Ciência e Movimentos Sociais estarão juntos nos debates sobre questões socioambientais como forma de preparação à Conferência Mundial do Clima. Essa é a proposta da Universidade Federal do Pará (UFPA), que lançou, nesta quarta-feira, 5 de fevereiro, o Movimento “Ciências e Vozes da Amazônia na COP 30”. Reitores de universidades federais de diferentes regiões do país, especialistas em mudanças climáticas, movimentos sociais e lideranças indígenas e quilombolas, além de autoridades e representantes governamentais marcaram presença no encontro.
Na mesa de abertura, estiveram presentes o reitor da Universidade Federal do Pará, Gilmar Pereira da Silva; a vice-reitora da UFPA, Loiane Prado Verbicaro; o secretário de Educação Superior (Sesu/MEC), Alexandre Brasil Carvalho; o coordenador-geral de Ciência do Clima, Márcio Rojas (representando o MCTI); a diretora de Tecnologia Social, Economia Solidária e Tecnologia Assistiva (DEPTS/MCTI), Sônia da Costa; o diretor-presidente da Fundação Amazônia de Amparo a Estudos e Pesquisa (Fapespa), Marcel do Nascimento Botelho; o secretário municipal para a COP 30, André Godinho; o presidente da Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes), José Daniel Diniz Melo; o diretor executivo da Fundação de Amparo e Desenvolvimento da Pesquisa (Fadesp), Roberto Ferraz Barreto; a representante da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira(Coiab), Auricélia Arapium; e a representante da Cúpula dos Povos, Yyanifà Ghys Oiyrete.


“Devemos ressaltar que aqui nós temos uma tradição histórica de estudos e pesquisas voltados a questões sociais, ambientais e climáticas. Defendemos o valor das diferentes vozes e saberes envolvidos nesse processo e conclamamos a todos que participem desse que é um movimento diverso e democrático”, defendeu o reitor da UFPA, Gilmar Pereira da Silva, destacando que a ideia é mobilizar diferentes setores da sociedade, estabelecendo uma conexão de conhecimentos, por meio do que é realizado tanto pela comunidade científica e acadêmica, quanto por atores de inúmeros movimentos sociais da região.
O movimento nasce com o objetivo de contribuir para as discussões científicas voltadas a soluções globais e locais relacionadas às temáticas da trigésima Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças do Clima – COP 30, em diálogo com diferentes grupos sociais, movimentos e instituições amazônicas. A ideia é estimular e fomentar a reflexão crítica sobre as temáticas da COP 30, integrar instituições públicas de ensino técnico e superior, instituições de ciência e tecnologia , envolvendo professores, estudantes, técnicos e movimentos sociais em diálogos que amplifiquem suas vozes.
O secretário de Educação Superior, Alexandre Brasil Carvalho Fonseca, do Ministério da Educação (MEC), salientou que essa mobilização iniciada em Belém representa um momento decisivo, pois coloca a Amazônia no centro das discussões climáticas globais. “Não há um futuro sustentável para o planeta sem que as populações amazônicas sejam ouvidas. O conhecimento produzido na região, nas universidades públicas amazônicas e pelos movimentos sociais deve ser colocado em pauta. São essas vozes amazônicas que representam a proteção da floresta, do meio ambiente”.




O presidente da Andifes, José Daniel Diniz Melo, destacou a importância da realização da COP 30 no Brasil como uma oportunidade para ratificar o compromisso do país no enfrentamento das mudanças climáticas: “Trata-se de uma grande oportunidade para que nosso país possa reafirmar seu compromisso e seu papel de liderança em áreas como mudanças climáticas e sustentabilidade, além de demonstrar os esforços e o conhecimento tanto tecnológico quanto dos saberes tradicionais”, defendeu.
“Falar sobre a COP 30 não faz sentido se nós não pensarmos em um projeto de futuro para a nossa Amazônia, com justiça climática efetiva, inclusão e ações que não se limitem à culminância da realização em novembro. A UFPA acredita que esse é um papel coletivo e está de portas abertas para essa contribuição”, destacou a vice-reitora da UFPA.
A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, abriu a segunda parte da programação, em transmissão ao vivo pela internet, e apresentada aos participantes. “Reconhecemos a importância da comunidade acadêmica junto com os diversos setores da sociedade civil nessa mobilização para dar sua contribuição, sobretudo nesse momento ainda precoce de preparação, para que a gente possa internalizar a dinâmica social, cultural, política, científica do nosso país, em tudo o que significa o desafio da realização da Conferência Mundial do Clima, em um contexto tão desafiador como esse que estamos vivendo no Brasil e no mundo”, disse a ministra.

Pluralidade – Ao todo, 11 reitores de universidades participaram do evento. Além disso, o lançamento da agenda do “Ciência e Vozes da Amazônia na COP 30”, na Universidade Federal do Pará, teve forte participação de movimentos sociais, com representantes da Cúpula dos Povos, COP das Baixadas, Movimento Negro e Quilombola, ribeirinhos, além de inúmeras lideranças indígenas.
Em tom de protesto, membros dos povos originários entoaram cantos e clamaram pela inserção e pelo protagonismo dessas populações nas discussões sobre os problemas socioambientais que os atravessam hoje. Eles destacaram, entre outras reivindicações, a luta por educação de qualidade nos seus territórios, com ênfase à manifestação realizada no Pará contra a aprovação da uma lei estadual que altera a política e educação indígena paraense (Lei 10.820/24). Segundo eles, as questões ambientais não podem estar dissociadas de direitos elementares, como o acesso ao ensino público. “Estamos hoje aqui, neste evento, para dizer que nós existimos, que temos direitos, e que queremos estudar. A COP também é um espaço para afirmar isso”, pontuou o cacique Dadá Borari, do povo borari, de Santarém, oeste do Pará.
A representante da Cúpula dos Povos, Iyanifa Ghys Oiyrete, também destacou a necessidade de que se reconheçam os saberes ancestrais. “É preciso virar a chave do modo de produção de vida, porque ele é altamente destrutivo. Os saberes dos povos quilombolas e indígenas precisam entrar na pauta das políticas ambientais no Brasil”, apontou. “É fundamental enfatizar a ciência ancestral. Há muitos anos, nossos ancestrais vêm dizendo: ‘Parem de explorar, parem de desmatar’. Nós somos os que mais sofrem as consequências das mudanças climáticas, nós precisamos ser ouvidos e vistos”, criticou a representante da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira(Coiab).




Lançamentos – Durante o lançamento do Movimento “Ciência e Vozes da Amazônia na COP 30”, a UFPA apresentou o hotsite do movimento . Os conteúdos do hotsite podem ser lidos em português, inglês, francês e espanhol. Na aba programação, está disponível um formulário para inserção de atividades e ações autogestadas, que serão divulgadas amplamente ao longo do ano. Elas comporão a agenda de programação do “Ciência e Vozes da Amazônia na COP 30” durante 2025. Na aba publicação, encontra-se disponível “Ciência e Vozes da Amazônia na COP 30”.
A publicação tem como objetivo apresentar, sinteticamente e de forma envolvente, conhecimentos científicos e sociais produzidos na Amazônia, buscando visibilizá-los e os fazendo circular amplamente. Depois deste exemplar, a cada mês, será lançado um número, com textos redigidos de maneira acessível a diferentes públicos, de autoria de docentes e pesquisadores das instituições de ensino e pesquisa da Amazônia e de lideranças da sociedade civil e dos povos e comunidades tradicionais.



