Compartilhar conhecimentos sobre a Língua Brasileira de Sinais (Libras) e a Educação de Surdos com estudantes de licenciatura não se trata apenas de um objetivo profissional para as professoras Giselle de Mello e Jaqueline Miranda, do Plano Nacional de Formação de Professores da Educação Básica (Parfor/UFPA), mas também um motivo de grande felicidade.
Para Giselle de Mello, docente surda que lecionou na turma de Licenciatura em Letras – Libras, ofertada em Pacajá, por meio do Plano Nacional de Formação de Professores da Educação Básica (Parfor), em janeiro de 2024, a experiência vivenciada em sala de aula foi, principalmente, de acolhimento e respeito. Como resultado, ela destaca a contribuição que os egressos dessa turma terão como educadores na sociedade, melhorando o acesso comunicacional e proporcionando uma educação mais inclusiva. “Passei as atividades para eles apresentarem em Libras, sem oralizarem, porque a Libras é uma modalidade visuoespacial, e isso é um desafio para a turma”, detalha Giselle.
A turma de Pacajá é uma das 10 turmas que iniciaram as atividades em janeiro de 2024 pelo programa, que agora contabiliza 21 turmas ativas na instituição, em 13 municípios do estado. E entre as alunas que integram essa turma, a admiração pelo trabalho de Giselle é destaque. Para Lidiane Oliveira, discente que atua como professora na zona rural há 16 anos,”nada melhor do que aprender Libras com quem tem a Libras como língua materna”.
Esse pensamento também é compartilhado pela discente Dândila Silva, que também atua com Libras. “Ela(Giselle de Mello) é uma professora muito paciente e com muita experiência na educação de surdos. Estou amando aprender com ela”, diz a discente.
Sonhos coletivos – Atualmente, quatro municípios recebem turmas de Letras – Libras do Parfor: Pacajá e Jacundá, que tiveram turmas iniciadas em 2023, e Santarém e Gurupá, que iniciaram em 2024. Em Gurupá, os discentes esperavam há muito tempo pela oportunidade de poder cursar Letras – Libras, mas a distância os impedia buscar formação fora do município em que moram e atuam profissionalmente, como destaca Jaqueline Miranda, professora surda bilíngue (Libras e Língua Portuguesa), oralizada e atuante na Educação de Surdos.
“Graças ao Parfor, a oportunidade que esperavam há anos se tornou possível. O programa não apenas tem gerado oportunidades de formação, mas também tem permitido realizações de sonhos coletivos e continuidade de outros sonhos, que serão construídos através da formação e aprendizagem que os professores discentes estão se permitindo ter agora”, diz Jaqueline.
Segundo a educadora, que é especialista em psicopedagogia institucional e mestra em Estudos Linguísticos, a convivência com pessoas surdas é primordial para que pessoas ouvintes aprendam a lidar com as barreiras sociais, principalmente em relação à comunicação e ao acolhimento em ambientes que priorizam a sonoridade.
“Senti que a experiência com a turma foi importante tanto para mim quanto para eles. Para mim, porque me fez reduzir o receio de lidar com o desconhecido (pessoas que não têm paciência com a surdez ou para interagir com qualquer outra diversidade) e entender a importância que tenho como professora e surda, um protagonismo que merece ser partilhado na formação educacional. Para eles, no que diz respeito às informações que estavam/estão processando e que, futuramente, poderão vir a usar como modelo de organização didática para trabalhar em sala de aula ou ambientes sociais”, explica.
Jaqueline destaca, ainda, a atenção e a dedicação dos alunos. “Nossa experiência foi muito boa! Conseguimos elaborar estratégias para estabelecer a comunicação entre nós e eles aprenderam a se comunicar comigo, uma pessoa surda que faz uso da leitura labial”, conta a professora.