A discente do Programa de Pós-Graduação em Gestão dos Recursos Naturais e Desenvolvimento Local na Amazônia (PPGEDAM), Antônia Negrão, criou um glossário ilustrado sobre o açaí. O material é um produto da dissertação de mestrado da aluna e tem como objetivo contribuir para o diálogo de saberes entre os agentes de assistência técnica e os ribeirinhos das ilhas de Abaetetuba. O trabalho foi orientado pela professora Rosana Maneschy e coorientado pelo professor Wagner Barbosa.
O produto reúne as variações linguísticas identificadas na linguagem coloquial utilizada pelas populações das ilhas de Abaetetuba; utensílios; temporalidade da atividade, desde a floração até a coleta; localização do recurso natural; formas de enriquecimento com outras espécies ou aumento da densidade de açaizeiros e as plantas necessárias à confecção dos artefatos utilizados, desde a coleta até a extração do açaí. Para conferir o trabalho, acesse aqui.
“Elaboramos uma espécie de ‘Ficha agroecológica’ com base na experiência prática dos ribeirinhos, que tem como objetivo disponibilizar informação técnica de forma resumida, em linguagem simples e acessível, aos produtores rurais. Desde o início, visamos contribuir para o diálogo de saberes, por meio de um material que sistematizasse o conhecimento local”, afirma Antônia Negrão, que é moradora de Abaetetuba e professora da Rede Municipal de Ensino.
Em virtude da importância que o açaí possui para a região amazônica, o trabalho foi pensado como um produto que pudesse auxiliar o diálogo de saberes entre ribeirinhos e técnicos, uma vez que existem expressões regionais relacionadas ao manejo de açaizais que, não necessariamente, têm uma correspondência clara com a linguagem técnico-científica.
Segundo a professora Rosana Maneschy, outro ponto importante abordado é o risco do manejo inadequado de áreas de várzea para o cultivo do açaí, o que, segundo ela, pode provocar um processo de degradação biocultural.
“Em função da demanda pelos frutos do açaizeiro, as áreas de várzea, tradicionalmente biodiversas, têm sido manejadas de forma a aumentar a densidade de palmeiras de açaí em detrimento às outras espécies comumente encontradas neste ecossistema, o que leva a um processo de degradação biocultural. Assim, é oportuna a necessidade de melhoria da capacitação dos agricultores familiares para o manejo adequado dos açaizais a partir de intervenções da Assistência Técnica e Extensão Rural (ATER), que considere a racionalidade do ribeirinho e seu saber local”, explica.
“Minha família trabalha com a extração dos frutos de açaí e, durante as disciplinas do curso de Mestrado, percebi a importância da valorização do conhecimento local e da organização das comunidades nas atividades produtivas para possibilitar o desenvolvimento do lugar. A atividade de extração de frutos do açaizeiro é parte da cultura dos ribeirinhos que manejam as palmeiras para a alimentação e, ao longo do tempo, ocorreram mudanças nas práticas de manejo em função da demanda pelo mercado. Essas mudanças são benéficas em termos de geração de renda para as comunidades, mas devem ser acompanhadas de capacitação técnica para a manutenção da biodiversidade, da sustentabilidade e da importância biocultural dos ecossistemas de várzea para as populações locais”, finaliza Antônia Negrão.
Para conferir o “Glossário de Expressões Regionais, Plantas e Utensílios Relacionados ao Manejo de Açaizais Utilizados por Ribeirinhos nas Ilhas de Abaetetuba – PA”, acesse aqui.
Texto: Adams Mercês – Assessoria de Comunicação da UFPA
Arte: Assessoria NUMA