O início de janeiro é sempre marcado pelo período de chuvas composto por raios e rajadas de vento com a chegada do inverno amazônico na capital paraense. Aproveitando este cenário, uma pesquisa realizada pela UFPA, em parceria com o Instituto de Pesquisas Espaciais (Inpe) e o Sistema de Proteção da Amazônia (Sipam), se interessou em registrar o comportamento dos raios e compreender melhor a física que gira em torno das descargas elétricas, para que assim, seja possível desenvolver novos sistemas de proteção contra os efeitos desse fenômeno natural.
O estudo pretende compreender as principais características dos raios da Região Amazônica, em termos de pontos de conexão com o solo e números de pulso. O objetivo é que os resultados da pesquisa possam contribuir com a atualização das normas técnicas de proteção contra descargas atmosféricas e seja possível o desenvolvimento de sistemas de proteção mais seguros. Os pesquisadores procuram, ainda, avaliar a performance do instrumento Geostationary Lightning Mapper (GLM), que está a bordo de um satélite da agência espacial Norte Americana (NASA). O GLM é um sensor ótico capaz de identificar rápidas mudanças de brilho no topo das nuvens para detectar os raios que ocorrem durante uma tempestade, o que fica mais evidente nessa época com o aumento da intensidade de chuvas em Belém.
Em um dos resultados preliminares apresentados na maior conferência de Geofísica do mundo, realizada em São Francisco, no estado da Califórnia (EUA), foi detectado que um único raio atingiu o solo em quatro pontos diferentes, o que vai contra o ditado popular, voltado ao senso comum, que diz que um raio não pode cair duas vezes no mesmo lugar. A observação apontou que esses raios de “múltiplas conexões” conseguem, em menos de um segundo, tocar o chão em diversos pontos diferentes e são frequentes na Região Metropolitana de Belém.
“Imaginemos a situação em que onde temos um prédio alto e ao lado temos uma quadra de esportes. Popularmente, se acha que o prédio alto (com um sistema de proteção contra descargas atmosféricas) vai estar protegendo a quadra de esportes. Porém, conforme está sendo observado em nossa pesquisa, o raio pode se conectar em mais de um ponto ao mesmo tempo. Em outras palavras, um raio pode se conectar no sistema de para-raios do prédio e ao mesmo tempo pode se conectar na quadra de esportes fazendo vítimas, caso tenha alguém na quadra”, explica o coordenador da pesquisa, Adônis Leal.
De acordo com o pesquisador, além dos riscos já conhecidos, os resultados obtidos até agora têm mostrado que os raios podem ser ainda mais perigosos do que se era imaginado, e a atenção e proteção devem ser redobradas nessas ocorrências climáticas.
“A principal recomendação é: quando o trovão soar, vá se abrigar. Quando escutamos o trovão significa que as descargas atmosféricas estão ocorrendo muito próximas. Por isso, é fundamental se abrigar, principalmente em estruturas que tenham sistemas de proteção contra descargas atmosféricas (SPDA). Porém, se abrigar em carros com janelas fechadas, também é uma boa solução. Durante a tempestade, evite locais abertos”, alerta Adônis Leal.
Sobre a pesquisa – A pesquisa é uma realização da Universidade Federal do Pará (UFPA) em parceria com o Inpe e o Sipam. O estudo é coordenado pelo professor e coordenador do Laboratório de Pesquisa em Descargas Atmosféricas (LPDA), Adônis Leal, juntamente com os alunos Gabriel Arcanjo, graduando da Faculdade de Engenharia Elétrica e Biomédica (FEEB) e Wendler Matos, vinculado ao Programa de Pós-Graduação em Engenharia Elétrica (PPGEE). Além da colaboração dos pesquisadores Márcio Lopes e Marcelo Saba. As imagens são capturadas por uma câmera de alta velocidade instalada no Sipam, que foi cedida pelo pesquisador Marcelo Saba do Inpe.
No total, já foram concluídas etapas de instalação e testes preliminares da câmera de alta velocidade e outros sensores, desenvolvimento da Cartilha Proteção Contra Raios, produção da playlist de vídeos explicativos acerca dos conceitos e efeitos que envolvem as descargas atmosféricas e, atualmente, os pesquisadores ainda estão analisando o número de pulsos que cada raio pode produzir ao tocar o solo. Agora, as próximas etapas devem se concentrar na coleta de informações e análise da base de dados existente.