Com a participação de 30 moradores da Comunidade Quilombola de Igarapé Preto, a Comissão de Regularização da Universidade Federal do Pará (CRF-UFPA), a Secretaria de Ciência, Tecnologia e Educação Superior, Profissional e Tecnológica do Pará (Sectet) e a Fundação de Amparo e Desenvolvimento da Pesquisa (Fadesp) apresentaram, na última sexta-feira, 18 de agosto, na Escola Municipal Zumbi dos Palmares,na cidade de Oeiras do Pará, as criações estilísticas desenvolvidas durante o curso de Moda Afro-Brasileira, o vestir como resistência e combate à discriminação racial.
O curso integra mais uma etapa do Projeto de Pesquisa "Inovação Territorial para Jovens e Adultos da Comunidade Remanescente do Quilombo do Igarapé Preto", que promove o desenvolvimento humano e social equitativo da comunidade para integrar uma rede de empreendedores interessados em escoar a produção por meio de um modelo de negócios de hospitalidade de base comunitária e empreendedor. A capacitação foi realizada por Ysa Almeida Brasil, mestra em Comunicação, Linguagem e Cultura pela Universidade da Amazônia (Unama), e teve a participação do engenheiro, pesquisador e coordenador do projeto, Renato das Neves.
Durante o curso, foram debatidos os conceitos sobre moda e as suas relações com as cores, com a formação da identidade, o resgate da cultura e o pertencimento afrodescendente, além da troca de conhecimentos sobre cartela de cores, matéria-prima, elaboração de esboços dos designs, criação da ficha técnica e a elaboração de um editorial. “Todo ser humano tem que estar consciente de sua identidade étnica e com uma atuação dinâmica a seu favor dentro de um contexto histórico, geográfico e cultural. Esses pontos transmitem uma ampla visão para identificar um território, comportamento, identidade, pertencimento e uma ampla diversidade das relações econômicas, sociais e culturais ao longo da história”, ressaltou Ysa Almeida.
Para a apresentação das quatro coleções de peças criadas pelos participantes, foi realizado um desfile que reforça o desenvolvimento de modelo de negócio inovador de base comunitária e o fortalecimento da cidadania e de pertencimento ao quilombo. “A comunidade promoveu o desenvolvimento humano e social equitativo do quilombo, por meio das famílias que desenvolvem as suas práticas culturais agroalimentares e têm vocação para integrar uma rede de empreendedores interessados em escoar a produção de moda, a riqueza agroalimentar e a beleza turística do território para gerar emprego e renda para a comunidade”, destacou Renato das Neves.
A emoção da apresentação ficou por conta do resgate oral da história de Dona Mariazinha, uma mulher nascida no começo do Século XX, que atuou como parteira e foi uma das fundadoras do quilombo. “É uma história emocionante de ser resgatada e escrita. É a memória oral reconstruindo a história do território. Além disso, os conceitos para trabalhar a moda no território envolveram as temáticas sobre sustentabilidade, samba, ganzá, raízes quilombolas e a agricultura familiar”, lembrou o pesquisador Renato das Neves.
Novas oportunidades – Para Delzanira Machado Ramalho, moradora da comunidade que trabalha como costureira no quilombo, a participação no curso agregou mais conhecimentos para que eles possam trabalhar com o empreendedorismo de moda. “Daqui para frente, o meu trabalho possui um olhar diferenciado. Ampliei as minhas relações com a comunidade e agreguei mais valor sobre as potencialidades da moda. A partir de agora, a minha experiência será muito mais rica e vou ampliar o meu negócio”, assinalou.
Por sua vez, Robert Balieiro Rodrigues, técnico de enfermagem que tem facilidade para desenho à mão livre, viu na capacitação em moda uma nova oportunidade para desenvolver um talento que ainda não tinha sido trabalhado. “Eu tenho 25 anos e quero desenvolver o meu potencial para trabalhar com designs sobre o universo da moda e envolver a realidade da comunidade. Então, esta é uma experiência muito rica e inclusiva”, disse, com sorriso no rosto.
“Antes do curso, eu entendia que a moda era máquina, tecido e desfile. Depois da oficina, fiquei deslumbrada. A moda depende de pesquisa, conhecer a história, compreensão do uso das cores, os modelos de tecidos e um olhar sobre relações econômicas e sociais no mercado e o potencial de criação da comunidade. Esse aprendizado foi maravilhoso”, assinalou a professora Maria Katiussa Pereira.
Agora, as próximas capacitações no quilombo serão voltadas para o Marketing Digital, para que a comunidade tenha mais conhecimentos sobre o uso de plataformas digitais para a ampliação das oportunidades de negócios e geração de renda no território. “No encerramento do Projeto de Pesquisa do Quilombo do Igarapé Preto, que ocorrerá em novembro próximo, será apresentado, também, um plano de negócio para ser colocado em prática pela comunidade para que ela caminhe com a sua própria autonomia, além da realização de uma ampla feira cultural com os trabalhos da comunidade”, finalizou a integrante da CRF/UFPA Kelly Alvino.
Texto: Kid Reis – Ascom CRF/UFPA
Fotos: Renato das Neves – CRF/UFPA