Três teses defendidas em programas de pós-graduação da UFPA foram laureadas na edição 2024 do Prêmio Capes de Tese, organizado pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes). A premiação, que, este ano, foi recorde de inscrições, com 1.632 teses submetidas, tem o objetivo de reconhecer os melhores trabalhos de conclusão de doutorado defendidos em programas de pós-graduação no Brasil, no ano de 2023. As teses defendidas na UFPA que tiveram destaque foram das áreas de Direito, Geociências e Serviço Social.
O Prêmio Capes de Tese abrange todas as áreas de conhecimento com representatividade na avaliação da pós-graduação stricto sensu no país. Para a escolha dos estudos que serão premiados, são considerados critérios como a originalidade da pesquisa desenvolvida e a relevância da temática para o desenvolvimento científico, tecnológico, cultural e social, entre outros pontos.
Com o título Fazenda Pinheiro em Belém: história, gestão e destinação de terras de um bem provincial/estadual na transição do séc. XIX para o séc. XX na Amazônia, a tese premiada na área de Direito é de autoria de Ana Luisa Santos Rocha. A pesquisa trouxe para discussão a consolidação da propriedade moderna na Amazônia, na transição do século XIX para o século XX. De acordo com o estudo, além da política oficial de transferência de terras pela Província e pelo estado do Pará, também existiam grupos sociais que ocupavam as matas, as olarias e as margens dos rios, o que demonstra uma vivência de negação das relações de propriedade coletiva dos povos amazônicos. Defendido no Programa de Pós-Graduação em Direito da UFPA, o estudo teve orientação do professor José Heder Benatti do Instituto de Ciências Jurídicas (ICJ/UFPA) e coorientação do professor Norbert Foulquier da Université Paris I Pantheon Sorbonne, por ser uma tese produzida em cotutela de doutorado entre as duas universidades, e apoio da professora Luly Fischer (ICJ/UFPA).
“Eu estou muito orgulhosa de a minha tese ter sido premiada e por trazer esse reconhecimento para o nosso programa e para as Regiões Norte e Nordeste, quando a gente fala do campo científico do Direito, porque é a primeira vez que uma tese daqui recebe esse prêmio. E, no ponto de vista pessoal, é uma grande vitória, porque essa foi uma tese produzida no contexto da pandemia, um contexto pessoal muito difícil, o que torna esse reconhecimento ainda mais especial e significativo”, ressalta Ana Luisa Santos Rocha.
Graduada, mestra e agora doutora pela UFPA, Ana Luisa Santos Rocha ressalta que o prêmio é 100% da UFPA, em que ele está, desde 2009, aprendendo e construindo esse saber científico que, recentemente, foi premiado e reconhecido. “Quinze anos depois de ter entrado na graduação, este resultado é fruto de todo um investimento público que foi em mim, então é um grande retorno para a instituição que me acolheu e é responsável por todo esse aprimoramento do meu processo de pesquisa, profissional e pessoal também”, completa.


A solenidade de entrega do prêmio está prevista para ser realizada no dia 12 de dezembro de 2024.
Menção Honrosa – Além da tese defendida por Ana Luisa Santos Rocha, outros dois trabalhos também defendidos em programas de pós-graduação da UFPA tiveram destaque na edição deste ano do Prêmio Capes, com Menção Honrosa nas áreas de Serviço Social e Geociências.
Na área de Serviço Social, a tese laureada foi defendida, no Programa de Pós-Graduação em Serviço Social (PPGSS/UFPA), por Patrício Azevedo Ribeiro e teve orientação da professora Maria Antonia Cardoso Nascimento. Sob o título Eu vou arriscando o último palito de fósforo: Movimento Indígena e Quilombola e a Política de Assistência Social no Meio Rural Amazônico, o estudo abordou os processos de lutas dos movimentos indígenas e quilombolas em relação à defesa e ao acesso a direitos, que, muitas vezes, não estão pautados nas agendas políticas do Estado. O recorte da pesquisa focou na Política de Assistência Social (PAS).
