Especialista destaca aprimoramento da estrutura de vigilância de plano de saúde aprovado na COP 30

Nos últimos 35 anos, a temperatura no mundo elevou-se em torno de 20%. O calor extremo tem sido a causa da morte de 550 mil pessoas, anualmente, em todo o mundo. Esses dados, apresentados por Jarbas Barbosa, diretor da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), chamaram atenção do Ministério da Saúde do Brasil para a necessidade de inserir na pauta da COP 30 a questão da saúde como impacto da crise climática. 

O resultado dessa preocupação foi o lançamento, no dia 13 de novembro, do Plano de Ação em Saúde de Belém para a Adaptação do Setor de Saúde às mudanças do clima, um documento que busca fortalecer a adaptação e a resiliência do setor às mudanças do clima com foco em vigilância, capacitação, inovação e políticas baseadas em evidências. O plano já nasceu com um aporte de US$ 300 milhões anunciado pela Coalização de Financiadores do Clima e Saúde, que reúne mais de 35 organizações filantrópicas internacionais.

As ações do plano serão coordenadas em colaboração com a Alianças para Ação Transformadora em Clima e Saúde (Athac), sob supervisão da Organização Mundial de Saúde (OMS). Este é o primeiro documento internacional de adaptação climática dedicado à saúde. Segundo o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, o texto propõe ações para os países lidarem com os efeitos já sentidos da mudança do clima, que põe em risco, principalmente, as populações mais vulneráveis. 

“A adaptação deve ser tratada com a mesma seriedade e compromisso político que a mitigação. Para muitos países, adaptar-se é uma questão de sobrevivência imediata”, afirmou o ministro. Para Ana Toni, CEO da COP 30, o plano coloca o Brasil à frente da discussão sobre saúde e mudança do clima. “Sim, o Brasil tem o SUS e trazê-lo para o coração da COP torna o tema da saúde uma prioridade. Já temos 80 países e parceiros internacionais fazendo parte do Plano de Ação”, destacou.   

O plano busca fortalecer a adaptação e a resiliência do setor de saúde às mudanças climáticas por meio do avanço de sistemas integrados de vigilância e monitoramento, da aceleração do fortalecimento de capacidades, da promoção da implementação de políticas baseadas em evidências e da inovação e produção sustentáveis. O plano leva em conta a diversidade de necessidades e contextos nacionais dos sistemas de saúde em todo o mundo e reconhece a importância da colaboração intersetorial para acelerar esforços de mitigação que gerem benefícios à saúde. A meta global é incluir o Plano de Belém  nos relatórios da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (UNFCCC) e em outros mecanismos relevantes. Todas as partes que compõem a COP apresentarão as ações implementadas até a COP 33, em 2028.

Sistemas rápidos de alerta – Para a professora da UFPA Rita Medeiros Sousa, doutora em Virologia médica, a questão do impacto do aquecimento na área da saúde é um problema global, que afeta todos os povos. “Muitos países na faixa tropical vão enfrentar problemas semelhantes. A perda de florestas levará a mudanças comportamentais de animais silvestres e ao maior contato com o homem, e isso representa risco de emergência de novas doenças infecciosas”, alerta. 

Ela observa que mesmo os países de clima temperado não estarão livres de problemas, porque lá também haverá mudanças, “com maior proliferação de mosquitos transmissores de vírus e outros micro-organismos”. Na avaliação dela, o plano é um aprimoramento da estrutura de vigilância em saúde, com a criação de sistemas rápidos de alerta. 

O plano visa, ainda, elaborar ações para garantir segurança hídrica e alimentar. “Não se pode mais deixar pessoas vulneráveis a doenças relacionadas ao consumo inadequado de água e alimentos, ou à falta destes. Os metais pesados, despejados sem cuidado no meio ambiente, contaminam os rios. O mercúrio é um exemplo desses metais pesados que contaminam não somente a água, mas também peixes e mariscos que consumimos”, observa. 

A ausência de saneamento básico é outro fator de contaminação dos rios e mananciais por coliformes fecais. “Neste caso, há o risco de aumento da transmissão de vírus causadores da hepatite A, da poliomielite em pessoas não vacinadas e até da cólera, que pode ser reintroduzida na região”, comenta Rita.

Entre as doenças mais agravadas pelas mudanças climáticas, estão as transmitidas por mosquitos, como a dengue, a malária e a chikungunya. Rita Medeiros ressalta que, na Amazônia, os ribeirinhos estão expostos a diversas dessas doenças, algumas preveníveis  com vacina, como a febre amarela. “Mas como são populações distantes dos centros  urbanos,  muitas vezes são esquecidas pelo poder público, e não há oferta adequada de vacinação pelo município”, pontua.

Neste cenário, a professora acredita que as universidades e os institutos de pesquisa serão fundamentais para o Plano de Ação em Saúde de Belém. “Elas devem ser protagonistas em nível de pesquisa e ensino sobre esses problemas relacionados a fatores climáticos, especialmente os determinantes das doenças  negligenciadas, que são mais prevalentes na Amazônia. Diversos grupos de pesquisa e vários cursos de pós-graduação da UFPA já atuam nessa linha, não só os pesquisadores da área da saúde, mas também os das engenharias e das humanidades”. Ela considera priorizar, como política de estado, fomentar pesquisas que contribuam para  o entendimento dos processos de saúde e doença da população, e seus determinantes condicionantes. “Temos a obrigação de contribuir para soluções mais rápidas, baratas e eficazes, no combate a velhas  e  novas mazelas que atingem  e atingirão  nossa população”, conclui Rita Medeiros.

TEXTO: Walter Pinto - Assessoria de Comunicação Institucional da UFPA

FOTOS: Vinicius Gonçalves - Assessoria de Comunicação Institucional da UFPA

Relação com os ODS da ONU:

ODS 3 - Saúde e Bem-EstarODS 6 - Água Potável e SaneamentoODS 10 - Redução das DesigualdadesODS 13 - Ação Contra a Mudança Global do Clima

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