

"Por meio do Parfor, eu aprendi a associar a cultura indígena e a cultura não indígena, fazendo uma aula diferenciada. Por mais que o currículo escolar indígena não seja diferenciado, aprendi a elaborar minha aula de acordo com a realidade deles", conta Aucirlene.
A professora ressalta que sua pesquisa surgiu após integrantes mais velhos da etnia Kayapó-Mebengôkre apontarem a extinção de jogos e brincadeiras tradicionais daqueles povos. "Os mais velhos questionavam que a escola não se preocupava em desenvolver os jogos da cultura deles", conta a professora.

Na aldeia Ngomejti, Aucirlene identificou o Tyrytiprêk: jogo disputado entre duas equipes em que os integrantes de cada time devem lançar caules das folhas de bananeira contra os adversários. Os integrantes atingidos deixam o jogo até que uma equipe inteira seja eliminada e o time adversário seja declarado vencedor.

"Essa brincadeira retrata um tempo em que os indígenas eram ameaçados constantemente, quando os brancos invadiam suas aldeias e promoviam massacres para ficar com suas terras, o ouro, representando o genocídio dos povos indígenas. Os meninos representam os brancos e as meninas interpretam os moradores das aldeias", explica a professora.
Aucirlene destaca, ainda, que, apesar de terem se tornado práticas esportivas, algumas modalidades como o arco e a flecha, a canoagem e o arremesso de lança são atividades relacionadas à pesca e à caça, por isso não são considerados jogos tradicionais pela etnia Kayapó-Mebengôkre.
Pesquisa – Para o professor Leonardo Zenha Cordeiro, orientador do trabalho de Aucirlene, a pesquisa dela vai além do resgate da memória das comunidades tradicionais da região.
"A partir do momento em que ela começa a repensar currículos e a questão da educação escolar indígena, essa problematização no trabalho dela é fundamental. A literatura não consegue ainda trazer a diversidade que o trabalho dela traz. Mesmo com todas as dificuldades, o trabalho dela é brilhante", comemora o professor.

"Acho que é uma política vitoriosa, leva o ensino superior aos rincões do Pará, mesmo com contratos precários, baixos salários, escolas precarizadas. Para mim, foram trabalhos brilhantes, são estudantes brilhantes diante de um contexto precário. Com as possibilidades que têm, elas vão constribuir muito", conclui o professor.
Texto: Alexandre Yuri Nascimento – Ascom/Parfor
Fotos: Aucirlene da Silva e Coordenação do Parfor/São Félix do Xingu,
Fotos: Aucirlene da Silva e Coordenação do Parfor/São Félix do Xingu,