Escuta. Diálogo. Atitudes de solidariedade. Excelência com diversidade. Esses foram alguns dos temas que pautaram o 1° Seminário Equidade de Gênero e Enfrentamentos de Violências e Discriminações nas Universidades, promovido pela Universidade Federal do Pará (UFPA), por meio da Comissão de Equidade de Gênero (CeGênero), no mês que celebra e comemora o Dia Internacional das Mulheres em toda sua pluralidade. O evento reuniu, no dia 21 de março, membros de diferentes setores da comunidade universitária para debater a importância da promoção da equidade de gênero nas universidades.
De acordo com a Professora Loiane Verbicaro, a desigualdade de gênero presente na sociedade se estende às universidades e modula a trajetória e a vida de alunas, pesquisadoras e professoras em todas as áreas do conhecimento. E, para fazer frente a essa desigualdade, é necessário pensar em ações concretas. “As universidades ainda reproduzem diversas formas de violência e precisamos trabalhar para que tenhamos espaços mais acolhedores, inclusivos e igualitários. As mudanças não serão rápidas. Não vamos mudar a Instituição, sobretudo o âmbito das mentalidades, de um dia para o outro. É uma construção diária, coletiva e persistente envolvendo políticas e decisões institucionais”, apontou.

Essa construção coletiva, para a vice-reitora, deve se dar em todas as esferas da Universidade, o que inclui mudanças na legislação, por meio das resoluções, campanhas, comunicação, e nos editais. “São múltiplas as dimensões dessa equidade que precisam ser trabalhadas, sempre em diálogo com as unidades da Universidade e com a comunidade acadêmica”, completa.
Para o reitor da UFPA, Gilmar Pereira da Silva, essa mudança estrutural é parte de uma tarefa grande da academia que é urgente. “Nós temos uma tarefa muito grande nas nossas universidades, que é entender isso do ponto de vista científico e traduzir para o senso comum, para que as pessoas entendam e a gente rompa com o que, para mim, é o mais danoso, que é a alienação”, colaborou o reitor, que prestigiou o evento assim e os demais membros da comunidade acadêmica.
A mesa de abertura do seminário foi presidida pela vice-reitora Loiane Prado Verbicaro e contou com a presença da presidente e da vice-presidente da Comissão de Equidade de Gênero da UFPA, Roseane Pinto (vice-coordenadora do Campus de Bragança) e Juliana Canella, respectivamente; da superintendente da Superintendência de Políticas Afirmativas e Diversidade (Diverse), Zélia Amador de Deus; da procuradora federal junto à UFPA, Fernanda Monte Santo; da presidente da Comissão Permanente de Processo Administrativo Disciplinar, Daniele Dorotéia; da ouvidora da UFPA, Iraneide Freire; e da representante das mulheres da Associação dos Povos Indígenas da UFPA, Míriam Tembé.
A conferência foi proferida pela professora Yara Frateschi, com o tema “a importância da equidade de gênero nas universidades”, tendo como debatedoras as professoras Luzia Alvarez e Alcidema Magalhães, e como mediadoras, as professoras Roseane Pinto e Viviane Santos.


Poder de mudança – O debate sobre a equidade de gênero é transversal na Universidade, ocorrendo em diferentes espaços, como no Grupo de Trabalho Geografia e Gênero da Amazônia (GT GGEAMA), que atua no fortalecimento do campo de estudos sobre gênero e geografia, e no Grupo de Estudos e Pesquisas “Eneida de Moraes”, sobre mulher e relações de gênero (Gepem), que, na sua formação, foi alvo de discriminação por defender os direitos das mulheres e se posicionar como pesquisadoras feministas, além de iniciativas que buscam superar lacunas do gênero, como o Programa Meninas na Engenharia, do Campus Tucuruí. O projeto destina-se a apoiar a presença feminina em áreas predominantemente masculinas, como as áreas de tecnologia, engenharia e matemática, tendo como foco principal o curso de Engenharia de Computação ofertado no campus.
“É importante mencionar que a Universidade tem sim um papel decisivo na melhoria de vida das pessoas que pertencem a ela, e que essas iniciativas que promovem a valorização das mulheres e a equidade de gênero são imprescindíveis para a construção de uma universidade mais justa e inclusiva”, ressaltou a coordenadora do Programa Meninas na Engenharia, Viviane Santos.

