Atualmente, três grupos de pesquisa em funcionamento na Universidade Federal do Pará (UFPA) abordam a questão de gênero, sexualidade e comunidades LGBTQIA+. São eles: Grupo de Pesquisa em Sexualidades, Corpo e Gênero (Sexgen), Grupo de Estudos e Pesquisas “Eneida de Moraes” sobre Mulher e Relações de Gênero (Gepem) e o Grupo Direito à Igualdade e Valorização das Sexualidades (D.I.Va.S).
O Grupo de Pesquisa em Sexualidades, Corpo e Gênero (Sexgen), cadastrado no Diretório de Grupos de Pesquisas do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI), tem coordenação do professor Fabiano Gontijo, vinculado à Faculdade de Ciências Sociais e ao Programa de Pós-Graduação em Antropologia, do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da UFPA.
Criado em 2006 na Universidade Federal do Piauí (UFPI) para agregar discentes, docentes e pesquisadores/as, profissionais da grande área das Humanidades, interessados/as nas mais diversas questões relativas à sexualidade, ao gênero e à interseccionalidade entre diversos eixos de opressão (tais como classe, raça, pertença étnica, geração, gênero e sexualidade), a partir de 2013, passou a ser sediado na Federal paraense. Logo em seguida, o grupo criou uma célula também na Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa).
O Sexgen funciona com encontros para discussão dos principais temas referentes à diversidade sexual e de gênero, realização de pesquisas, participações em atividades acadêmicas e engajamento em atividades extra-acadêmicas, publicações de artigos, capítulos de livros e livros com os principais resultados das pesquisas e reflexões e, enfim, oferta de propostas de extensão com forte impacto social.
Segundo o coordenador, Fabiano Gontijo, as principais pesquisas realizadas no grupo tem a ver, por um lado, com as experiências da diversidade sexual e de gênero em sua interface com a ruralidade, em contextos interioranos, e, por outro, com as opressões de gênero e as discriminações por orientação sexual, em contextos urbanos.
“Com a inserção na Amazônia, as pesquisas passaram a considerar ainda as situações etnicamente diferenciadas (quilombolas, indígenas e ribeirinhas), trazendo à tona um conjunto interessante de expressões da diversidade sexual e de gênero até então pouco abordadas nos estudos sobre sexualidade e gênero, nos estudos sobre ruralidades e nos estudos sobre etnicidade realizados no Brasil”, relata o professor. Desse modo, o grupo desenvolveu importantes reflexões sobre a persistência de práticas colonialistas, no que diz respeito à maneira como os desejos e os afetos são normatizados no Brasil.
A partir daí, as pesquisas do Sexgen começaram a se concentrar nos dispositivos, nos mecanismos, nas estratégias e tecnologias de poder/saber que valorizam positivamente, “naturalizam” e “essencializam” certas experiências, expressões ou identidades, em detrimento daquelas que serão, por conseguinte, silenciadas, ocultadas, enquadradas, patologizadas ou criminalizadas. “As primeiras são aquelas que adequam a heterossexualidade compulsória e a heteronormatividade: um mundo corpóreo dividido inevitavelmnete em dois sexos e dois gêneros direcionados teleologicamente um para o outro. As últimas são aquelas disciplinarizadas, controladas e reguladas pelo Estado e suas instituições e ramificações, por meio das discursividades médico-científicas, das normatividades jurídico-morais e das moralidades religiosas (principalmente cristãs). Aquelas práticas de silenciamento, ocultamento, enquadramento, patologização ou criminalização de tudo o que não se encaixa no padrão heteronormativo serviriam para esconder as estruturas ideológicas arbitrárias de poder sobre as quais se assentam os Estados nacionais modernos e que sustentam as relações no sistema-mundo global”, explica Gontijo.
Como um dos principais objetivos do grupo, o coordenador aponta a realização de “pesquisas engajadas, responsáveis e éticas, que desestabilizam a hegemonia da heteronormatividade, da homofobia, do sexismo, do racismo e do classismo, ao considerar outres sujeites, outras moralidades, outras legalidades, outras discursividades, outras ontologias, outras epistemologias”. Somente dessa forma, “será possível, então, promover uma experiência de cidadania capaz de dar conta da justiça social por meio do respeito à diversidade e, assim, combater as opressões baseadas em arbitrários culturais”, complementa.
GEPEM – Também empenhado em entender, planejar e realizar estudos e pesquisas, no âmbito da universidade e também fora dele, envolvendo a temática de gênero, bem como a discussão acerca, nesse caso, das mulheres em suas múltiplas vivências e, com isso, produzir, visibilizar e estimular o debate, o Grupo de Estudos e Pesquisas “Eneida de Moraes” sobre Mulher e Relações de Gênero (Gepem) foi criado em 1994, sob a coordenação das professoras Maria Luzia Miranda Álvares e Eunice Santos.
