O pesquisador Fábio Cunha, do Programa de Pós-Graduação em Ecologia Aquática e Pesca da Universidade Federal do Pará (Ppgeap-Neap/UFPA), desenvolveu um trabalho sobre a descoberta de uma nova espécie de tartaruga de água doce. A espécie Mesoclemmys sabiniparaensis, também chamada de Perema-do-Pará, foi encontrada no município de São Geraldo do Araguaia, no sudeste do Pará, e se diferencia das demais tartarugas pela cabeça pequena e coloração exuberante, que mistura marrom-avermelhado e amarelo-queimado em um padrão bicolor.
O autor entrou em contato com a população de tartarugas durante suas visitas ao Museu Paraense Emílio Goeldi. Com suporte nesse encontro, foram desenvolvidas análises moleculares, ou seja, o sequenciamento do DNA dos animais, além de estabelecer comparações morfológicas e morfométricas, isto é, na forma dos animais, com espécies já descritas pela ciência. Com os resultados dessas comparações de fragmentos de DNA, foi possível classificar essa nova espécie. Esta é a terceira nova espécie de tartaruga da Amazônia classificada nos últimos dois anos, sendo duas do estado do Pará e descritas por Cunha.
“A principal conclusão é que a região amazônica continua sendo um dos últimos refúgios de biodiversidade do planeta e, para o grupo tartarugas, isso não é diferente. Precisamos mais do que nunca preservar os ecossistemas naturais para que possamos entender quais serviços ecossistêmicos, caso contrário, poderemos perder informações e dados relevantes sem antes os conhecermos. Como dizem: estaremos rasgando páginas de um livro cujo conteúdo ainda nem conhecemos”, afirma Fábio Cunha.
Para registrar a descoberta, o pesquisador publicou um artigo na Chelonian Conservation and Biology e agora seguirá aprofundando a pesquisa para a sua tese, que aborda os aspectos biológicos sobre a história natural, a ecologia, a biologia reprodutiva e outras características fisiológicas desses répteis, além de entender as dinâmicas da ecologia e conservação das espécies de tartarugas brasileiras. A pesquisa desenvolvida por Fábio Cunha conta com a orientação do professor Marcelo Costa Andrade (Ppgeap-Neap/UFPA).
Preservação – As tartarugas estão entre os vertebrados mais ameaçados do mundo, e cerca de 61% delas foram extintas ou enfrentam ameaças de extinção na modernidade. A Amazônia brasileira ocupa um papel importante para a preservação dessas espécies, pois é a terceira região com maior número desses répteis em todo o mundo, sendo chamada de hotspot turtle (ponto quente de tartarugas), por abrigar 21 espécies de tartarugas que só são encontradas nesta localidade, devendo ser prioridade para a conservação desse grupo da fauna.
“Ao longo de minha vida, minha carreira acadêmica foi dedicada a ampliar o conhecimento acerca da ecologia e história natural das espécies de tartarugas do Brasil, em especial as espécies amazônicas. Por isso minha tese de doutorado está diretamente ligada a entender os aspectos ecológicos e a conservação de espécies de tartarugas raramente estudadas. A descoberta de novas espécies vem demonstrar, mais uma vez, a importância da ciência e das unidades de conservação como um refúgio da biodiversidade”, conclui Fábio Cunha.
Texto: Jambu Freitas – Assessoria de Comunicação Institucional da UFPA
Fotos: Divulgação da pesquisa