Abordando o contexto quilombola na organização dos Jogos Quilombolas de Jacarequara, no município do Acará, os estudantes do curso de Educação Física da Universidade Federal do Pará Ronald Oliveira de Souza e Jamilly Ferreira Moreira foram premiados com o Prêmio de Literatura Científica do Colégio Brasileiro de Ciências do Esporte (CBCE) na categoria “Movimentos Sociais”. Sob o tema “Jogos Quilombolas do Baixo Acará no Pará: História, Práticas Corporais e Resistência”, os discentes abordaram a memória e as histórias daqueles que vivenciaram a realização.
O artigo produzido pelos discentes tem o objetivo de pesquisar os jogos quilombolas que ocorrem no território de Jacarequara, que conta com, aproximadamente, 15 comunidades, investigando quando eles começaram a ser realizados, o movimento de criação, as pessoas que estiveram à frente da iniciativa, como funcionam, como ocorre a participação das comunidades nos jogos, as práticas corporais presentes nos jogos e qual o sentido dos jogos para essas comunidades. Para tanto, os discentes investigaram os jogos com base nos relatos dos integrantes mais velhos das comunidades São José, Trindade 1 e 3 e Monte Alegre.
“A gente buscou valorizar a oralidade das pessoas mais velhas, que deram origem aos jogos, e, com base nesses relatos, a gente conseguiu adentrar em outros temas importantes, inclusive a participação feminina dentro dos jogos e também como os jogos são um movimento de resistência dentro do território e como ele mobiliza toda uma coletividade das pessoas que fazem parte”, aponta Ronald de Souza, sobre o desenvolvimento da pesquisa.

A pesquisa mostrou que os jogos, que já estão presentes há 13 anos no território, funcionam como um espaço de resistência. Eles demonstram toda a coletividade de um povo que, historicamente, é marginalizado e que enfrenta diversos problemas na sociedade atual, como o racismo. Esse momento dos jogos serve, ainda, como uma maneira de confraternização, que vai além de uma competição, em que todas as comunidades estão alinhadas ao pensamento de que os jogos quilombolas são uma atividade importante para o território. Para as comunidades, os jogos são considerados como um feriado em todo o território e, para os estudantes, poder pesquisá-lo é uma forma de contribuição com o território, uma vez que ambos participam dos jogos desde criança.
“Receber o Prêmio de Literatura Científica graças a um trabalho que está em minha realidade e tem grande significado foi uma experiência que ficou marcada por um profundo sentimento de gratidão. Esse reconhecimento representa não apenas a valorização de uma tradição em comunidades quilombolas do Jacarequara no baixo Acará, mas também o resultado de um percurso construído com dedicação, esforço e compromisso com a produção do conhecimento sobre os jogos quilombolas. É gratificante perceber que a pesquisa desenvolvida alcançou relevância e pôde contribuir, de forma significativa, para o campo científico e minha vida acadêmica”, declara Jamilly Moreira.
A premiação ocorreu no dia 6 de outubro, durante o 14° Congresso Brasileiro de Ciências do Esporte (Conbrace), que é associado ao Congresso Internacional de Ciências do Esporte (Conice), realizado em São Paulo. Além dos estudantes, a professora e orientadora do trabalho, Joselene Mota, também esteve presente na cerimônia.
“A relevância dessa relação universidade-comunidade é grande, porque aí está, mais do que nunca, materializada a ideia do saber que vem da população e que vem de populações tradicionais, com o saber científico. Tudo somado dá um resultado como este trabalho, que é um espelho pra gente, por ser uma referência dessa autoorganização de valorização do tempo livre”, ressaltou a professora Joselene Mota sobre a importância da pesquisa.