José Maria Filardo Bassalo recebe homenagens aos 90 anos

Uma cerimônia marcada pela emoção assinalou a homenagem da comunidade acadêmica de Física do Pará ao professor José Maria Filardo Bassalo em comemoração aos seus 90 anos, completados no dia 10 de setembro passado. Mentor e fundador do curso de Física da UFPA, o professor foi e continua sendo uma inspiração para muitos estudantes, professores e pesquisadores, que puderam expressar pessoalmente a gratidão ao mestre pela dedicação ao ensino e à pesquisa na área de Física da UFPA, hoje avaliada entre as melhores do Brasil, segundo o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), que atribuiu a nota 4,8 para a graduação (a máxima é 5), e a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), que avaliou a Pós-Graduação em Física da UFPA com a nota 6, em vias de alcançar a nota máxima 7. 

O evento, denominado Bassalo 90, foi uma iniciativa coletiva do Instituto de Ciências Exatas e Naturais da UFPA, da Faculdade de Física, do Programa de Pós-Graduação em Física, do Centro Acadêmico de Física, do Programa de Educação Tutorial (PET), do Mestrado Nacional Profissional em Ensino de Física e do Centro Interativo de Ciência e Tecnologia da Amazônia, que também contaram com a participação de instituições acadêmicas como Ufopa, Unifesspa, UEPA e IFPA em uma homenagem ao mestre por meio de professores que foram seus alunos. Ao lado de seus dois filhos, Bassalo foi recebido com aplausos por uma plateia que lotou o Auditório H, do Campus Básico. 

Fotografa, em close, do professor homenageado,  José Maria Filardo Bassalo.

Os pronunciamentos ressaltaram o trabalho incansável de José Maria Filardo Bassalo como o professor que plantou a semente, acompanhou e estimulou a evolução da Física da UFPA por várias décadas até a aposentadoria compulsória, em setembro de 2005. Nas palavras de cada um, o agradecimento pela presença do professor Bassalo como estimulador  e incentivador de suas carreiras acadêmicas, em um momento de celebração à qualidade do professor em sala de aula e no laboratório, mas também à generosidade em compartilhar seus conhecimentos literários como cronista, cujos livros estão à disposição dos leitores interessados em conhecer a história dos grandes nomes da Física.

Representando o reitor Gilmar Pereira da Silva, o professor Ari de Souza Loureiro saudou o homenageado lembrando que a Física, como ciência que ajuda a compreender o cosmos, “nos mostra que a estabilidade do universo depende de constantes fundamentais, grandezas invariáveis que, mesmo invisíveis, sustentam toda a ordem da realidade. Ao longo de nove décadas, o professor Bassalo tem sido exatamente isto para a ciência na Amazônia: uma constante fundamental, um pilar que sustenta e orienta gerações inteiras”, e completou.

Fotografia do professor Ari Loureiro, enquanto ele fala ao microfone.

Ari Loureiro ressaltou que, durante mais de meio século de dedicação, o professor Bassalo construiu uma trajetória de produção científica vigorosa, de alcance internacional, mas sempre enraizada na realidade amazônica. “Publicações, orientações, cursos, conferências, cada passo de sua vida acadêmica foi marcado pela convicção de que a ciência não deve se afastar de sua responsabilidade histórica”, destacou.

“Ele foi formador de formadores, multiplicando em centenas de discípulos o que recebeu de seus mestres. Cada tese orientada, cada aula ministrada, cada livro escrito representa não apenas a transmissão de conteúdo, mas também a construção de uma comunidade científica amazônica. Por tudo isso, hoje a UFPA não presta apenas uma homenagem a um professor emérito. Prestamos reconhecimento a um alicerce de nossa história institucional. Sem o professor Bassalo, dificilmente a ciência na Amazônia teria alcançado a densidade e a legitimidade que hoje possui”, completou Ari sobre o papel de Bassalo como formador de massa crítica na área da Física.

Importância do educador – Lembrando que ouviu falar o nome de Bassalo muito antes de entrar para a UFPA, onde cursou Matemática, o diretor do Instituto de Ciências Exatas e Naturais, professor Marcos Monteiro Diniz, apontou que a fama do físico ia além dos muros da academia: “os efeitos da ação do professor Bassalo reverberaram muito além do campo acadêmico. Sua amplitude e importância chegavam à sociedade, como constatei, não sem surpresa, quando um parente da minha esposa, empresário bem-sucedido em São Paulo, sem nenhuma vinculação com a Universidade, um dia perguntou-me como estava o professor Bassalo”. 

