Com trajetória de vida dedicada à pesquisa e educação, a professora da Universidade Federal do Pará (UFPA), Victoria Isaac, recebeu uma menção honrosa no prêmio Mulheres das Águas 2024, na categoria “Pesquisa”. Organizada pelo Governo Federal, a premiação busca fortalecer o papel de protagonismo das mulheres que se dedicam às questões relacionadas com a pesca.
A bióloga pesqueira, cientista e pesquisadora Victoria Isaac, ingressou na UFPA em 1998, realizando diversas atividades de pesquisa, extensão, administração e formação de recursos humanos. Em 2019, fundou o Núcleo de Ecologia Aquática e Pesca da Amazônia (Neap), no qual permaneceu até sua aposentadoria, contribuindo assim para a produção de conhecimento e gestão da pesca na região amazônica e no Brasil. Atualmente, Victória é professora titular voluntária da Universidade e continua orientando alunos e participando de projetos.
“Fiquei muito honrada em receber esta condecoração no final da minha carreira. Foi muita emoção. O reconhecimento do nosso trabalho é sempre uma grande gratificação que honra não somente a mim, mas a todos os que nos acompanham nesta caminhada”, manifestou a docente com orgulho.
O prêmio Mulheres das Águas foi instituído em 2024 pelo Ministério da Pesca e Aquicultura e reconhece, homenageia e premia mulheres notáveis que se destacaram em ações e trabalhos nas áreas de pesca e aquicultura, representando uma história de dedicação e conquistas nesse setor fundamental para a economia e a cultura brasileira, promovendo sustentabilidade, justiça social, respeito aos territórios e dignidade humana.
Pesquisas e extensão – A Biologia Pesqueira é uma ciência que faz fronteira com a Economia, a Sociologia, a Antropologia e as Ciências Políticas, além de usar também ferramentas da Biomatemática e da Bioestatística. Para a docente da UFPA, a formação de um diálogo comum entre produtores, governo e pesquisa permanece sendo um dos principais desafios na área. De acordo com Victoria Isaac, existe muita desconfiança dos produtores que temem ainda condições mais difíceis para exercer sua atividade, além de muitas lacunas de conhecimento científico sobre a pesca.
“Existe uma visão tecnocrática das instituições que buscam impor medidas de cima para baixo sem entender se a realidade do pescador permite a aplicação das normas. Além disso, o desenvolvimento de mecanismos de governança dos produtores, para ganharem poder é outro desafio que em parte nos ocupa. Muitas das qualificações que precisamos para essa interação são adquiridas na prática, no convívio e na experiência de campo, e não vêm da sala de aula ou da academia”, alerta Victoria Isaac.
Protagonismo feminino – A professora destaca que seu interesse na área de pesquisa sobre recursos pesqueiros foi intencionada pelo desejo pessoal de fazer a diferença no dia-dia. “Apesar de gostar de fazer pesquisa, sempre pensei em juntar o que aprendemos na academia com a realidade das pessoas mais necessitadas. A pesca me deu a oportunidade de conhecer as dimensões humanas da atividade: os problemas, a vida sofrida do pescador na busca de melhores condições, as contradições entre o saber e a realidade e os desafios de colocar isso na prática em um sistema institucional brasileiro onde há muita burocracia e impedimentos políticos e econômicos”, sublinha a professora.
Apesar dos desafios na academia, um ambiente que na avaliação da docente ainda reflete o machismo que domina a sociedade, Victoria acredita no poder e na força feminina. “Somos mulheres, pesquisadoras, mães, pescadoras, gestoras, mas também donas de casa, funcionárias, laboratoristas, assistentes, enfim, uma infinidade de funções, algumas das quais absorvemos de forma simultânea com uma capacidade ímpar. O mundo e o Brasil estão nos reconhecendo e minha palavra é de impulso, de força. Não há como temer. O futuro é do que a gente quiser”, aposta Victoria. “Não deixe passar o seu tempo, olhando pela janela, seja protagonista. Penso que o mundo seria bem melhor se fosse governado pelas mulheres”, incentiva a premiada.
