O Instituto de Ciências da Educação (Iced) recebeu, até a última quarta-feira, 19, a programação do evento “Comuns em movimento: Diálogos costeiros no Sul Global”, realizado pelo Projeto Caeté – Coletivo de Articulações Marginais, com o apoio da Universidade Federal do Pará (UFPA), por meio do Programa de Pós-Graduação em Ecologia Aquática e Pesca (PPGEAP), e pelas instituições chilenas de ensino e pesquisa. A atividade ocorreu em formato bilíngue, unindo experiências amazônicas e chilenas sobre sociobiodiversidade, maretórios e direitos territoriais.
A ideia do encontro foi reunir pesquisadores, estudantes, professores e entusiastas do assunto para debater sobre a justiça socioambiental, em decorrência do avanço da chamada Economia Azul, que, nos últimos anos, transformou mares e zonas costeiras em áreas de degradação ambiental e exploração industrial e pesqueira.

O painel de abertura intitulado “Azul em disputa: Justiça, comunidade e resistência no Brasil e no Chile” reuniu pesquisadores da área, como a doutora em Biologia ambiental Indira Eyzaguirre, especialista do Laboratório de Ecologia em Manguezais da UFPA (Lama), que comentou o lançamento do “Pacote Azul”, uma iniciativa que prevê um financiamento de R$116 bilhões anuais para ações de proteção dos oceanos.
“Quando falamos de oceano, temos que entender que ele não está sozinho. O mangue faz parte dele. Então, se houver investimentos, ele precisa considerar todos os ecossistemas conectados”, pontuou Indira. A pesquisadora também reforçou a importância de infraestrutura e conservação andarem lado a lado, com adaptação climática e protagonismo dos moradores locais: “Espero que este investimento seja direcionado principalmente à resiliência e à adaptação climática das populações que dependem desses ecossistemas”, concluiu.
A abertura foi mediada pela doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Sociologia e Antropologia da UFPA (PPGSA) Carla Moreira. Ela destacou a relevância da escuta de povos diretamente impactados por conflitos pesqueiros e industriais para elaborar políticas de melhorias: “Se a gente fala em justiça climática, precisamos ouvir as pessoas que mais estão sofrendo os impactos. É importante escutar experiências, denúncias e as estratégias que esses territórios têm construído”, afirmou.

Participação estudantil – O evento também reforça a participação de grupos de estudantes que atuam como mediadores entre ciência e comunidades. Para Gabriel Pereira, integrante do Projeto Caeté, os oceanos devem ser tratados para além da posição de provedor de recursos econômicos. “A mesa desloca o pensamento de que os oceanos são só uma agenda de economia. Eles são espaços importantes para os povos que são donos desse lugar há muito mais tempo”, opinou.
Ele reforça que o Caeté, em parceria com a UFPA, tem promovido debates e dados com o intuito de fortalecer a luta por direitos territoriais: “Temos promovido eventos e espaços de diálogo, mas também produzido ações mais concretas, pensando em ciência cidadã. Temos um grande problema que é a deslegitimação dos conhecimentos tradicionais aqui, no Brasil, e nós buscamos romper com esse universalismo científico, de que só a gente tem possibilidade de dialogar sobre o mundo. Temos feito coisas concretas, como mapeamento de comunidades e levantamento de estudos de qualidade da água”.
A programação segue até o dia 19 de novembro, envolvendo painéis sobre maretórios, governança comunitária, temporalidades da crise oceânica e sociobiodiversidade. A participação é gratuita e não necessita de inscrição.