Fotografia registra o professor Bassalo, sentado e, uma das cadeiras do auditório, observando alguém falando ao microfone.

Diversos depoimentos como este foram à tônica da cerimônia, misto de memória, admiração e carinho pelo homenageado. O diretor da Faculdade de Física da UFPA, professor José Luiz Magalhães, destacou a contribuição de Bassalo na construção do ensino de Física, da pesquisa e da pós-graduação na UFPA.  “Ele atuou, de forma incansável, na criação de cursos de Física não só em Belém, mas também em vários municípios do Pará. Bassalo plantou a semente que germinou uma Física forte e de qualidade na Amazônia”. 

Silvana Telles, coordenadora do Mestrado Nacional Profissional do Ensino de Física, disse que conheceu o homenageado ao chegar em Belém, “mas ele logo se tornaria uma inspiração para toda a minha vida acadêmica”. Destacou também a dedicação do professor José Maria Filardo Bassalo para que o Mestrado Nacional Profissional fosse efetivamente implantado. 

“Ele teve uma contribuição muito importante não só no processo de construção da Física na Amazônia, mas também foi muito importante nos primórdios, na consolidação da própria Física brasileira”, destacou o físico Luis Carlos Bassalo Crispino, que também lembrou que o homenageado atuou a maior parte do tempo numa época em que não havia internet, quando as pessoas tomavam conhecimento das coisas por meio dos livros.

Fotografia registra, sem segundo plano, o professor Luiz Crispino falando ao microfone para uma grande plateia em um auditório.

“Meu tio dedicou boa parte da sua carreira a escrever livros, não só científicos, mas também livros de História da Ciência, que fizeram muito sucesso tanto no Brasil, quanto em países de língua portuguesa aonde seus livros chegaram. Seu convívio com os grandes nomes da Física, como Jayme Tiomno e José Leite Lopes, por exemplo, permitiu-lhe desenvolver uma vertente como biógrafo desses cientistas, resultando deste trabalho a publicação de várias biografias. Esses livros estão nas estantes e nas bibliotecas. Hoje encontro muitas pessoas em Portugal, por exemplo, que perguntam por Bassalo, porque o reconhecem como autor daqueles livros”, comentou Luis Crispino.

O professor Danilo Alves, da Faculdade e do Programa de Pós-Graduação em Física da UFPA, aproveitou o momento para destacar três dimensões para falar de Bassalo: “do ponto de vista acadêmico, ele produziu trabalhos científicos extremamente relevantes. Do ponto de vista da educação, sua produção de livros é extraordinária, fantástica. Do ponto de vista humano, trata-se de um ser humano que, no processo de transmissão de conhecimentos, sempre buscou transmitir posturas éticas, agindo sempre de acordo com a sua consciência e não de acordo com conveniências pessoais”. Motivos de inspiração também para Danilo, em sua prática docente. “Eu sempre trago um pouco da história para meus alunos. Claro que não com a beleza e a profundidade do professor Bassalo, mas aprendi com ele que a história faz parte do ensino da Física, ela auxilia no processo de transmissão de conhecimento”.

A luta para implantar a faculdade – Engenheiro Civil, mestre, doutor e pós-doutor em Física, José Maria Filardo Bassalo atuou de forma incansável para a implantação do curso de Física na UFPA, no final da década de 1960, numa época em que as grandes faculdades eram as de Engenharia, Direito e Medicina. 

“A ideia que se tinha da Física era que não passava de  diletantismo. Ele sempre discordou dessa ideia, juntamente com professores como Rui Brito, Mário Serra e Fernando Vieira, que foram importantes na história da implantação da faculdade.  Bassalo, por exemplo, via a Engenharia como uma Física aplicada e usou deste argumento para convencer a UFPA da importância de criar uma faculdade específica de Física”, conta o professor José Luis Magalhães. 

A faculdade, que só foi implementada, efetivamente, em 1971, depois de vencidas todas as resistências, hoje está entre as melhores Faculdades de Física do Brasil. 

TEXTO: Walter Pinto - Assessoria de Comunicação Institucional da UFPA

FOTOS: Alexandre de Moraes - Assessoria de Comunicação Institucional da UFPA

Relação com os ODS da ONU:

ODS 4 - Educação de Qualidade

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