O curso de Educação do Campo do Campus Altamira da UFPA acaba de completar seus primeiros 10 anos de história e, em comemoração a esse marco, docentes e egressos do curso publicaram o livro Por entre rios, florestas, travessões e vicinais: 10 anos da licenciatura em educação do campo da UFPA, Campus Altamira que reúne pesquisas e vivências desenvolvidas durante os primeiros anos dessa história. A obra traz 16 artigos, de autoria de docentes e egressos do curso, que debatem sobre a identidade das escolas do campo, sob as diferentes perspectivas dos autores.
A obra foi organizada com produções de docentes, em conjunto com alguns egressos do curso, que desenvolveram pesquisas em comunidades ribeirinhas, extrativistas, quilombolas e em outros territórios da região Transamazônica e do Xingu, além de Gurupá, na Ilha do Marajó. Durante as atividades formativas do curso – Tempos Comunidades e Tempos Universidades -, as vivências individuais e coletivas dos participantes em seus territórios são articuladas com as disciplinas curriculares do curso.
O livro tem como foco a Escola do Campo, que, muitas vezes, é a principal representação do Estado brasileiro dentro das comunidades, mas, ainda assim, vive sob o processo de ameaça de fechamento em diversas regiões do Brasil. Dentro desse contexto, os textos trazem o debate acerca de temas, como: processos educativos escolares, ensino de ciências, problemáticas ambientais, conhecimentos tradicionais, currículo escolar com identidade local, entre outras abordagens de vivências da Escola do Campo.
“O debate central é sobre a identidade da Escola do Campo, e, com isso, a gente discute o protagonismo dos atores, dos sujeitos do campo, a importância de se ter uma formação contextualizada, a importância de se ter metodologias inovadoras para pensar esse ambiente de um ensino e de uma educação diferenciada”, comenta a professora Carla Rocha, autora de um dos estudos que compõem a publicação.
De acordo com um dos organizadores do livro, professor Marcos Formigosa, a ideia de organizar a obra surgiu em 2018, quando uma equipe do Ministério da Educação (MEC) visitou as instalações do Curso de Educação do Campo para uma avaliação de reconhecimento e os avaliadores chamaram a atenção para o grande potencial das atividades de ensino, pesquisa e extensão desenvolvidas naquele ambiente, o que ocasionou na nota máxima na avaliação pelo órgão. Assim vieram as primeiras publicações em periódicos, os primeiros TCCs, os primeiros formandos e o incentivo para a produção de trabalhos inéditos para a publicação do livro comemorativo.
“Nossa intenção, agora, é fazer com que esse livro chegue até as comunidades/escolas, onde as pesquisas foram realizadas pelas mãos dos próprios egressos-autores, que são dessas comunidades. Além disso, essa produção poderá chegar a outros debates políticos e acadêmicos, porque muitas das pesquisas também são denúncias das mazelas que as escolas do campo da região vivem”, comenta o professor Marcos Formigosa.
Curso de Educação do Campo – Criado, oficialmente, em 25 de setembro de 2013, o curso nasceu com o objetivo de formar educadores para exercício na educação básica de áreas rurais, com pertencimento indígena, quilombola, camponês, assentados da reforma agrária, ribeirinhos, extrativistas, entre outros. A oferta busca proporcionar uma participação efetiva da comunidade local, na organização do trabalho escolar e pedagógico, sintonizados e comprometidos com a transformação da educação e da realidade social de cada território.
“A importância central de poder ofertar o curso nessa região tem a ver com democratização do acesso ao saber por meio do ingresso na educação superior. Por ter um processo seletivo especial para ingresso e por funcionar de acordo com a Pedagogia da Alternância, nosso curso alcança as pessoas que mais precisam e que, de outra forma, não conseguiriam entrar na universidade ou não conseguiriam permanecer nela. Somando-se a isso, há o modelo de educação diferenciada assumido pelo projeto pedagógico, o qual proporciona um processo formativo muito conectado às demandas dos territórios de vida e de atuação desses estudantes”, lembra a atual coordenadora do Curso de Educação do Campo, professora Irlanda Miléo.
Desde a conclusão das primeiras turmas em 2018, o curso, ofertado pela Faculdade de Etnodiversidade, já formou mais de 300 educadores em áreas estratégicas, como Linguagens e Ciências da Natureza, e tem demonstrado um grande poder de mobilização em comunidades da Transamazônica e do Rio Xingu, uma vez que se trata de um processo de formação coletiva que parte do território para o próprio território, o que favorece o entendimento das necessidades reais dos territórios onde esses profissionais formados vão atuar.
“A médio e longo prazos, podemos visualizar possibilidades de um futuro diferente para centenas de crianças, adolescentes e jovens camponeses, ribeirinhos, quilombolas e indígenas que não precisarão mais serem forçados a sair de suas terras para poder estudar, pois haverá escolas com professores competentes e bem formados nas suas comunidades, sensíveis às especificidades e potencialidades locais, com capacidade para atuar junto com essas populações, na direção de seus projetos de vida e futuro, fortalecendo a luta de todos nós por uma sociedade mais justa, menos desigual, que proporcione a todos uma vida mais digna, mais alegre e mais próxima da nossa vocação humana”, completa Irlanda Miléo.
Para baixar o livro Por entre rios, florestas, travessões e vicinais: 10 anos da licenciatura em educação do campo da UFPA, Campus Altamira, acesse aqui.
Texto: Assessoria de Comunicação Institucional da UFPA
Imagens: Divulgação