidade. "Os estudantes levaram e agora estão retornando pra comunidade. Para os moradores isso é muito gratificante, pois eles sabem que o saber deles, popular, está indo, sendo comparado com o científico e retornando à comunidade. Ocorre a valorização do seu trabalho, do seu saber do campo. Eles se sentem motivados. A gente, como uma organização comunitária de assessoria de campo, fica muito feliz de ver a Universidade chegar no Aricurá", comenta.
Quanto à forma de compreensão da comunidade em relação aos trabalhos apresentados, a educadora pontua: "os alunos trazem sim o conhecimento acadêmico, mas também explicam todo o processo de estudo, o que facilita a compreensão dos moradores". Os resultados servirão de instrumentos para reinvidicação de políticas públicas responsáveis pelo desenvolvimento ambiental e para dar visibilidade à comunidade diante da sua importância no abastecimento alimentar das cidades.
Na oportunidade, a comunidade também aproveitou para denunciar o lançamento de resíduos no rio, a partir da criação de um esgoto que desaguará no rio Aricurá. Tal fato afetará o modo de vida de centenas de famílias que vivem numa relação direta com o rio. Os moradores das comunidades de Aricurá e Ajó temem pela contaminação do rio e da várzea, o que acarretaria o desequilíbrio socioambiental da região.
Trabalhos apresentados – As apresentações foram divididas pelos eixos temáticos a seguir: "Revendo as várzeas estuarinas: um exemplo no baixo rio Tocantins", com o professor Paulo Martins; "A várzea está pra peixe: viabilidade socioeconômica da piscicultura praticada na microbacia do Aricurá, Cametá, Pará", com Walmiro A. Silva Junior; "Várzea ou terra firme: A (re) produção do sistema familiar–estabelecimento na microbacia do Aricurá, Cametá, Pará", com Ana Julia Salheb; "Qualidade da água em viveiro de criação de peixe na microbacia do rio Aricurá, Cametá, Pará", com o Feliciano Ribeiro Caldas Neto; "Viabilidade agroeconômica e Agroecológica da criação de tambaqui no baixo rio Tocantins, Cametá, Pará", com Elias Pantoja Damasceno e Ivan Cássio Rodrigues; "Composição Hierárquica da microbacia do Rio Aricurá, Cametá, Pará", com Wellington Rodrigues Carneiro; "Organização da cobertura pedológica na transição terra firme-várzea na microbacia do Aricurá, Cametá, Pará, com Willian Vulcão de Sousa.
Sobre o GEDAF – Vinculado ao Núcleo de Meio Ambiente (NUMA) da UFPA, desenvolve ações de pesquisa-formação em estreita ligação com os processos locais de desenvolvimento, com perspectiva interdisciplinar. Tem como região privilegiada de trabalho o Baixo Tocantins, estado do Pará, onde, a partir de uma sólida parceria com a Associação Paraense de Apoio à Comunidades Carentes (APACC) e organizações de trabalhadores rurais (Colônia de pescadores, Sindicatos, Casas Familiares Rurais), contribui para a formulação e implementação de iniciativas para o fortalecimento da produção familiar camponesa, considerando sua diversidade e a complexidade das relações homem-natureza e Estado-sociedade-território, como processos que permitem refletir e agir sobre o desenvolvimento rural.
Texto: Beatriz Aviz – Relações Públicas NUMA/UFPA
Fotos: Divulgação