O Programa de Pós-Graduação em Odontologia (PPGO) da UFPA realizou um estudo, coordenado pelo professor David Normando, que relaciona os efeitos da temperatura e da umidade na propagação da Covid-19. O artigo foi submetido à revista científica PLOS ONE, que, por sua vez, o enviou à Organização Mundial de Saúde (OMS). O artigo encontra-se disponível na plataforma MedRxiv, voltada para divulgação de estudos não publicados da área de saúde.
Segundo o professor David Normando, o grupo realizou uma análise de outros artigos científicos publicados sobre o tema e chegou à conclusão de que esses fatores climáticos podem afetar a propagação da doença, mas não são suficientes para explicar total o surto nem frear a transmissão.
“Devido ao comportamento sazonal do vírus, o conhecimento dessas variáveis torna-se de grande importância para auxiliar no preparo e na determinação de políticas de saúde públicas, no isolamento social, entre outras, com o intuito de reduzir a incidência e a propagação da Covid-19. Além disso, concluímos que essas condições climáticas, sozinhas, não são capazes de explicar o surto da doença. Políticas de distanciamento social, imunidade da população, padrão de migração, densidade populacional e aspectos culturais são alguns dos fatores que podem influenciar diretamente na propagação da Covid-19”, explica.
Um exemplo apontado relaciona Canadá e Austrália. Ambos os países possuem condições semelhantes de densidade populacional e índices de qualidade de vida, e uma alta testagem, mas com climas completamente diferentes. O Canadá, um país do Hemisfério Norte que está em suas estações mais frias já passa de 40 mil casos e está no pico de infecção, enquanto a Austrália, um país quente do Hemisfério Sul, tem pouco mais de 6 mil casos e já ultrapassou o pico.
Efeitos no Brasil – Caso apenas as duas variáveis – temperatura e umidade – da pesquisa fossem determinantes para a disseminação do vírus, o Brasil estaria em boas condições. Entretanto condições de moradia enfrentadas pela maior parte da população de baixa renda e a baixa adesão às medidas de isolamento, além da baixa testagem, causam o efeito contrário.
“Uma análise otimista nos apontaria que, para o Estado do Pará e para a Região Norte do Brasil, caracterizadas por clima quente e alta umidade relativa do ar, poderíamos esperar menor taxa de propagação do vírus e de disseminação da Covid-19, entretanto, se incluirmos os demais fatores na análise da situação, a realidade será outra. A questão é bem mais complexa e necessitaríamos de outros dados para uma resposta conclusiva”, pontua o professor.
Apesar disso, é esperado que, no Brasil e, principalmente, na região amazônica, a propagação do vírus não seja tão devastadora quanto em alguns países europeus e nos Estados Unidos. Porém o professor explica ainda que, por esses fatores não serem suficientes para explicar a situação do vírus em diferentes partes do mundo, as políticas de prevenção devem continuar sendo adotadas, com o objetivo de criar uma barreira para a propagação do vírus.
“A higienização das mãos com água e sabão ou álcool em gel 70%, máscaras faciais, aplicação dos testes em massa e, principalmente, as políticas de isolamento social devem ganhar força e ser mantidas para garantir o achatamento da curva de propagação do vírus. Por meio desse esforço mútuo da população com o poder público, é possível se pensar numa realidade ideal de redução do número de casos confirmados e, consequentemente, redução da necessidade de hospitalizações, garantindo o alívio da sobrecarga do sistema de saúde”.
O estudo completo pode ser lido aqui.
Texto: Rafael Miyake – Assessoria de Comunicação da UFPA
Foto: Reprodução Clima Tempo