PPGL recebe exposição itinerante “Cosmologias e Cosmopolíticas Afropindorâmicas”

O Programa de Pós-Graduação em Letras (PPGL/UFPA) recebe,  até 30 de agosto, a exposição Cosmologias e Cosmopolíticas Afropindorâmicas, idealizada e coordenada pelo professor Alan Alves Brito (UFRGS), em parceria com o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e o Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT). A mostra, que estreou em novembro de 2024 no Planetário do Rio de Janeiro, apresenta distintas perspectivas sobre as relações céu-território de povos africanos, afro-brasileiros e indígenas, possibilitando olhar o céu e percebê-lo como uma biblioteca de narrativas, como um arquivo de histórias.

A visitação pode ser realizada das 9h às 17h, no hall do primeiro andar do prédio do PPGL, no Campus Básico da UFPA. São apresentadas mobilizações cosmopolíticas da memória que tecem a amefricanidade, termo cunhado pela pesquisadora Lélia Gonzalez, para dar conta das experiências negras e indígenas nas Américas, e a luta antirracista no país. As afropindorâmicas estão em sinergia ao pensamento de Nêgo Bispo, pensador e intelectual quilombola que, em sua obra, fala sobre as confluências de lutas históricas e as cosmopercepções libertadoras.

Alan Alves Brito explica que a Afropindorâmicas foi pensada para trazer como os diferentes povos negros, indígenas, afropindorâmicos olham para o céu, se relacionam, inventam, criam as suas estratégias de lutas e perspectivas. “A curadoria da exposição é feita com pessoas negras, indígenas, com povos de terreiro, ribeirinhos, então esses povos são protagonistas no processo de criação da exposição. Afropindoirâmicas se configura em uma perspectiva colaborativa, comunitária, um processo que está imbuído de trazer essas linguagens, essas outras literaturas, oralituras, porque cada perspectiva cosmológica traz uma oralitura, que são as oralidades, as poéticas orais desses povos”, explica o professor. 

Fotografia posada dos professores Alan Alves Brito e Ivânia Neves.

Para Ivânia Neves, coordenadora do PPGL/UFPA, a exposição representa um encontro acadêmico muito profícuo, pelo momento que a Universidade vive. “É um momento em que a pesquisa no Brasil começa a, de fato, remexer a ancestralidade, a ancestralidade ganha evidência. A Universidade é um espaço que já foi tão colonizado, ainda há uma reprodução do dispositivo colonial, e conseguir mostrar outras cosmologias, outros universos culturais, amplia o que é a Universidade. Estamos caminhando para uma multiversidade, com perspectivas diferentes de produzir conhecimento, de perceber, de sentir as memórias”, analisa.

Documentário e Divulgação Científica – Junto à exposição, o professor Alan Brito produziu e dirigiu um curta animado, chamado Jeguatá-Xirê. O título combina “Jeguatá” (palavra guarani para “caminhada”) e “Xirê” (termo yorubá que remete à roda, à brincadeira e ao encontro ancestral, em que o passado encontra o futuro, os mais velhos encontram os mais novos). “Esse filme de sete minutos (o número sete foi pensado como elemento importante dentro da perspectiva Yourubá), é construído em torno dos dez princípios civilizatórios africanos, afro-brasileiros, mostrando as relações céu-terra, como a gente se conecta e se desconecta do céu”, explica o professor.

O curta animado Jeguatá-Xirê está entre os finalistas do 53º Festival Nacional de Cinema de Gramado 2025, concorrendo ao Kikito, um dos mais importantes prêmios do cinema nacional. Foram 12 filmes selecionados entre 1.090 produções do país. O filme foi também selecionado em mais seis festivais, incluindo o festival Sesc de cinema, e está inscrito em festivais internacionais. Para o idealizador da exposição e do curta, as suas produções refletem também  a divulgação científica no Brasil. 

“Por muito tempo, a divulgação científica no Brasil foi baseada em uma proposta epistemológica de ciência positivista. Mas, para falar de uma divulgação científica na perspectiva africana, afro-brasileira e indígena, a gente precisa trazer outras linguagens, outras formas de sons, texturas, cheiros, pensamentos. A exposição e o filme apresentam esses outros modos de construir e de escreviver os mundos. É uma oportunidade de pensarmos a divulgação científica, de tensionar este campo, tensionar os conceitos de ciência”, afirma.

Ivânia Neves acrescenta que essas iniciativas atualizam conceitos da divulgação científica.  “A própria ideia de divulgação científica se amplia, porque, durante muito tempo, a divulgação científica era restrita ao texto escrito, não contava com o audiovisual. E trazer o audiovisual como ferramenta de divulgação vai ao encontro das nossas ideias de abarcar outras cosmologias, especialmente porque muitas delas não priorizam o texto escrito”, conclui. 

Para mais informações, acesse a página do Grupo de Estudo Mediações, Discursos e Sociedades Amazônicas (Gedai).

TEXTO: Camille Nascimento - PPGL/Gedai/UFPA

FOTOS: Shirley Penaforte

Relação com os ODS da ONU:

ODS 4 - Educação de QualidadeODS 17 - Parcerias e Meios de Implementação

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