A falta de doadores impede o Pará avançar na redução do tempo de espera de uma pessoa que aguarda pelo transplante córnea, estimado em três anos. O Hospital Universitário Bettina Ferro de Souza (HUBFS), do Complexo Hospitalar da Universidade Federal do Pará (UFPA)/ Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh), tem contribuído para fazer essa fila andar, mas para isso conta com o Ceará, Santa Catarina e Rio Grande do Norte para realizar o procedimento. Este ano, o HUBFS já é considerado o maior transplantador, com o total de cem transplantados até sexta-feira, 24. Um marco para a história de 24 anos do hospital, que realiza o procedimento desde 2011, quando ainda era diretor do HUBFS o atual superintendente do Complexo, Paulo Roberto Amorim.
A Central Estadual de Transplante, vinculada à Secretaria Estadual de Saúde (Sespa), estima que a fila de espera no território paraense esteja em torno de mil pacientes, com tempo médio de espera de dois a três anos. Se o estado contasse com mais adesão para a doação do tecido, a fila estaria zerada, semelhante a outros estados brasileiros, onde a pessoa aguarda até seis meses para o transplante.
No Bettina Ferro, a equipe de transplantadores é formada pelos oftalmologistas Oswaldo Frazão, Cristina Coimbra e Jesu Sisnando, que responde pela coordenação. Eles contam ainda com o apoio da assistente social, Eliza Monteiro, dos residentes, enfermeiros e técnicos de enfermagem.
Sisnando informa que, ao longo de sua história, o Bettina conquistou duas metas: ser o primeiro hospital universitário a fazer transplante na Região Norte e, agora, por alcançar a planejada para este ano. "A importância se dá porque o Bettina sozinho chegou aos cem transplantados, então é muito importante para nós, porque com todas as mudanças e dificuldades no Brasil, um hospital público ainda se motivar a bater metas, é algo louvável", enfatiza. Ele adianta que para 2018 estima-se fazer 200 transplantes no HU, desde que se mais doadores cadastrados.
Formação – Jesu ressalta a participação do hospital como espaço de formação de transplantadores, como aconteceu com o oftalmologista Oswaldo Frazão, ex-residência e agora membro da equipe. "Com isso, o Bettina está cumprindo o seu papel como instituição de ensino universitário federal, considerando que além de transplantar córnea, também forma transplantadores. Então, penso que esses são dois pontos cruciais, porque há motivação para bater meta e também para formar transplantadores", enfatiza.
Ele destaca também a participação do serviço da assistente social Eliza Monteiro, responsável pela supervisão da rotina do transplante, desde o cadastro até o acompanhamento pós-cirúrgico dos pacientes. Segundo ele, é a partir dela que se faz a intermediação entre a Central Estadual de Transplante (CET). "Então, ela é uma profissional fundamental para nós, porque quando tem a oferta da córnea a Elisa vai à CET e traz o tecido para nós fazermos o procedimento. Ao mesmo tempo, é ela quem aciona os pacientes e dá as primeiras orientações sobre os procedimentos para o recebimento da córnea", conta.
Doadores – Desde 1994, o Pará tem feito transplante de córnea e até o final deste ano chega a mais de três mil. Mas, se não fossem os mitos que gerados sobre a doação de órgão, o paraense poderia contribuir mais, para que outras pessoas voltem a enxergar, isso com o simples gesto de comunicar a família o desejo ser doador.
Atualmente, em todo estado são 14 unidades de saúde que respondem pelo serviço: três pelo Sistema Único de Saúde (SUS), Bettina Ferro, Ofir Loyola e Cynthia Charone, essa última conveniada com o SUS, e 11 em clínicas particulares. Reunidas, respondem por cerca 200 transplantes realizados anualmente.
"Se no Pará tivessem mais doadores, o tempo de espera na fila que hoje é de três anos reduziria com certeza. Infelizmente não temos a doação interna de córnea e por isso dependemos de doações externas", lamenta a coordenadora da CET, Ana Beltrão.
O que se espera é despertar a solidariedade entre os paraenses, porque são milhares de pessoas que estão sem enxergar e fazer atividades simples, como lavar uma louça ou varrer uma casa.
Esse é o caso da aposentada Maria Luiza Ferreira da Silva, 65 anos, que depois de uma conjuntivite sofreu uma úlcera no olho esquerdo. Residente em Castanhal, ela foi a centésima paciente a receber córnea no Bettina. Ela relata que desde abril deste ano busca atendimento para a recuperação da visão. Depois de encaminhada de Castanhal para o PSM da 14 de Março, em caráter de urgência, foi destinada para o Bettina.
A perda da vista levou a idosa a depender da nora e da filha para fazer atividades domésticas mais simples. Por isso, ela conta estar ansiosa ver o resultado do procedimento e que ser a centésima paciente no hospital a receber o tecido é só motivo de agradecimento. "Agradeço toda a equipe do Bettina pelo atendimento e, agora, espero recuperar a minha vista, porque é difícil a gente não ver nada, a não ser vultos. Eu creio que voltarei a enxergar", frisa.
Texto: Edna Nunes – Ascom Complexo Hospitalar da UFPA/Ebserh.
Fotos: Alexandre de Moraes e Ascom Complexo Hospitalar da UFPA/Ebserh.