O Núcleo de Altos Estudos Amazônicos (NAEA-UFPA), em parceria com a Confederação de Nacionalidades Indígenas do Equador – Conaie/Equador, El Consejo Latinoamericano de Ciencias Sociales – Clacso (Conselho Latino-Americano e Caribenho de Ciências Sociais (Clacso), Associação Latino-Americana de Sociologia – Alas e Sociedade Brasileira de Sociologia – SBS, reuniu pesquisadoras, pesquisadores e representantes de organizações acadêmicas e sociais para refletir sobre as contribuições das Ciências Sociais da América Latina e do Caribe frente aos desafios climáticos globais.
A programação do evento contou com a participação de diversos agentes importantes para as discussões das ciências sociais no Brasil e na América Latina e no Caribe, como a liderança quilombola Eliete Paraguassu e as professoras e professores Luana Kumaruara (Ufopa), Lorena Fleury (UFRGS), Luciana de Oliveira Dias (UFG/ABA), Edna Castro (UFPA), Francisca Prieto (Universidad de La Frontera) e Pablo Vommero (Clacso).
Os debates que guiaram as duas mesas-redondas intituladas, respectivamente, “América Latina como espaço de insurgência” e “Vozes da América Latina para a COP 30” buscaram fortalecer o diálogo entre as Ciências Sociais e os movimentos sociais latino-americanos e caribenhos, com destaque especial para o papel da produção crítica regional na formulação de políticas de justiça climática, soberania ambiental e transição ecológica justa.

“As Ciências Sociais têm muito a contribuir no debate sobre os desafios climáticos. Elas trazem uma sensibilidade maior para ouvir as populações mais atingidas e tratam a questão humanitária de forma multidisciplinar, dialogando com a natureza e o meio ambiente. Esse papel é muito importante, principalmente para sensibilizar a sociedade civil e fortalecer os protocolos de consulta dos povos indígenas, como a convenção 169, que é muito violada. Hoje, a maior parte dos empreendimentos são feitos sem a escuta dessas populações”, explica Luana Kumaruara, docente da Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa) e importante liderança de base indígena do Tapajós.
Carta para a COP 3 – Além da realização do colóquio, a reunião resultou em uma carta com propostas para a COP 30, também lançada oficialmente durante o evento. Edna Castro, professora da UFPA e coordenadora da articulação, explica que o principal objetivo da carta é trazer a centralidade das Ciências Sociais para as discussões sobre as mudanças climáticas e repercutir as propostas com os representantes da UFPA durante a Conferência das Partes.
“Nós temos uma articulação muito grande das Ciências Sociais na América Latina e Caribe e um pensamento original, crítico sobre os problemas de desenvolvimento, nós fazemos ciência junto com os movimentos sociais que têm debatido na contracorrente dos processos de dominação. É uma contribuição importante a dar”, afirma a professora Edna Castro.

Entre as propostas que integram a carta, destaca-se o combate ao racismo ambiental, entendido como centro das agendas climáticas globais, nacionais e locais; o papel fundamental dos povos indígenas, comunidades quilombolas e demais povos e comunidades tradicionais para o enfrentamento aos desafios climáticos; e a demarcação de que a crise climática não é apenas ambiental, é também social, política e civilizatória.
“Compreendemos que as mudanças climáticas se explicam não apenas pelas emissões de carbono,mas também por estruturas históricas de desigualdade, espoliação e colonialismo que seguem definindo quem tem o direito de consumir, a decidir e a habitar um planeta saudável”, ressaltam as pesquisadoras e pesquisadores, no texto da Carta das Ciências Sociais Latino-Americanas e Caribenhas com propostas para a COP 30.
“É importante que as Ciências Sociais se posicionem como uma ciência social crítica que pensa numa sociedade não a partir das estruturas de poder, mas a partir da vida social, do cotidiano. A carta é um grito e, ao mesmo tempo, um alerta à COP 30. É preciso evitar que apenas se resolva problemas de financiamento, quando, na verdade, são necessárias soluções políticas que rompam com essas estruturas econômicas do extrativismo, de um modelo que destrói a natureza, destrói vidas e que está, o tempo todo, violentando a existência humana e a existência ambiental”, conclui a professora Edna Castro.
Acompanhe as redes sociais do Núcleo de Altos Estudos Amazônicos (NAEA-UFPA) e o site do NAEA na COP 30 para conferir a Carta das Ciências Sociais Latino-Americanas e Caribenhas com propostas para a COP 30 na íntegra.
