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TAMANHO DA FONTE

Pesquisador defende que modelo de desenvolvimento voltado para a Amazônia precisa fugir da lógica centrada em escalas e padronização

A busca por um modelo de desenvolvimento que vise à eficiência econômica precisa passar por uma lógica que não esteja centrada em escalas e padronização, mas, pelo contrário, considere a diversidade. A discussão acerca de uma economia política viável para a Amazônia, bem como os desafios para esse desenvolvimento foram temas da conferência realizada pelo professor da Universidade Federal do Pará (UFPA) Francisco de Assis Costa, durante o primeiro dia de programação da 76ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC).

Durante a Conferência “A Economia Política da Amazônia e os Desafios do Desenvolvimento: uma análise crítica dos paradigmas de sustentabilidade”, o economista destacou o desafio que é responder a essa questão, considerando que, já há algum tempo, tem-se exercitado a ideia da relação entre o desenvolvimento sustentável e a dinâmica real da realidade da Amazônia. 

Em meio aos paradigmas que envolvem a realidade da Região Amazônica, o professor destacou que a eficiência econômica não pode estar centrada no padrão atual de desenvolvimento. “A eficiência econômica depende de estratégias que, por exemplo, fujam à lógica dominante de eficiência atual, a escala, a padronização, que são os elementos-chave que tornam as estruturas do paradigma atual eficientes”, pontuou. 

E completou: “A eficiência econômica não pode ser centrada na escala, na padronização e na relação entre as duas coisas: na escala que requer padronização, porque ela é, a rigor, fundada na diversidade. Isso torna o desenvolvimento econômico impossível? Obviamente que não. É só você ter as estratégias econômicas baseadas em diversidade”.

O professor ressaltou, inclusive, que essa ideia não é novidade na história da humanidade nem da industrialização. “Toda a economia de terroir, na Europa, por exemplo, tem esse caráter, ela não está baseada em escala. Então você resguarda as qualidades próprias dessa diversidade, expõe essa diferenciação no mercado, transforma isso em valorização e se acopla com ganhos derivados dessa estratégia em qualquer escala. Você pode ser muito eficiente ou pode produzir com muita eficiência, por muito tempo, com uma estratégia puramente local, puramente nacional, eventualmente internacional”. 

Um exemplo que pode se adequar muito bem a esse conceito, segundo o professor Francisco de Assis Costa, é o do açaí. O professor considera que, na primeira impressão, todo mundo acredita que a escala que o açaí assumiu depende do mercado mundial, o que ele afirma que é “absolutamente falso”. “O mercado mundial representa para o açaí, hoje em dia, no máximo 3% do valor da produção total. Cerca de 45% a 46% dessa produção é consumida localmente, o resto, tirando esses 3% do mercado mundial, no Brasil. É no Brasil que está o grande mercado de exportação da Amazônia, não é no resto do mundo. Então, pensar em estratégia econômica para o açaí não é começar pelo mercado mundial, é começar pelo mercado brasileiro, porque é esse que é pesado”. 

Agora, para que esse modelo seja eficiente, Francisco de Assis Costa considera que é preciso qualificar o mercado. “Tendo o mercado brasileiro como âncora, você tem que trabalhar para qualificar esse mercado para aprender a consumir o açaí com capacidade, a entender as distinções do açaí que nós, aqui, na região, conhecemos. O que faz a diferença entre o açaí da Ilha da Santana, em Mocajuba, e o açaí de Afuá? Existem diferenças claras, assim como existem as diferenças das qualidades da uva na França, então, essas distinções têm de ser ensinadas”, avalia. “Agora, os aparatos de reflexão e de ação para a política geral, para todos os níveis de estado, entre nós, não estão preparados para tratar essa questão, não estão preparados para montar a estratégia que essa economia, por exemplo, requer para se empoderar, para ser efetivamente condutora de um desenvolvimento de outra ordem, de outra qualidade”.

TEXTO: Comissão Local de Comunicação da 76ª da Reunião Anual da SBPC

FOTOS: Oswaldo Forte

Relação com os ODS da ONU:

ODS 2 - Fome Zero e Agricultura SustentávelODS 8 - Trabalho Decente e Crescimento EconômicoODS 9 - Indústria, Inovação e InfraestruturaODS 11 - Cidades e Comunidades SustentáveisODS 12 - Consumo e Produção Responsáveis

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