Interseccionalidade – Tópico de debate durante o evento, o enfrentamento de violências de gênero e discriminações no ambiente acadêmico considera a interseccionalidade dos diversos marcadores sociais sobre as identidades e vivências das pessoas como forma de entender a complexidade das relações sociais e de como elas afetam as experiências humanas.
Sobre isso, a presidente da Comissão de Equidade de Gênero da UFPA, Roseane Pinto, considerou o evento uma oportunidade para trocar ideias e marcar posição, aprendendo coletivamente, uma vez que as pessoas na universidade, como na sociedade, são distintamente tratadas por questões de gênero e sua interseccionalidade com tantos outros marcadores sociais.
“São tantas as identidades de gênero. Não podemos simplesmente naturalizar que sejam usadas para encaixar e discriminar as pessoas. Não basta reconhecermos a diversidade entre nós, precisamos, de fato, enfrentar as violências e discriminações em nossos ambientes e nas nossas relações, rever nossas atitudes e buscar um ambiente de trabalho, de estudo e de vivência livre de tudo isso”, enfatizou.

Escuta feminina – As diversas vozes femininas trazendo relatos de situações, dificuldades e vivências na universidade ecoam nas abordagens da pesquisadora em ética, filosofia política e gênero Yara Frateschi, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Organizadora da Enciclopédia Mulheres na Filosofia, que conta com a colaboração de Halina Leal e Carolina Araújo e que foi lançada na UFPA, na noite do mesmo dia, Yara Frateschi aponta que o momento das escutas e do compartilhamento das vivências das mulheres no ambiente acadêmico embasa, por meio de diagnósticos, as ações institucionais, as quais devem ser permanentes e chegar até as salas de aula, assim como resultar na maior presença da mulher nas publicações científicas.
“É reparação social construir as condições de uma justiça científica e epistêmica e transformar esse espaço em um espaço de excelência maior. Dado que esse é um espaço de produção de conhecimento e que não existe excelência sem diversidade quando a gente adota políticas afirmativas de discriminação positiva, a gente, portanto, está construindo as condições de uma justiça científica e epistêmica”. E em outro momento: “Há poucos anos, quando a gente estava nesses ambientes acadêmicos falando sobre a questão de gênero, a palavra interseccionalidade não aparecia. Então aqui tem um avanço muito significativo”, considera a pesquisadora.

Comissão de Equidade de Gênero da UFPA – A Comissão de Equidade de Gênero foi instituída em fevereiro de 2024, com o propósito de promover ações e acompanhar/monitorar políticas institucionais de enfrentamento das assimetrias e discriminações de gênero na Instituição. A comissão, juntamente com a Ouvidoria Institucional, a Procuradoria Jurídica e a Comissão de Processo Administrativo Disciplinar, dialogam em alinhamento às políticas institucionais da Universidade para a proposição de encaminhamentos que visam à promoção de mudanças estruturais em relação à afirmação da equidade de gênero em todos os âmbitos da UFPA e da vida acadêmica.
A comissão também defende a busca por paridade de gênero em bancas de defesa, concursos e demais comissões, presta apoio no mapeamento por gênero, raça e etnia de toda a comunidade acadêmica, no incentivo à realização de eventos, campanhas, cursos de capacitação, produção de cartilhas e materiais didáticos, entre outros. De acordo com a presidente da Comissão de Equidade de Gênero, Roseane Pinto, uma carta com as questões centrais debatidas no seminário será elaborada para servir de encaminhamento para outros momentos de diálogo e sobretudo de escuta com a comunidade e de base para o Plano de ações para 2025.