Hoje coordenado pela professora Telma Amaral, do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH/UFPA), o grupo agrega pesquisadoras/es do tema de áreas diversas do conhecimento, assim como discentes interessadas/os nesse campo de estudos, reunidas/os em linhas de pesquisa que se estruturam em oito eixos: Mulheres e Participação Política; Mulheres, Relações de Trabalho, Meio Ambiente e Desenvolvimento; Gênero, Identidade e Cultura; Gênero, Arte e Literatura; Gênero, Saúde e Violência; Gêneros, Corpos, Sexualidades; Gênero, Feminismos, Interseccionalidade; e Interdisciplinaridade e Reconhecimento dos Saberes em Saúde.
“Ao longo de seus 26 anos de existência, o grupo tem problematizado a noção de sujeito universal, denunciando o caráter hierárquico da construção de feminilidades e masculinidades, assim como tem revelado uma multiplicidade de práticas e representações de mulheres e homens, pautadas em diferenças étnicas, raciais, sexuais, de status e classe social, de geração e de orientação religiosa, para destacarmos apenas alguns dos principais marcadores.”, sintetiza Telma.
O Gepem, em especial, através da linha de pesquisa Gênero(s), Corpo(s) e Sexualidade(s), coordenada por Telma Amaral e pelo antropólogo Edyr Batista de Oliveira Júnior, tem procurado problematizar e dar visibilidade à temática LGBTQIA+, na expectativa de contribuir para o acesso à informação, na definição da coordenadora, “fundamental para romper com a cadeia de exclusão e preconceito, fruto do estranhamento e da intolerância acerca de outras vivências no campo das sexualidades”.
O objetivo dessa linha de pesquisa é desenvolver estudos que articulem questões relativas aos gêneros, corpos e sexualidades, com especial atenção na constituição do corpo e na fabricação das corporeidades de diferentes sujeitos que se reconhecem como homens, mulheres, gays, lésbicas, travestis, transexuais, intersexuais, assexuais etc., analisando suas práticas, valores, identidades, subjetividades no campo da sexualidade.
“As vivências múltiplas no campo da sexualidade fazem parte do cotidiano da vida e devem ser encaradas com respeito. As várias letras que compõem a sigla LGBTQIA+ servem para nomear essas identidades múltiplas e para dar a dimensão do quão diverso é esse universo. Não se trata apenas de uma ‘sopa de letrinhas’. Trata-se de pessoas que têm que ter garantidos seus direitos de expressar sua identidade e seu afeto para além da cisgeneridade e da heterossexualidade, as quais têm sido impostas como as únicas formas possíveis”, observa a pesquisadora.
Sobre o futuro que aguarda a comunidade LGBTQIA+ e as atuações em pesquisa na área, Telma Amaral vislumbra: “Há muito que se fazer, pois não basta apenas não ser ‘LGBTQIA+fóbico’, é preciso ter ações efetivas no combate a essa violência”.
D.I.Va.S – Já o Grupo Direito à Igualdade e Valorização das Sexualidades (D.I.Va.S) foi criado em 2015, com o intuito de reunir estudantes LGBTQIA+ da graduação do curso de Direito da UFPA que se sentiam deslocados dentro daquele espaço. O coletivo que surgiu com o ideal de lazer e esporte, acabou por se tornar uma referência política nos debates sobre gênero e sexualidade dentro da faculdade.
“A LGBTfobia, como a gente sabe, não acontece sempre de forma pública então para além dos nossos posicionamentos públicos contra as violências que são divulgadas pela mídia. Nós acreditamos que o combate à LGBTfobia também acontece quando nos fortalecemos como comunidade, ao conhecermos nossa história, ao entendermos os processos que estão envoltos na nossa vivência e, sobretudo, nos cercamos de semelhantes para resistirmos juntes contra a LGBTQIFOBIA. Então, a partir de denúncias, da divulgação de maneiras jurídicas de ter nossos direitos garantidos e, também acolhendo, da forma que podemos, temos tido um ótimo retorno da sociedade e contribuímos para um debate plural.”, afirma Cris Gonçalves, uma das coordenadoras do D.I.Va.S.
Hoje, o grupo se reúne mensalmente, de maneira on-line, para discutir teorias, expor vivências e partilhar experiências, inclusive com participação de pessoas de outros estados durante as reuniões. “Involuntariamente, criamos uma rede de solidariedade que ultrapassou as fronteiras paraenses”, comemora a estudante.
Serviço:
Para saber mais sobre os grupos, acesse:
Sexgen – http://lattes.cnpq.br/web/dgp
Gepem – https://gepemacontece.blogspot.com/
D.I.Va.S – https://www.instagram.com/grupodivasufpa/
Texto: Jéssica Souza – Assessoria de Comunicação Institucional da UFPA
Arte: Assessoria de Comunicação Institucional da UFPA