O Projeto Mestre Zampa: Cultura, Memória e Resistência Quilombola, que reúne o acervo cultural de Zeferino Gonçalves dos Santos, liderança quilombola de Bairro Alto, no município de Salvaterra, foi o segundo colocado no Prêmio Pontos de Memória 2023 – Edição Helena Quadros, do Instituto Brasileiro de Museus (Ibram). O projeto tem como base o Trabalho de Conclusão de Curso de Maria Luciene dos Santos, egressa do curso de Etnodesenvolvimento do Campus Marajó-Soure da Universidade Federal do Pará e filha de Zampa.
A pesquisa realizada por Maria Luciene foi desenvolvida de forma coletiva, com a participação da Comunidade Quilombola de Bairro Alto, na Ilha do Marajó, por meio de um inventário cultural participativo que passou a compor o acervo de memórias de Zeferino Gonçalves dos Santos (1934-2022). Mestre Zampa foi um Griôt, guardião da história dos quilombos de Salvaterra-PA, agricultor, pescador, rezador, poeta, compositor, mestre de carimbó e folião do boi-bumbá, um dos mais importantes fazedores de cultura da Ilha do Marajó.
Com base neste levantamento, foi possível formalizar o Coletivo Cultural Mestre Zampa, voltado para o desenvolvimento de programas, projetos e ações de museologia social pautadas na gestão participativa e nos vínculos com a comunidade e o território.
“Fazer o registro das narrativas e memórias do mestre foi um desafio, porém realizamos um trabalho coletivo que está contribuindo para a nossa resistência cultural quilombola e fortalecendo-a. Eu pude pesquisar a minha comunidade e perceber, de outras maneiras, os problemas vividos em nosso meio. E foi com base em diversas observações, levantamentos e discussões coletivas que formulamos o que deveria ser feito para evitar o avanço do culturicídio no Quilombo de Bairro Alto”, explica Maria Luciene dos Santos.
Em agosto deste ano, o coletivo foi reconhecido como ponto de memória pelo Ibram, possibilitando sua participação na edição 2023 do Prêmio Pontos de Memória, que reuniu 100 práticas em museologia social e processos museais comunitários que contribuíram para a identificação, o registro, a pesquisa e a promoção do patrimônio material e imaterial de grupos, povos e comunidades representativos da diversidade cultural brasileira.
Coordenado pela etnoeducadora Maria Luciene dos Santos e orientado pelo professor Reinaldo Marchesi, o projeto foi classificado com uma das maiores notas nacionais e regionais e receberá um prêmio de 40 mil reais, que será revertido em atividades como a produção de um documentário curta-metragem, a elaboração de uma cartografia social como parte do inventário cultural participativo e a produção de uma cartilha sobre educação quilombola, que vão contribuir para a valorização e o fortalecimento dos saberes e fazeres quilombolas do Pará e do Brasil.
“Este é o primeiro TCC de uma estudante da UFPA a se transformar em projeto de Ponto de Memória certificado e premiado pelo Instituto Brasileiro de Museus (Ibram), um reconhecimento nacional de extrema importância para o coletivo acessar políticas públicas e ampliar novos projetos que valorizem a cultura e educação quilombola”, ressalta o professor Reinaldo Marchesi.
“O Ponto de Memória Mestre Zampa existe para honrar aqueles que vieram antes de nós e para manter viva a cultura quilombola, um ponto de referência para crianças, jovens e adultos participarem das atividades que produzimos, pois precisamos manter viva a cultura do carimbó e do boi-bumbá para os nossos filhos, netos e para outros que virão”, finaliza Maria Luciene dos Santos.
Para conhecer mais o coletivo, acesse o instagram oficial dele.
Texto: Isabelly Risuenho – Assessoria de Comunicação Institucional da UFPA
Fotos: Arquivo pessoal