Nem tudo o que parece vazio está ausente de significado. No universo da física quântica, o vácuo — esse vazio de matéria e radiação — é, na verdade, um espaço vibrante de possibilidades que movem avanços científicos e tecnológicos profundos. Foi mergulhando nesse território invisível que o pesquisador Lucas Queiroz Silva, doutor pelo Programa de Pós-Graduação em Física da Universidade Federal do Pará (PPGF/UFPA), desenvolveu um estudo que acaba de receber reconhecimento nacional.
A tese New Non Trivial Quantum Vacuum Geometric Effects: Valley and Intermediate Regimes and Repulsive Behaviors of the lateral Casimir-Polder Force, orientada pelo professor Danilo Teixeira Alves, conquistou o Prêmio José Leite Lopes de melhor tese de doutorado, na área de Física Atômica e Molecular, concedido pela Sociedade Brasileira de Física (SBF). A premiação é uma das mais relevantes do país na área e homenageia as melhores e mais inovadoras pesquisas de doutorado desenvolvidas em instituições brasileiras.

“É uma conquista bastante especial, pois é fruto de anos de esforço e dedicação. Além disso, certamente trará grandes benefícios para a minha carreira, como uma maior visibilidade das minhas pesquisas, o que possibilita novas colaborações com outras universidades tanto no Brasil quanto no exterior”, destaca Lucas Silva, que atualmente é professor do Instituto Federal do Pará (IFPA).
Segundo o autor, esse reconhecimento se estende também aos grupos de pesquisa e instituições às quais ele se envolveu ao longo da trajetória acadêmica, e evidencia o potencial da Universidade em formar pesquisadores de alto nível, capazes de produzir estudos científicos de impacto nacional e internacional.
Sobre o trabalho – Defendido em 2024, o estudo premiado investigou um tipo específico de interação quântica chamada Força de Casimir-Polder, que acontece entre partículas muito pequenas, como átomos ou moléculas, e superfícies próximas. Essas forças são tão sutis que só existem por causa das flutuações do campo eletromagnético no vácuo, ou seja, elas surgem mesmo quando tudo parece “vazio”.
A tese revelou que essas forças podem se comportar de maneiras nunca antes previstas pela ciência, atraindo partículas não apenas para os picos das superfícies, como já se imaginava até então, mas também para os vales ou até pontos intermediários. Em alguns casos, a força pode até agir de forma repulsiva, empurrando a partícula para longe de picos das corrugações. Esses novos comportamentos foram nomeados pelos pesquisadores envolvidos como “regimes de vale e intermediário”.
De acordo com o autor, esses resultados são importantes porque ajudam a entender melhor como funcionam as interações em escalas muito pequenas, o que pode contribuir para o desenvolvimento de tecnologias nas áreas de micro e nanotecnologia — como na produção de sensores e de dispositivos eletrônicos. Ao todo, a pesquisa resultou em 13 artigos científicos, com 11 já publicados em revistas internacionais reconhecidas e dois em processo de submissão. As investigações pioneiras da tese foram feitas em colaboração com Edson Nogueira, na ocasião também doutorando do PPGF/UFPA.
A conquista reforça o potencial da ciência produzida na Amazônia e evidencia a capacidade das instituições públicas da região de formar pesquisadores de excelência e gerar conhecimento de impacto internacional.