Em pleno Abril Vermelho, mês marcado pela luta em defesa da vida dos povos indígenas, 85 estudantes indígenas da Universidade Federal do Pará (UFPA), que não puderam retornar para os seus respectivos territórios em razão da pandemia, foram vacinados contra a Covid-19 em Belém. A ação ocorreu na última quarta-feira, 15 de abril, no Distrito Sanitário Especial Indígena Guamá-Tocantins (DSEI-GuaToc).
Hoje há estudantes indígenas de aproximadamente 41 etnias dentro da UFPA que, em virtude das suas condições socioeconômicas, das dificuldades de logística e de distância, e até das próprias barreiras sanitárias impostas para a proteção de suas respectivas comunidades, ainda não haviam sido vacinados, embora tivessem direito a esta vacinação prioritária. “O fato de sairmos de dentro das nossas comunidades para buscar um ensino diferenciado dentro de uma universidade não faz com que deixemos de ser indígenas. Nós temos os nossos territórios, a nossa comunidade, a nossa cultura, a nossa língua. Viemos para a cidade para buscar algo diferente, na tentativa de dialogar com os dois mundos, para nos tornarmos profissionais de áreas que possam dar retorno às dificuldades dos nossos territórios”, aponta Eliene Putira Sacuena, da etnia Baré, biomédica e técnica da Coordenação Estadual de Saúde Indígena e Populações Tradicionais da Sespa.
E é justamente ao sair de seus territórios para a cidade que os indígenas acabam se tornando um grupo de grande vulnerabilidade social em um ambiente urbano que aumenta o risco de adoecimento. Para evitar que esse grupo continuasse em risco com a impossibilidade de retorno às comunidades, a APYEUFPA – Associação dos Povos Indígenas Estudantes da UFPA, com apoio da Federação dos Povos Indígenas do Pará (Fepipa) e da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab), solicitou à Secretaria de Estado de Saúde Pública (Sespa) a disponibilização de doses para que os estudantes indígenas pudessem ser vacinados em Belém.
“Quando o estudante indígena entra na UFPA por meio do Processo Seletivo Especial para Indígenas e Quilombolas, ele já entra porque tem um território, uma liderança e uma declaração de pertencimento étnico que estabelece que seu vínculo está relacionado à questão dos territórios indígenas. Então esses estudantes também têm suas aldeias e suas comunidades, por isso a Sespa teve esse olhar diferenciado para que esses indígenas, que estão em Belém, pudessem tomar a vacina e não ser penalizados por este processo”, explica Eliene Putira Sacuena.
Os estudantes receberam a vacina da Oxford/Astrazeneca e foram orientados sobre os cuidados necessários até o retorno para a segunda dose. Entre os indígenas vacinados, está a estudante do curso de Administração Virginia Arapaso, de 33 anos, que ressaltou a importância da ação. “Para nós, estudantes indígenas que ficamos em Belém e não tivemos como retornar para nossas comunidades por conta da logística e do custo que é isso, esse dia é histórico. Eu espero que todos possam conseguir ser vacinados. Essa é uma esperança que a gente não pode perder para que esta pandemia seja logo estabilizada. Que todos os parentes e todos os outros povos possam também ser vacinados. #VacinaParente”.
Abril Vermelho – A campanha Abril Vermelho tem o objetivo de mobilizar e promover diversas ações em defesa da vida e dos direitos dos povos indígenas. “O Abril Vermelho é uma campanha também para ressignificar o tal do ‘Dia do Índio'. Não é festejar, não é comemorar. É para mostrar os nossos anseios e a nossa luta pelos nossos direitos enquanto povos indígenas da Amazônia e de todo o Brasil”, comenta Virginia, do povo Arapaso, da região do Rio Negro/ Amazonas.
A campanha é uma forma de fortalecer as lutas dos povos indígenas, dando visibilidade e alcance para os meios de comunicação em que o conteúdo é trabalhado pelos próprios indígenas e aborda as reivindicações de diferentes etnias. “Hoje em dia, temos que lidar não somente com a expulsão das nossas terras e a invasão de nossos territórios por garimpos, mas também estamos tendo que lidar com a situação do vírus em nossas comunidades. A nossa luta é também para que as vacinas cheguem em todas as comunidades e os meios de comunicação cheguem nos locais mais distantes, onde pessoas que se dizem religiosas falam que a vacina não faz bem. A gente procura fortalecer as nossas lutas nas nossas bases e comunidades e abordar nos meios de comunicação esses temas para que os não indígenas também possam acompanhar”, pontua.
Texto: Maissa Trajano – Assessoria de Comunicação Institucional da UFPA
Fotos: Alexandre de Moraes