Em meio às discussões científicas da 76ª Reunião Anual da SBPC, que está rolando na UFPA, o “Paneiro: Espaço da Cultura Alimentar” chama a atenção por seus aromas e sabores. Destacando a culinária paraense, o espaço faz um convite para um banquete cultural, no qual sabores regionais e encantos gastronômicos se revelam em toda sua riqueza e diversidade.
A culinária paraense diversificada é um reflexo da biodiversidade da Amazônia e da mistura de culturas, contendo sua maior influência na cultura indígena, portuguesa e africana. E, para mostrar que a relação que os paraenses têm com a comida regional vai muito além da alimentação, o espaço Paneiro apresentou aos visitantes uma diversidade de iniciativas que produzem pratos da gastronomia regional.
Utilizando como matéria-prima apenas produtos de agricultores que cultivam de forma sustentável e sem adubação química, o Instituto de Vida em Sintropia da Amazônia (Ivisam), que já participa de projetos da Universidade, é um dos expositores presentes que promovem a agroecologia na Amazônia, cuidando da terra e das pessoas.
“Vendemos um produto de qualidade, como se fosse para a nossa própria família. Recebemos visitantes de Brasília, Bahia e até da Alemanha, e eles perceberam que o sabor do nosso açaí é completamente diferente. Todos gostaram e aprovaram o produto. Explicamos de onde vem o açaí, como é o nosso processo e foi uma oportunidade de apresentá-lo puro, sem misturas”, explicou Cleudiane, moradora de Maracanã e integrante do Instituto Ivisam.
Além deles, outros chefs de cozinha e cozinheiros de comunidades tradicionais também estão presentes no espaço para oferecer aos participantes da SBPC uma experiência única com a culinária da região.
“Eu estou amando a experiência, a cultura e os diferentes alimentos. Já provei o tacacá e o açaí. Estou amando o espaço. A comida que mais gostei foi o açaí, sem comparação, ele é incrível. É muito diferente para a gente lá no Tocantins. Então, sem comparação, para mim, é o melhor”, contou Natália Magalhães, estudante da Universidade Federal do Norte do Tocantins (UFNT).
Culinária de resistência – Além de integrar os debates sobre a culinária da terra e a culinária de resistência, o Estande Armazém do Campo MST tem apresentado um cardápio variado para os visitantes, com opções veganas e de origem animal.
“O evento já é um grande sucesso. Estamos recebendo pessoas de vários estados e até de outros países que se interessam pela nossa culinária, especialmente a culinária de resistência da Amazônia. Nós, do Armazém do Campo do MST, optamos por trazer uma alimentação livre de agrotóxicos, baseada na resistência dos acampamentos e assentamentos. Todos os alimentos vêm de áreas de reforma agrária, como café, leite, legumes, hortaliças e frutas produzidas nas nossas comunidades”, explica Abionça, integrante do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST).
No Paneiro, os visitantes também têm a oportunidade de mergulhar na culinária paraense, conhecendo seus costumes, tradições e sabores, incluindo o processo de preparo dos pratos com a realização de aulas show que são ministradas por chefs convidados. Bianca França, doutora em História, Política e Bens Culturais e palestrante, pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), do Rio de Janeiro, visitou o Paneiro e contou sobre suas impressões acerca da culinária paraense.
“É interessante perceber como a gastronomia aqui é diferente da do Sudeste. O açaí, por exemplo, é muito chocante para quem está acostumado a consumi-lo adoçado como um sorvete. Aqui, experimentar o açaí com farinha e peixe é uma experiência sensorial completamente nova. Algumas pessoas do Sudeste acham estranho, mas eu achei maravilhoso. O Norte tem uma variedade de frutas fantásticas que não chegam ao Sudeste. Esta experiência está sendo incrível, e estou adorando conhecer sabores que não tenho acesso no Rio de Janeiro”, contou Bianca.
Disponível até o último dia de programação (13), o espaço conta com 40 estandes em que os participantes podem conhecer os ingredientes típicos da região, como o tucupi, o jambu e a mandioca, além de aprender as técnicas culinárias utilizadas pelas comunidades tradicionais.