“A referência empírica pautou-se na realidade dos Sateré-Mawé e dos quilombolas do Rio Andirá, área rural do município de Barreirinha, na sub-região do Baixo Amazonas. Entre os muitos pontos, buscamos dar visibilidade aos povos rurais da Amazônia – que, dada a sua diversidade, são indígenas, quilombolas, ribeirinhos, extrativistas, pescadores, entre outros, sobretudo porque a presença do Estado nos territórios rurais ainda é sobremaneira incipiente”, explica o autor da tese, Patrício Azevedo Ribeiro.
Para o autor, o reconhecimento, ao receber Menção Honrosa, vai para além da excelência acadêmica que sua tese apresenta, visto que é resultado de um trabalho coletivo entre a vivência na academia, em uma área que sofre com algumas dificuldades, e a vivência com os povos rurais que ainda aguardam pela criação de políticas mais justas e equitativas.
“Vejo essa Menção Honrosa como um grande prêmio para nós, da área do Serviço Social, no âmbito dos programas de pós-graduação. Imagina que, na região amazônica, os PPGs da área do Serviço Social ainda são poucos e as dificuldades para fazer pesquisas são grandes, principalmente quando precisamos sair dos centros urbanos e ir para o mundo rural, que, pela sua condição geográfica, territorial, étnica e cultural, é bem diverso. Então a premiação, de alguma forma, traz essa visibilidade para a importância da pesquisa e da produção do conhecimento nas ‘Amazônias’. É um reconhecimento não apenas pelo meu trabalho, mas também, sobretudo, pelas lutas e resistências dos povos, é o pensamento coletivo que construímos entre a Universidade e os movimentos sociais”, ressalta Patrício Ribeiro.
A outra tese defendida na UFPA que recebeu Menção Honrosa foi Evolução Crustal do Setor Sul da Província Borborema: Domínio Macururé, Sistema Orogênico Sergipano, Nordeste do Brasil, apresentada por Fábio dos Santos Pereira, no Programa Pós-Graduação em Geologia e Geoquímica, com orientação de Jean-Michel Lafon (UFPA) e Maria de Lourdes da Silva Rosa (UFS). A tese teve o objetivo de estudar a evolução geodinâmica do Sistema Orogênico Sergipano, uma faixa de dobramentos da Província Borborema situada na margem norte do Cráton do São Francisco, que abrange os estados de Sergipe, Alagoas e Bahia.
“Os objetos de estudo foram rochas ígneas e metassedimentares da parte leste do Sistema Orogênico Sergipano, nas quais realizamos estudos petrográficos, geoquímicos e isotópicos. Rochas ígneas são excelentes marcadores de eventos tectônicos, pois a sua assinatura geoquímica pode ser usada para desvendar o ambiente em que elas se formaram. Ao calibrar essas informações no tempo, com a datação de minerais acessórios (zircão, titanita etc.), é possível reconhecer reconstruir o passado mais remoto da Terra. Com base nessas duas abordagens, pudemos reavaliar o modelo de evolução geológica previamente sugerido para a área de estudo e lançar um novo olhar sobre os processos que são tradicionalmente empregados para explicar a geologia do nordeste do Brasil”, explica Fábio Pereira.
Desenvolvido ainda durante o período pandêmico, quando os recursos para a ciência estavam mais escassos e o acesso aos laboratórios era bastante restrito, o professor pôde contar com a estrutura do Laboratório de Geologia Isotópica (Pará-Iso) para realizar o estudo, com o apoio do Instituto de Geociências da UFPA, para o qual, agora, vai voltar para integrar o quadro de docentes.
“Sem dúvida, este será um grande desafio, já que o curso de Geologia da UFPA é um dos mais tradicionais do Brasil, em que grandes nomes das Geociências foram formados. Ainda assim, me sinto capacitado e motivado para contribuir com a qualificação das novas gerações de geólogos e geocientistas formados pela Faculdade de Geologia da UFPA. Pretendo trabalhar para a ampliação da infraestrutura laboratorial do instituto e contribuir com a implementação de novas metodologias analíticas, de modo a alcançar o aproveitamento máximo dos recursos da UFPA em prol do desenvolvimento da sociedade”, completa Fábio Pereira sobre os planos para o futuro, como professor da UFPA.