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TAMANHO DA FONTE

Pesquisa da UFPA revela dilemas de pais no Pará

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Provedor, companheiro de brincadeiras, amigo e até “pãe” – apelido carinhoso de pais que assumem sozinhos o cuidado com os filhos. O papel e as características dos pais têm sofrido alterações ao longo do tempo e a forma como eles interagem e cuidam de seus filhos também. Estas funções de cuidado e sua influência no desenvolvimento infantil foram objeto de estudos das pesquisas de Janari Pedroso, professor do Programa de Pós-graduação em Psicologia da Universidade Federal do Pará (UFPA). O pesquisador reitera a importância da presença do pai para o bem-estar dos filhos e garante: eles são perfeitamente qualificados para o papel.

Os papéis cultural e socialmente atribuídos aos homens e às mulheres têm sofrido alterações e é cada vez mais comum que pais e mães dividam mais igualitariamente tarefas domésticas e a tarefa de provedor das famílias. “Em função disso, também temos mudanças no papel do pai que se mantém com a função de provedor, mas também passa a tentar estar mais presente no cotidiano e mais atento ao cuidado com os filhos, mesmo entre pessoas com baixa renda. Eles cada vez se sentem mais ligados emocionalmente às crianças.”

Apoio familiar é essencial para cuidar das crianças – Janari Pedroso comenta que as funções de cuidado com as crianças sofrem influência intra e intergeracional, ou seja, os conselhos e ensinamentos da rede de apoio familiar – avós, tios primos, irmãos, etc – sobre como se cuida dos filhos, as memórias da infância e as opiniões individuais sobre os possíveis impactos deste cuidado, estão intimamente relacionados com a forma como as mães e os pais cuidam das crianças, e os modelos de cuidado podem ser, assim, mantidos ou alterados.

“Como pais que cuidam sozinhos de filhos, eles precisam contar com uma ‘constelação para a paternidade’, com uma rede de apoio que o ajuda de diversas maneiras. São avós, tias, irmãs e primas, além de avôs, tios e outros membros da família que apoiam o pai para trabalhar e cuidar destas crianças. Quanto mais forte esta rede, mais protegida parece estar esta criança.”

Avô reconstrói relações com filhos e netos – Outro cuidador que aparece com destaque nas pesquisas é o avô. “Esse avô que foi um pai provedor, que trabalhava o dia todo, estava sempre fora de casa e, muito cansado, pouco brincava e interagia com os filhos, muda ao ganhar netos. Ele pode ser mais disponível, atento, tolerante. Se torna aquele que faz as vontades do neto. O pai, ou seja, a criança que cresceu, vê essa mudança como uma possibilidade de refazer a relação pai-avô. O que não foi vivido com os filhos passa a ser vivenciado com os netos e é visto como uma nova oportunidade de reconstruir e reunir a família.”

O pesquisador ressalta que cada função de cuidado é diferente, mas cada função é claramente definida dentro das famílias. “Não é porque o avô compra bombom que isso atrapalha o desenvolvimento das crianças. A criança sabe que a relação é diferente e essa diferença é positiva, pois cria oportunidades de ter novas experiências e até oportunidades de quebrar algumas regras, em casos onde os pais são mais protetores. É uma forma de equilíbrio para a criança.”

Pais têm mais dificuldade em lidar com bebês e com meninas – Em uma das pesquisas, o psicólogo e seus orientandos observaram pais que cuidavam sozinhos dos filhos e quais eram seus dilemas e dificuldades. Os pais entrevistados relatam que se sentem menos habilitados em lidar com meninas e com crianças menores, como bebês.

“Eles temem pegar bebês no colo. Têm medo de deixar cair ou machucar ou ainda não conseguir observar as necessidades do bebê. É claro que há diferenças, há homens que assumem esses cuidados com maior facilidade, assim como há mulheres que demoram mais a se adaptar a estas funções de cuidado. Porém, essa adaptação ocorre, e conforme as crianças crescem, eles se sentem mais seguros em exercer o papel de cuidador.”

Já a principal dificuldade em lidar com as meninas está na diferença de gênero e no temor de acusações de abuso sexual. “Com os meninos, eles brincam de luta, competições e esportes; e com as meninas, eles brincam de pentear cabelo, manicure e maquiagem, sem problemas. A principal dificuldade que eles relatam em cuidar das meninas diz respeito à preocupação com a opinião das outras pessoas sobre suas interações com as filhas, especialmente nas tarefas como a higiene das meninas, interações que possam gerar acusações de abuso. Em termos gerais, eles se sentem incapazes e sem referência de como cuidar das meninas, mas desenvolvem essas potencialidades sem problemas”, revela o professor.

Apesar disso, ele assegura que os homens têm se saído bem nesta função. “Precisamos desfazer o mito do ‘amor de mãe’, como se as mulheres fossem as únicas habilitadas a cuidar das crianças. Como a ‘mãe’, o papel do ‘pai’ é socialmente construído e mais do que o sexo do cuidador, o importante é que ele seja constante e presente na vida da criança.”

Melhor pai é o presente – Janari Pedroso acrescenta que um bom pai é aquele atento às necessidades da criança, que busca estabelecer um bom vínculo afetivo, estabelece limites e disciplina, que é constante e disponível, que mostra também que pode errar e pedir desculpas e que pode chorar e ser sensível, além de forte. “O que vai determinar um bom desenvolvimento infantil é a qualidade da relação com seus cuidadores, porque as crianças não se desenvolvem apenas na família. Há influências da igreja, da escola e de várias outras pessoas e instituições.”

Perto do dia dos pais, o psicólogo dá dicas de quais podem ser os presentes que agradam os pais. “Mais do que um dia no ano, o dia dos pais poderia ser todos os domingos, ou seja, tornar os domingos um dia em família, no qual o pai possa conviver e estar qualitativamente com os filhos. Além disso, entre os presentes há várias opções, de utensílios domésticos para o pai que faz churrasco e gosta de cozinhar, a perfumes para o pai mais vaidoso. Porém, me parece que o melhor presente ainda pode ser um simples beijo, carinho e abraço”, aconselha o pesquisador.

Texto: Assessoria de Comunicação da UFPA
Foto: Reprodução Google

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