A Universidade Federal do Pará (UFPA) participa das atividades realizadas na Green Zone (Zona Verde), da COP 30, em Belém. Na última terça-feira, 11, o estande da Universidade promoveu o evento “Biodiversidade aquática e segurança hídrica: águas que conectam”, iniciativa do Centro Integrado da Sociobiodiversidade da Amazônia (Cisam), como parte das ações do Movimento Ciência e Vozes da Amazônia na COP 30.
Moderado pelo professor Leandro Juen, coordenador do CISAM, o encontro teve como objetivo mostrar o centro de pesquisa como um espaço inclusivo de colaboração entre ciência e saberes tradicionais, valorizando o protagonismo de povos indígenas, comunidades locais e jovens na construção de soluções sustentáveis e de ações climáticas enraizadas na Amazônia.

A mestranda em Direitos Humanos e Cidadania pela Universidade de Brasília e assessora de comunicação da Força Tarefa Yanomami e Ye’kwana, Ayla Tapajós (Tapajó-Arapiun, FUNAI), destacou os desafios que estudantes indígenas ainda enfrentam para ingressar e permanecer nas universidades. “A permanência e os currículos ainda não consideram plenamente nossas realidades e conhecimentos. Eu precisei sair do meu território e do meu bioma para estudar na UnB. É hora de repensarmos como as instituições acolhem a diversidade dos povos indígenas”, acentuou.
O pesquisador Yuri Kuikuro, do povo Kuikuro e mestre em Ecologia pelo INPA, ressaltou a importância da presença indígena na produção científica. Ele compartilhou sua experiência na ecologia de aves na Amazônia e defendeu a ampliação de espaços acadêmicos que garantam o protagonismo indígena na pesquisa.
O líder Doto Takak Ire, presidente do Instituto Kabu, pertencente ao povo Kayapó-Mekrãgnoti, falou sobre os impactos das mudanças climáticas e das grandes obras e empreendimentos sobre as comunidades. Ele citou o caso da BR-163, destacando as transformações ambientais sofridas pelos territórios Kayapó de Baú e Menkragnoti, onde o desmatamento é o fenômeno mais visível, com a floresta sendo arrancada para a plantação de grãos como soja e milho. “Precisamos unir os conhecimentos tradicionais e científicos para proteger nossos territórios e garantir o futuro da Amazônia”, afirmou.
Bruno Martinelli (MCTI) ressaltou o valor do conhecimento tradicional nas políticas públicas de ciência e tecnologia, lembrando que o Programa de Pesquisa em Biodiversidade (PPBio), com mais de 20 anos de existência, passou recentemente a incluir o conhecimento tradicional como eixo temático de seus editais.
O professor Luciano Montag (UFPA) apresentou dados sobre os avanços científicos alcançados pelas redes de pesquisa vinculadas ao CISAM e à UFPA. Ele destacou que “a produção científica amazônica tem fortalecido políticas de conservação e ampliado a formação de jovens pesquisadores comprometidos com a sustentabilidade regional”.
O professor Leandro Juen, que apresentou o CISAM, explicou que o centro representa uma oportunidade concreta de unir esforços e conhecimentos em prol da Amazônia, articulando universidades, comunidades tradicionais e parceiros internacionais. “O CISAM busca mostrar que ciência e saberes locais não são opostos, mas complementares. Somente juntos conseguiremos gerar soluções reais para os desafios climáticos e sociais que vivemos”, afirmou.
Encerrando o painel, a professora Loiane Verbicaro, vice-reitora da UFPA, destacou o papel da universidade na formação e valorização da diversidade amazônica. “A UFPA é uma instituição inclusiva e plural, mas ainda há muito a avançar. Precisamos adaptar currículos, ampliar o apoio à permanência estudantil e garantir que todas as vozes amazônicas tenham espaço no ensino, na pesquisa e na extensão”, reforçou.





