Já está disponível para visitação a exposição "SARAMAGO – os pontos e a vista", instalada no Museu do Estado do Pará (MEP). A abertura da exposição ocorreu no dia 14 de novembro, com a presença da imprensa local e de diversas autoridades. Com curadoria de Marcello Dantas, a mostra tem o patrocínio do Banco Santander, por meio da Lei Rouanet, e realização do governo federal, por meio do Ministério da Cultura; da Fundação José Saramago; da Reitoria da Universidade Federal do Pará (UFPA) e da Cátedra João Lúcio de Azevedo – Camões, I.P|UFPA, com o apoio do governo do Estado do Pará, por meio da Secretaria de Estado de Cultura do Pará (Secult), Sistema Integrado de Museus e Museu do Estado do Pará (MEP).
A produção é da Magnetoscópio. A entrada é gratuita e a visitação se estenderá até 17 de fevereiro de 2019.
A exposição busca proporcionar um encontro entre os visitantes e o homem José Saramago, em uma versão reflexiva sobre diversos assuntos cotidianos que são comuns a todas as pessoas. O foco não está nas obras do grande autor da literatura portuguesa, mas na vida de um homem que se revelou ainda mais interessante quando mostrou sua alta capacidade de reinvenção.
“O critério principal foi escolher coisas que pudessem instigar a todos. Eu acho que é fundamental nessa exposição trazermos pessoas que nunca leram Saramago e que, ao entrarem em contato com essa dimensão, se inspirem em ler e conhecer mais sobre a sua obra. Ela não é uma exposição somente para conhecedores ou acadêmicos, é uma exposição para o cidadão comum”, comentou Marcello Dantas, curador da mostra, que realiza em Belém sua primeira parada, após início na cidade de São Paulo.
Para o reitor da UFPA, Emmanuel Tourinho, é muito importante ter a oportunidade de realizar a exposição em Belém e poder compartilhar as impressões de um escritor que sempre buscou despertar o senso crítico de cada um. “Saramago nos lembra de que as palavras podem tudo, e as suas palavras, felizmente, inspiram o crédulo e o incrédulo da humanidade a inquietar-se, a deslocar-se do espaço onde se encontra acomodado e, pelo menos, vislumbrar um horizonte de enfrentamento da opressão e da desigualdade. Algo que, no Brasil de hoje, é mais do que necessário. Isso faz com que Saramago, entre outras razões, seja um autor dos mais atuais para os nossos leitores”.
A apresentação de Saramago na exposição também foi destacada pelo representante da Fundação José Saramago, Ricardo Viel. “Na exposição que os paraenses poderão visitar, Marcello Dantas se serve da tecnologia para traçar o retrato, de forma séria e profunda, de um escritor que nos alertou para a cegueira em que nós nos envolvemos. ‘As próprias imagens que nos mostram a realidade, de alguma maneira, substituem a realidade’, escutamos José Saramago dizer em um dos vídeos que compõem a exposição, e escutar a voz de José Saramago, nos dias de hoje, no Brasil, traz-nos esperança”.
Para o diretor do Museu do Estado (MEP), Sérgio Alencar de Melo, com toda a significância que este acervo sobre o escritor português tem, poder hospedá-lo no MEP tem sido muito especial. “Receber a exposição nos ajuda a construir mais um novo momento de memória significativo, que ficará marcado na história do Museu, sobretudo se nós pensarmos que, neste momento, esta exposição e esse passeio pela história acontecem dentro de uma casa portuguesa”, lembrou o diretor.
Saramago – os pontos e a vista – Nos últimos anos de vida, José Saramago deu uma sequência de depoimentos que foram acompanhados por Miguel Gonçalves Mendes, produtor de cinema português, que dirigiu o filme José & Pilar (documentário sobre a vida de José Saramago e Pilar del Río). Foi por meio desse material em vídeo que se tornou possível realizar a exposição em primeira pessoa, em que a única voz que se ouve dentro da exposição é a voz de Saramago. “Quis fazer uma exposição que fosse capaz de inspirar qualquer pessoa, ou seja, sobre assuntos que todo mundo, de alguma forma, reflete nas suas próprias vidas: a infância, a origem, a capacidade de se reinventar, a visão, o amor, o tempo e a morte. Coisas que inspiram as pessoas e estão na obra de Saramago”, ressaltou o curador da mostra.
Neste sentido, o título da exposição busca provocar uma reflexão sobre os diversos significados dos “pontos” e da “vista” que marcaram a vida do autor. A ideia dos pontos vem tratar sobre deslocamentos, origem e destino, e também sobre a pontuação da língua e os marcos da escrita. Já a vista trata do ângulo de visão do autor (e que os visitantes podem ter), a distorção dessa visão e o seu jeito peculiar de ver o mundo.
“Quando o Marcelo me apresentou a proposta para a exposição, eu fiquei encantado porque ela não falava da obra do Saramago, que é importantíssima, mas sim do personagem Saramago, do homem e das ideias, e ele realmente foi um homem extraordinário”, lembrou Marcos Madureira, vice-presidente executivo do Banco Santander. A expectativa é que, interagindo com as 12 instalações disponíveis, o visitante possa viver uma experiência mais íntima, de um encontro a sós com este homem.
Para que isso seja possível, as instalações convidam os visitantes a se olharem no espelho, deitarem no chão, entrarem em um táxi, entre outras coisas, sempre acompanhados do autor e suas reflexões. No fim, a ideia é que, ao se verem no espaço dele com ele, todos saiam com a sensação de que realmente conheceram Saramago. “A principal preocupação foi criar uma linguagem expositiva que fosse uma linguagem vivencial, para que as pessoas cheguem à exposição e saiam de lá, não apenas com a informação, mas também com uma vivência, uma experiência e uma emoção”, explicou Marcello Dantas.
Diálogos com José Saramago – A cerimônia de abertura da exposição também contou com o lançamento do livro Diálogos com José Saramago, do escritor português e professor da Universidade de Coimbra Carlos Reis. A obra, publicada originalmente em 1998 pela editora Caminho de Lisboa (Portugal), tem a sua edição brasileira publicada pela editora da Universidade Federal do Pará, ed.ufpa. “É uma enorme honra termos o professor Carlos Reis no catálogo da editora da nossa universidade e, principalmente, podermos tornar acessível para o leitor brasileiro este trabalho dele, que nos ajuda a compreender o pensamento e a vida de José Saramago”, ressaltou o reitor da UFPA.
Assim como a exposição, o livro traz reflexões de José Saramago não somente como escritor, mas também como cidadão. “A obra é um livro de diálogos, diálogos, porque há uma constante interação, uma provocação. Vamos atrás de questões que dizem respeito à escrita e à sua relação com a história, e, neste sentido, (o livro) tem sido um bom auxiliar para quem estuda a obra do Saramago e o que ele pensava”, pontuou o autor do livro, Carlos Reis.
Serviço:
Exposição “SARAMAGO – Os pontos e a vista”
Data: até 17 de fevereiro de 2019.
Local: Museu do Estado do Pará – Praça D. Pedro II, s/n – Cidade Velha, Belém.
Funcionamento: de terça a sexta, das 10h às 17h, sábado, domingo e feriados, das 9h às 13h.
Entrada franca
Texto: Maissa Trajano – Assessoria de Comunicação da UFPA
Fotos: Alexandre Moraes