Um organismo pequeno e bastante conhecido da população pode revelar informações valiosas sobre a saúde ambiental das praias amazônicas: os caramujos. Pesquisadores da Universidade Federal do Pará (UFPA) desenvolveram um estudo que aponta o caramujo da espécie Vitta Zebra como um potencial biomonitor de qualidade ambiental dos litorais de água doce da região de Belém. A pesquisa analisou como atividades humanas – turismo, tráfego de embarcações e construções em áreas costeiras – podem impactar organismos que vivem nesses ambientes, gerando resíduos potencialmente tóxicos e alterando o equilíbrio dos ecossistemas.
Marcada por um extenso conjunto de ilhas e praias, a capital do Pará possui tais destinos turísticos como uma importante fonte de renda para muitas comunidades locais. No entanto esses espaços estão sujeitos à poluição e à pressão antrópica, o que torna essencial o monitoramento contínuo da qualidade do ambiente. De acordo com o mestrando do Programa de Pós-Graduação em Ecologia (PPGECO) Danilo Serrão Moutinho, do Instituto de Ciências Biológicas (ICB) da UFPA, a escolha do organismo está relacionada à sua ampla distribuição e contato direto com ambientes impactados.
“O grupo de pesquisa em que trabalho tem desenvolvido estudos com monitoramento ambiental na Amazônia utilizando espécies que, naturalmente, habitam a região. E, no caso desse caramujo, notamos que a espécie está presente em diversos locais, como Belém, Marajó e interiores de nossos rios, que são usados de diferentes formas pela população, incluindo portos, praias e orlas das cidades”, comenta Danilo Serrão.

Com essa observação, surgiu o questionamento central da pesquisa: como essa espécie de molusco responde e se adapta em cada ambiente a depender do nível de integridade ou poluição do local. Para tanto, o estudo avalia não apenas os parâmetros químicos do ambiente, mas também a saúde dos organismos que nele vivem, oferecendo um olhar biológico fundamental, segundo a professora Lílian Lund Amado, orientadora da pesquisa. “Esta é uma pesquisa que trouxe bastante significado para o laboratório, porque nós identificamos mais um organismo que pode ser usado para avaliar a qualidade do ambiente do ponto de vista biológico em ecossistemas amazônicos”, pontua a orientadora.
“Temos diversas regulamentações ecotoxicológicas, com vários tipos de organismo modelo, mas nenhuma delas é feita com organismos amazônicos, e isso limita um pouco a aplicabilidade dos testes padronizados, porque eles são feitos com espécies que não são do nosso bioma”, destaca a professora Lílian sobre a importância de validar novas espécies que sejam do bioma amazônico e que possam ser utilizadas como organismos modelo para fornecer uma avaliação qualitativa do ambiente, não apenas do ponto de vista da química, mas também do ponto de vista da saúde dos animais, e, dessa forma, possibilitar a aplicabilidade dos resultados para a realidade local.
Da curiosidade de infância à pesquisa científica – O estudo teve origem no Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) de Danilo, do Curso de Licenciatura em Ciências Biológicas, e nasceu de uma observação cotidiana das praias da capital, a qual surgiu ainda na sua infância, quando ele já se interessava em observar regiões de pedra e poças de maré onde esses animais estavam. A ideia foi levada ao laboratório e desenvolvida em conjunto com os orientadores, incorporando variáveis como urbanização, maré e estações do ano, o que tornou o estudo mais completo.
Agora, os resultados do estudo podem servir como base para ações de monitoramento e educação ambiental, assim como para futuras pesquisas na Amazônia, aproximando a ciência da realidade cotidiana das pessoas. O artigo completo está disponível na Plataforma ScienceDirect.


