O Programa de Pós-Graduação em Odontologia da Universidade Federal do Pará titulou sua primeira doutora, com a tese intitulada Exposição materna ao metilmercúrio e repercussões nas glândulas salivares da prole: um estudo bibliométrico e pré-clínico, de autoria de Priscila Cunha Nascimento, tendo como orientador o professor Rafael Rodrigues Lima. Na tese, a autora investiga os efeitos do metilmercúrio sobre glândulas salivares.
O metilmercúrio (MeHg) é um dos principais poluentes globais, especialmente no ecossistema amazônico. A vulnerabilidade do feto e do recém-nascido às mudanças induzidas por MeHg é amplamente relatada na literatura mundial, porém sem informações, até então, sobre os efeitos na saúde bucal e nas estruturas anexas à cavidade oral. Este estudo, em modelo animal, teve como objetivo justamente investigar as alterações induzidas pela exposição maternal ao MeHg ambiental-experimental nas glândulas salivares da prole de ratos após a exposição pré e pós-natal.
Para o professor Rafael Lima, por ser um trabalho pré-clínico, esta tese levanta possibilidades de novas investigações e mesmo de discussões para a implementação de políticas públicas direcionadas aos cuidados bucais de populações ribeirinhas expostas cronicamente ao MeHg. A tese é um marco para o programa, já que o Doutorado em Odontologia da UFPA é o único no Norte do país. “Titular sua primeira doutora é um marco histórico para a UFPA e para a Odontologia nacional, já que é o único programa com Doutorado na Região Norte”, afirma.
O Programa de Pós-Graduação em Odontologia da UFPA foi aprovado em 2003, em nível de mestrado, e a primeira turma de doutorado teve início apenas em 2019. Segundo o docente, o Brasil é o segundo país em produção de conhecimento em Odontologia no mundo, mas com boa parte desse quantitativo sendo produzido distante dos problemas enfrentados no contexto amazônico. “Formar pesquisadores alinhados a esse contexto oferece condições de enfrentarmos os problemas de saúde bucal buscando, de fato, criar condições de melhoria das condições de saúde bucal”, sintetiza.
Priscila Cunha é a primeira cirurgiã-dentista a realizar toda sua formação acadêmica em Odontologia na Região Norte. Realizou graduação na Faculdade de Odontologia da UFPA e Mestrado e Doutoramento no PPGO – UFPA, recebendo, ao longo de todos esses anos, a orientação do Prof. Rafael Lima.
“Uma cirurgiã-dentista alinhada à produção de conhecimento, com publicações desde a graduação. Além de uma tese defendida e aprovada com distinção e louvor, a Odontologia paraense ganha uma pesquisadora altamente qualificada, com um número expressivo de publicações em revistas internacionais e premiações, como a obtida como Melhor Trabalho na Reunião da Sociedade Brasileira de Pesquisa Odontológica (SBPqO) de 2020”, comemora o orientador.
Priscila continuará suas investigações em um pós-doutoramento, com bolsa concedida pelo Programa Procad-Amazônia/Capes, um projeto em parceria da UFPA com a Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS e a Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN, atuando, ainda, como colaboradora do Programa de Pós-Graduação em Ciências Farmacêuticas da UFPA.
Sobre a tese – O principal objetivo da tese foi avaliar a exposição de grávidas (exposição materna) a um metal pesado prevalente no ecossistema amazônico, o metilmercúrio (MeHg), e quais as repercussões nas glândulas salivares dos filhos (a prole), a partir de abordagens histológicas e moleculares em roedores.
“Nosso grupo de pesquisa já aborda, há alguns anos, os efeitos de metais sobre a saúde. No caso da minha tese, a ideia surgiu ao constatar que, dentre os metais, a exposição ao MeHg continua a ser um problema de saúde pública, principalmente na nossa região. Assim, buscamos investigar respostas da cavidade oral, as quais podem direcionar a aplicabilidade da saliva como uma matriz auxiliar diagnóstica desta problemática”, explica a autora Priscila Cunha.
Priscila disse se sentir honrada em ser a primeira doutora do PPGO/UFPA, principalmente por ser a representatividade da inserção das mulheres na Ciência odontológica brasileira, em especial na Região Norte. “Somos representatividade importante na produção científica mundial, mesmo frente ao atual plano de desvalorização da Ciência nacional”, observa.
A expectativa, quanto ao futuro da investigação científica realizada pela pesquisadora, é seguir com verificações na toxicologia humana por metilmercúrio, podendo auxiliar no desenvolvimento de uma alternativa mais acessível e rápida para a detecção da exposição ao metal e, futuramente, beneficiar o acompanhamento e o tratamento da população amazônica.
Texto: Jéssica Souza – Assessoria de Comunicação Institucional da UFPA
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